Existe sempre um momento em que o medo
assume a desistência de um segredo
ganha corpo, ganha brilho
nos olhos de quem ama e de quem não ama
Nas frestas do dia penetra,
lobo atrás do pouco que resta
de ânimo na alma,
a água que se espalha
nos nossos pés fugidios
na réstia da porta
Ontem foi assim
amanhã será a ponta cinzenta
da lança
na margem serena da aurora
e não haverá palavra
capaz de romper a crosta
do que se avoluma
e forma a pele do dia
Quem sabe um samba possa
da voz de quem herdará a noite
tocar de leve no monstro
e lhe mostrar a saída
Ainda que numa ruptura última do samba, o poeta constrói o efeito do medo como um corpo em si. Muito mais palpável, sensível ao toque das mãos. Aquilo que a "medicalização" dos nossos tempos até poderia chamar de "síndrome do pânico", mas que na verdade continua sendo o incontrolável da existência. Mas como uma cultura que rompe o "naturalismo" dos martelos que parecem uma necessidade e o samba faz ritmo de não.
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