Lula e Dilma posam com o presidente da Coreia do Sul antes de reunião do G20, em Seul
Sete semanas. Mais sete semanas, somente sete semanas, antes de sair de cena. “Sei que um dia a ficha vai cair e aí vou ver que não sou mais o presidente”, suspirava recentemente, como em um lamento, Luiz Inácio Lula da Silva. Enquanto isso não acontece, o chefe de Estado brasileiro está bem decidido a saborear até a última gota sua última temporada no poder.
Um fim de reinado feliz, e já saudoso. Uma última volta pela cúpula do G20 para dizer adeus a seus pares. Uma popularidade no ápice. E a imensa satisfação por ter conseguido eleger sua candidata, a primeira mulher presidente do Brasil, Dilma Rousseff, que o acompanha em Seul.
E depois? Será que Lula já sabe o que o espera a partir de 1º de janeiro de 2011? Será que ele realmente conhece e admite seus desejos? Aproveitar os pequenos prazeres da vida? Sem dúvida. “Vou querer tomar um banho de mar”, previa em junho passado, “beber uma cervejinha sem que ninguém me importune e diga que o presidente está bebendo. Um filho de Deus tem o direito de beber uma cervejinha gelada na praia. E de comer um caranguejinho.”
Claro. Mas e em seguida? Mal conseguimos imaginar Lula, com boa saúde aos 65 anos, e no auge de sua glória, dividindo seu tempo de bermuda entre banhos de sol à beira do mar e churrascos com amigos no terraço de seu apartamento em São Bernardo do Campo, São Paulo. Fiquemos tranquilos, ele também não.
Ele avisou: “Não vou desaparecer da sociedade de uma hora para outra”. A vantagem de um político sobre um esportista, diz, é que ele pode durar muito tempo, desde que tenha saúde: “Um político pode envelhecer permanecendo competente, inteligente e sábio”. Não é preciso mencionar nomes.
“Não vou parar. A política está no meu sangue.” Lula dá a entender que ele seria tolo de não investir, a serviço de suas ideias, o precioso capital de prestígio e de simpatia do qual goza no Brasil e no exterior.
Ele quer “lutar como um leão” para fazer passar por uma Assembleia constituinte uma reforma que “moralize” a política, instaure o financiamento público dos partidos e introduza o sistema de listas nas eleições legislativas, federais e locais.
Uma reforma emperrada por falta de consenso no Parlamento. Ele gostaria que aderissem a sua causa seus quatro antecessores: José Sarney, Fernando Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso.
Como este último, Lula criará em São Paulo uma fundação com seu nome. Esse instituto difundirá na África e na América Latina as políticas sociais, agrícolas e energéticas conduzidas no Brasil. Então Lula percorrerá o mundo, algo que ele adora. No caminho, receberá mais de 30 títulos de doutor honoris causa que lhe foram conferidos em várias partes do mundo durante sua presidência.
Atribuíram a Lula ambições mais altas: dirigir uma organização mundial ou se tornar secretário-geral da ONU. O Banco Mundial? “Não tenho cabeça de banqueiro”, responde. Exato. Nem o estilo.
A ONU? Teria ele falado a respeito, sem sucesso, ao atual titular do posto, o sul-coreano Ban Ki-moon, provável candidato à sua própria sucessão? De qualquer forma, suas chances eram pequenas. Seu flerte com o Irã desagradou muito a Europa e os Estados Unidos. Além disso, seria ele feito para esse tipo de cargo, que costuma ser reservado a um diplomata de carreira? Como ele mesmo disse, com um toque de desdém: “Essa função deve ser ocupada por um burocrata. Não convém a uma personalidade forte”.
No Brasil, alguns desconfiam que Lula quer ser uma eminência parda junto à futura presidente, e se tornar “um poder atrás do trono”. Ele já lhes respondeu: “Minha filosofia é simples: o rei está morto, viva o rei!”. Viva a rainha, no caso. E diz ainda: “O melhor serviço que um ex-presidente pode prestar a seu sucessor é deixa-lo trabalhar”.
Logo na noite de sua vitória, em 31 de outubro, Dilma se antecipou a Lula: “Eu baterei à sua porta e estou certa de que a encontrarei sempre aberta”. Resposta do interessado: “Um ex-presidente pode sempre ajudar, dar um conselho se lhe pedirem”. Em agosto, Lula havia ido um pouco mais longe: “Se eu vir algo errado, pegarei o telefone e lhe direi: ‘Minha filha, pode fazer aquilo que não consegui fazer’.”
Hoje, Lula resume seu futuro em uma metáfora futebolística, algo que ele domina: “Dilma vai compor um governo com a sua cara. Ela selecionará o time que quiser ver jogando em campo. A bola está do seu lado. Eu estarei na arquibancada, usando minha camisa de torcedor, e batendo palma”.
E o que acontecerá em 2014, ano da Copa do Mundo de futebol no Brasil e da próxima eleição presidencial? Pedirá ele a Dilma que fique de lado para deixa-lo disputar um terceiro mandato, ao qual terá direito? “É uma tolice. Além disso, será que ainda estarei vivo? Se a Dilma governar durante quatro anos como ela sabe fazer, ela é que se candidatará. Antes mesmo de sonhar em voltar um dia ao poder, preciso contar até um milhão”.
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