quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Vésperas

Amanhã morro.
Deixo o quarto vazio.
Doem meus órgãos
e os meus sapatos.
Não há necessidade
de comprar um caixão
do meu tamanho.
Aproveitem
da flacidez da minha alma
e encolham meus joelhos.
Também peço
encarecidamente
que não sirvam bebida
enquanto meu corpo presente.
Posso ter uma recaída,
levantar-me com a mão estendida,
assustar os familiares
e convidados.
Sobretudo não ousem
tapar meus ouvidos
com miolos de algodão.
Quero ouvir bem claro
as mentiras e os falsos elogios.
Se por acaso
a amada chorar,
digam a ela
que a culpa toda do poeta
que só via orquídeas
no jardim alheio.
Amanhã morro.
Deixo o quarto vazio.
Doem meus órgãos
e as minhas cuecas.

3 comentários:

  1. Não, poeta não parta
    Ainda é cedo, muito cedo
    O mundo precisa de suas poesias
    E você precisa do mundo

    Se você partir
    O que será desses versos já então acostumados...

    Quando a gente abre a tela até já sabe que sua titela é prato do dia

    Vamos degustá-la com muita bebida

    Mas vamos poupar o seu peito
    Vamos embalsamar o seu coração

    Ou melhor
    Vamos substituí-lo por uma bomba mecânica ou qualquer outra explosiva coisa

    Para que você só pare a poesia quando ela se explôda

    17 Dezembro,

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  2. E quando o poeta morrer,
    engordem as cabras para a mamadeira,
    arranquem os tubérculos do pirão,
    cortem o algodão para as fraldas,
    trancem os fios da rede,

    Quando o poeta morrer,
    façam o reverso dos dias da semana,
    domingo para sábado,
    deste para sexta.
    deste chegar a segunda feira.

    Um caldo de piqui,
    uma moela de presente,
    titela de prestígio,
    um suco de cajá,

    Pronto,
    deixem o morto crescer,
    estudar e fazer tudo de novo.

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