sexta-feira, 31 de agosto de 2012

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quinta-feira, 30 de agosto de 2012

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quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Qual é a tua Cícero França?



Candidato a prefeito do Crato/CE
Nome completo: Cícero Bezerra França
Nome do vice: George Macário de Brito   Partido: PV
Data de nascimento: 1975
Partido: Partido Verde (PV)
Nome da Coligação Majoritária: Coligação União pelo Crato
Partidos Coligados: PV, PSDB, DEM, PTN
Formação: Direito
Profissão: Advogado

Alexandre Lucas - Quem é Cícero França?

Cícero França – Sou um cidadão brasileiro, poeta, nascido no Crato – terra da nossa heroína Bárbara de Alencar - com muito orgulho. Trago comigo o sentimento de esperança, renovação e crença nos valores da nossa gente. Cursei Direito na Universidade Regional do Cariri (URCA) e atualmente atuo como advogado da nossa querida cidade. Agradecemos este espaço pela oportunidade de expressarmos nossas ideias e o porquê de entrarmos na vida política.

Alexandre Lucas – Qual a sua história política?

Cícero França – Nossa história política começa bem antes da nossa participação na administração pública na Prefeitura. Começou com os nossos avós. O meu avô Zeba, por parte de pai, foi vereador, prefeito interino. Já o meu avô por parte de mãe, o seu Chagas Bezerra, foi uma figura muito importante na década de 50 e 60, militante de causas nobres da nossa cidade. Homem visionário, pioneiro do transporte coletivo no Crato. Fundou a Várzea Alegrense que depois passou a chamar de Rio Negro. Hoje, o seus netos dão continuidade ao seu legado nessa trajetória política. Nós efetivamente passamos a participar da vida política a partir do ano 2000, quando iniciamos como procurador fiscal, depois passamos a ser chefe de gabinete, durante três gestões, e a última participação na vida pública foi como secretário de Saúde, onde tivemos um grande aprendizado e saímos para disputar esse pleito eleitoral.

Alexandre Lucas – Por que você é candidato a Prefeito do Crato?

Cícero França – A intenção de ser candidato a prefeito do Crato, em primeiro lugar é por ser cidadão e gostar muito dessa cidade. Nós decidimos aceitar um convite do grupo que nós trabalhamos. O atual prefeito, Samuel Araripe, e todos que fazem a sua gestão nos fizeram esse convite e nós aceitamos. Como cratense é o nosso maior orgulho poder disputar as eleições para representar a nossa cidade. Por isso decidimos entrar nessa batalha e abraçar este sonho com a missão de sermos um bom gestor e apontar melhorias para o futuro do Crato. 

Alexandre Lucas – Como você avalia a atual gestão municipal?

Cícero França – Avalio como muito positiva. Uma administração que construiu e fez o básico, quando muitas não fizeram. Sanou as contas públicas e trouxe projetos que serviram de estruturação para o crescimento da cidade. Você manter o equilíbrio financeiro, realizar ações sociais e ainda cuidar da infraestrutura, não é fácil. Porque o município do Crato precisa de recursos e essa administração soube cuidar dos recursos existentes, mantendo a Folha de Pagamento em dia, mantendo as parcerias e as contrapartidas para os projetos que hoje nós vemos pela cidade.

Alexandre Lucas – Quais os desafios para a próxima gestão?

Cícero França – Nós acreditamos que os principais desafios passam pela honestidade e responsabilidade. O Crato é um município de grande porte. Consciente de que o seu gestor tem de ter um histórico e o compromisso de fazer com que a coisa pública seja organizada e planejada. Então os desafios que nós vemos para o próximo gestor é que não podemos fugir do projeto, da transparência e não podemos fugir do trabalho honesto junto à população. Principalmente ouvindo para que façamos o que é de fato prioridade para o município.

Alexandre Lucas – Quais as diretrizes políticas do seu plano de governo?

Cícero França – Nós fizemos questão de fazer um plano de governo e colocamos as principais metas que aprendemos com a experiência ao longo desses 12 anos de administração pública. As diretrizes que colocamos para o nosso Plano de Governo são aquelas que vão favorecer e motivar a população cratense. Vamos trabalhar e ampliar o acesso à saúde, fortalecer a cultura, multiplicar as ações da educação, possibilitando à população o acesso à educação integral, trabalhar para gerar emprego e renda, fortalecendo o mercado já existente. Investir em saneamento, assim como em ações que priorizem o equilíbrio sustentável. É nosso compromisso atuar em consonância com as políticas de sustentabilidade defendidas pelo Partido Verde.

Alexandre Lucas – Qual será o critério de escolha do secretariado numa futura gestão do senhor?

Cícero França – O Crato tem excelentes profissionais, técnicos, pessoas que conhecem a realidade da nossa terra. Nós já temos a experiência de como organizar as ações que vão dar resultados para a população. Então o critério que nós utilizaremos para compor a administração pública municipal são as pessoas que já têm um histórico de contribuição para com o município do Crato, pessoas que possuem um passado limpo e que atuem com honestidade em suas ações, cidadãos que possuam um trabalho técnico a sensibilidade para trazer dentro dos seus planos o melhor para nossa cidade.

Alexandre Lucas - Como o senhor avalia a atuação da Secretaria de Cultura, Esporte e Juventude?

Cícero França – Inicialmente temos de falar do exemplo que o Crato deu ao criar a Secretaria de Cultura, Esporte e Juventude. Um feito inédito na história política da nossa cidade. Através da criação desta pasta foi possível implantar o Plano Municipal de Cultura, dando suporte às ações culturais da cidade. Esse novo sistema viabilizou a instalação do Conselho Municipal de Cultura e o Fundo Municipal de Cultura, dois importantes órgãos onde as pessoas se reúnem para pensar como os recursos serão aplicados para desenvolver ações voltadas para a cultura. A Secretaria de Cultura resgatou e implantou importantes ações como o Festival Cariri da Canção, valorizou e apoiou os mestres da Cultura, criou o Abril Pra Juventude, e passou a promover o Doce Natal que mobiliza centenas de famílias da nossa cidade durante o período natalino. Um evento importante que resgata o espírito de solidariedade nas pessoas. Então a avaliação que nós fazemos sobre a Secretaria de Cultura é positiva. Contribuiu efetivamente para que cada cidadão sinta-se estimulado e à vontade para desenvolver a Cultura do nosso município. Todos esses empreendimentos trouxeram desenvolvimento e avanços significativos para o setor cultural.

Alexandre Lucas - Pretende manter alguma ação da atual Secretaria da Cultura, Esporte e Juventude?

Cícero França – Com base nos bons resultados apresentados pela Secretaria de Cultura ao longo de sua existência é que nós pretendemos manter as ações apresentadas e ampliar a participação do coletivo de artistas e da população a fim de fortalecer e tornar o nosso Cratinho cada vez mais um recante das artes. Porque nós acreditamos que todas as ações ações que foram apresentadas, elas só trouxeram o benefício para nossa Cultura.

Alexandre Lucas – Quais as diretrizes políticas que o senhor defende para a Cultura?

Cícero França – Nós temos como diretrizes as políticas de incentivo. É através dessa medida que os artistas terão suporte e financiamento com o apoio de nossa gestão para suas atividades. A democratização se torna também uma das nossas prioridades para que os artistas possam opinar e atuar em parceria junto conosco. Tudo isso possibilitará a nossa Cultura alcançar novos horizontes, mostrando País afora o quanto o Crato é detentor de um caldeirão cultural. Pretendemos ainda assegurar a todos os artistas da nossa cidade o acesso a qualquer evento realizado aqui, bem como estender essa acessibilidade à população.

Quais as propostas que o senhor pretende desenvolver para a Cultura?

Cícero França – No nosso Plano de Governo nós defendemos propostas viáveis para a Cultura, como, por exemplo, a criação de uma política de editais para ocupação de equipamentos e o incentivo às artes. Esta seria uma forma de democratizar e ampliar o acesso aos espaços públicos. Para isso nós vamos trabalhar para estruturar esses locais. Através deste mecanismo nós objetivamos o planejamento por parte dos artistas para concorrer aos recursos. Com a criação do Núcleo de Projetos nós visamos a descentralização da Cultura, para que se possa atrair os diversos segmentos da nossa cidade. Essa descentralização contará também com o apoio da Educação. As escolas funcionarão como base de apoio para que as nossas manifestações sejam compartilhadas e relacionadas com os distritos. Em relação às Artes Visuais pretendemos resgatar o Salão de Maio e dar continuidade ao Salão de Outubro, que são duas ferramentas importantes para nossa Cultura.

Como pretende manter o diálogo com os artistas?

Cícero França – A nossa comunicação junto à classe artística do nosso município acontecerá de modo permanente por meio do Conselho Municipal de Cultura. Através das conferências, das audiências públicas, dos fóruns que iremos desenvolver nos diversos espaços do nosso município. Isso fará com que a contribuição direta dos artistas e da população realmente nos dê o direcionamento como também a responsabilidade de fazer as ações que sejam adequadas para a realidade do nosso município.

Qual será a sua política para preservação do patrimônio histórico, arquitetônico, cultural, natural e artístico?

Cícero França – Nós vamos defender tanto o patrimônio material quanto o imaterial. Na questão do patrimônio material nós pretendemos fortalecer os tombamentos com a participação do Conselho e da população. Analisando o valor histórico de cada prédio e vendo a sua contribuição com acervo arquitetônico do nosso município. Já em relação ao nosso patrimônio imaterial, que nenhuma outra cidade tem, nós vamos junto aos mestres da Cultura viabilizar a criação de leis municipais que garantam auxílio financeiro para eles, vamos lutar para que as expressões culturais sejam fixadas no convívio do município do Crato.
  

Tudofel: Praça Cristo Rei

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terça-feira, 28 de agosto de 2012

Tudofel: Pegadinha versus pé ligeiro

Tudofel: Pegadinha versus pé ligeiro: Prezadíssimos leitores, estamos mesmo no fim das eras. A considerar a falta de ética, a esculhambação reinante e o péssimo e duvido...

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Tudofel: Miró versus Patativa do Assaré

Tudofel: Miró versus Patativa do Assaré: Madrugada insone. Tela de tv impaciente. Sucedem-se os canais ao sabor do dedo nervoso que zapeia incontinente. Madrugada desinteress...

Candidatos a prefeito do Crato são convocados a assinar documento de compromisso com a cultura


Os Comitês dos quatro candidatos foram notificados sobre o Ato de Assinatura da Carta.

Companhias teatro e de dança, coletivos, bandas, arte-educadores, estudantes dos cursos de artes, artistas e ativistas, ligados a Rede Misturados estão convocando os candidatos a prefeito da cidade do Crato: Cícero França, Marcos Cunha, Ronaldo Gomes de Matos e Sineval Roque para assinarem “Carta Compromisso com a Cultura”, nesta segunda-feira, 27, às 19h00, no Teatro Rachel de Queiroz. 

O movimento faz parte de uma campanha nacional sugerida pela Frente Parlamentar em Defesa da Cultura que propõe uma plataforma política para as eleições municipais. A carta é um compromisso do futuro gestor com resoluções e diretrizes que dizem respeito as politicas permanentes para cultura que foram aprovadas em Conferência Nacional e Municipal de Cultura, dentre outros pontos. 

Os artistas acreditam que desta forma estão provocando o debate sobre políticas públicas para a cultura e demonstrando a necessidade do setor ser visto como fundamental para desenvolvimento da cidade.

domingo, 26 de agosto de 2012

O intelectual é um urubu


Um bolo de rolo com o premiado padre-poeta Daniel Lima

por Ronaldo Bressane

"O que faço é uma bosta”, disse o velhinho, arregalando os olhos. Ergueu de leve o pescoço ao tentar se elevar da poltrona verde onde afundava, pés descalços estendidos no pufe, num apartamento no bairro da Torre, no Recife. Sua voz estava trêmula, baixa e suave: acabara de retornar do hospital, onde se recuperava de uma pneumonia. “Logo de manhã você não sente a própria bosta? Fiz muita bosta nessa vida. Mas não ria, não, porque foi bosta da boa.” Referia-se ao seu volume de Poemas, editado no fim de 2011 e premiado pela Biblioteca Nacional. Era o primeiro livro que publicava em 94 anos.

“Você tem minha bênção para escrever bosta”, autorizou Daniel Lima, padre, professor de teologia, latim e filosofia. Vestia uma camisa listrada clara e óculos de lentes fundo de garrafa que serviam de anteparo ao olhar intenso de espanto perpétuo. “Tem bolo de rolo lá em São Paulo?”, perguntou, oferecendo uma fatia finíssima do mais famoso quitute pernambucano (depois das empadinhas de Garanhuns).

Uma longa tosse escavava sua voz fraca. Quem falava mais eram a escritora Luzilá Gonçalves e a bibliotecária Célia Veloso, fiéis companheiras do padre. Foram elas as responsáveis pela publicação dos Poemas, de modo quase clandestino: até os 90 anos, Lima era notório por fazer livros cujo único exemplar emprestava a um amigo e tomava de volta depois de um ano. Nunca quis publicá-los, por achar que era vaidade de intelectual, coisa que o horrorizava.

“O intelectual é um urubu/ que se julga vestido/ mas que está nu/ com uma pena de pavão/ enfiada/ no cu”, diz um de seus mais conhecidos poemas, recitado de cor pelas centenas de alunos que passaram pelas anárquicas aulas na Universidade Federal de Pernambuco. Célia datilografou os livros – catorze de filosofia e treze de poesia –, de nomes como O Cocô de Herodes, Deus de Anarquia, Instruções para Dom Quixote e Da Teologia ao Rol de Roupa.

Luzilá publicou a seleta em edição caprichada, sem avisar o padre. O júri da Biblioteca Nacional se impressionou com a poesia metafísica, de linguagem direta e despida de pompa, alimentada por humor leve e exaltação à vida e gozação com a Moça Caetana, que é como chamam a morte no sertão. O prêmio de melhor livro de poesia de 2011 não mudou a convicção de Lima. Ele chamou Luzilá de “traidora” e, no dia do lançamento, fechou a cara para todo jornalista que o procurasse.

Afora os escritos datilografados zelosamente por Célia, ainda há em sua casa dezenas de outros poemas e ensaios inéditos. Neles, o repúdio à vaidade e o flerte com a escatologia são recorrentes: “Deixa, Senhor, que eu blasfeme/ na danação desta hora./ Preciso ser maldito/ para sentir-me salvo.” Ou pequenas epifanias surrealistas: “Engarrafar o luar e sair por aí viajando/ de camisa listrada, sossega leão, sandálias japonesas,/ ai! meu louco sonho!/ A vida é essa mistura de flores e toucinho./ Estou bêbado de tanta leitura./ Quando voltarei de novo a ser gente?/ Queria ser agora apenas daniel (assim com d pequeno, bem pequeno).”



 miúdo padre educou gerações de pernambucanos ilustres. Sua turma de amigos incluía Ariano Suassuna, Paulo Freire e dom Hélder Câmara, que o chamava de “meu padre meio doido e meio gênio”. Genioso, Daniel Lima nunca teve paróquia, abominava freiras e beatas e era notório por ter soltado os pássaros raros do viveiro do padre Sidrônio, em Olinda – um escândalo.

Tinha hábitos incomuns, como telefonar aos amigos de madrugada para discorrer sobre molho inglês, usar peruca para sair incógnito na rua, fritar ovo com óleo de peroba e cozinhar bife no ferro de passar. Jogava giznos alunos indisciplinados, fingia-se de doente para pegar carona em ambulância e, certa vez, para atestar que estava à beira da morte e conseguir uma licença da universidade, pediu emprestadas as fezes e a urina de um mendigo para forjar os exames. “Eu fazia isso?”, riu o padre, reagindo a mais uma anedota contada por Célia e Luzilá.

Ele tinha também costumes perigosos, como soltar bolinha de gude na rua para fazer derrapar os cavalos dos soldados, esconder estudantes perseguidos pela ditadura e criticar os militares em suas aulas na Federal. Detido para interrogatório, passou um dia todo ensinando estética a um sargento. Abusava da amizade com o general Antônio Carlos Muricy, cujo casamento havia oficiado, e lhe pedia que soltasse esse ou aquele militante.

Mas suas atividades incomodavam – e não era só porque defendia apaixonadamente a teoria da evolução nas aulas de teologia. Um amigo próximo, o padre Antônio Henrique Pereira Neto, foi mutilado, castrado e assassinado em 1969 pelo Comando de Caça aos Comunistas. Em seu bolso havia uma lista de nomes: o primeiro era o de Lima. Foi aconselhado a fugir. “Armei na cama um corpo feito de travesseiros, pus uma cabeça de coco e viajei para Natal”, contou. “Voltei uma semana depois: o telhado estava quebrado e a cama, toda atravessada por balas. Não sobrou nada do coco.”

O padre não queria que Luzilá publicasse outro livro seu. “Quando o cabra começa a falar muito nele mesmo, fede”, justificou-se. “Quase todos os intelectuais são assim: me dá abuso. E tem gente que veste casaca de escritor e até fede que nem escritor, mas não é escritor.” Leitor aplicado de Drummond, Mann e Cervantes, Lima disse que manter seus poemas inéditos foi “um ato enviesado de vaidade”. “Foi meu jeito de brilhar sem dar na vista”, completou, após mais um demorado acesso de tosse.

Mesmo assim, logo deve sair uma seleta de seus poemas fúnebres, os Sonetos Quase Sidos, com forte influência de Augusto dos Anjos: “Quando morreres ou te matares,/ come-te a ti mesmo com batatas/ e ervilhas (e um pouco de molho inglês)./ Comemora-te, ó imortal mortal:/ a tua morte bem merece/ o que a tua vida não valeu.” Daniel Lima foi poupado do dissabor de ver publicado mais um volume de poemas. Em 14 de abril, a Moça Caetana levou para sempre a verve diabólica e o sorriso infantil do religioso anarquista.

Fonte: http://revistapiaui.estadao.com.br/edicao-68/esquina/o-intelectual-e-um-urubu

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Tudofel: Visita a Tomás: Acordei cedíssimo e com um propósito: visitar meu neto, Tomás, em Barbalha. As oito já estava pegando um ônibus, com Talita e Paulo. Em J...

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Metais Pesados


Juju Bemtevi posou de delegado em Matozinho, por muitos e muitos anos, quando do reinado dos Cangatis. Lá tinha sido colocado como elemento da mais inteira confiança pelo  grande chefe político local: o Coronel Pedro Cangati. Juju nascera praticamente dentro da casa do Coronel e sempre fora um dos mais  emperdenidos baba-ovos do chefe. Pedro mandava e desmandava na política local há quase quarenta anos e tinha a habilidade de encaixar, nos devidos escalões da administração, pessoas da sua mais completa obediência.  Juju bramia com sua voz portentosa, ensaiava autonomia  e brabeza, mas sempre fora um mero pau mandado do Coronel. Todo final de semana, junto com o destacamento pequeno de dois soldados, prendia alguns acusados de crimes menores: embriaguez e desordem, ladrões de galinha, valentões. Tinha uma predileção toda especial – sabe-se lá por quê— pelos adversários históricos dos Cangatis.  Na segunda-feira – já se tornara uma obrigação – Pedro adentrava a delegacia e visitava um por um os detentos. Fazia cara de estranheza e revolta, dava o maior esporro no delegado :
                                               --- Tá ficando doido, Juju? Seu irresponsável ! Como é que prende uma pessoa de bem como essa!  Você é que devia estar na cadeia, miserável!  Solte imediatamente este cidadão de bem, jóviu?
                                               Os presos , libertos, saiam com uma gratidão eterna ao prefeito. Nem percebiam que ali estavam dois ótimos atores em cena : Juju e o Coronel. O Cangati sabia, com seu faro político aguçado, que a liberdade é o maior bem que alguém pode ofertar a outrem. Nas eleições subseqüentes, aqueles eram votos garantidíssimos.
                                               Juju, por outro lado, carregava consigo , ainda, uma enorme parcialidade nos inquéritos policiais. Amigos dos Cangatis não podiam ter falhas nem cometer ilícitos. Inimigos políticos, nem precisavam aparentar defeitos: Juju se encarregava de encontrá-los!  Como ? Há artimanhas dignas de Pedro Malasartes, no nosso Bemtevi.
                                               Certa feita,  Juju soube de uma discussão em uma bodega da vizinhança. Nonato, o proprietário, se desentendeu com uma senhora chamada Ester e que havia comprado umas broas há uns dois meses e nunca mais viera saldar a pendura. Os dois bateram-se na feira e estabeleceu-se uma discussão danada, com impropérios cuspidos lado a lado, cutucados por uma turba, que aos gritos, como torcida de futebol, ia dando corda de um lado e de outro. Juju ouviu, da delegacia , o arranca-rabo que já se espalhara até a porta do estabelecimento.  Partiu célere para lá com seu exército de Brancaleone.  Interessava-se, principalmente, por conta dos dois serem adversários ferrenhos dos Cangatis. Levou-os presos, sem qualquer possibilidade de defesa. Em lá chegando, o escrivão começou a lavrar a ocorrência. Como enquadrá-los no Código Civil ou Penal? Um bate boca de meio de rua ! Pediu a ajuda do delegado, após tomar o depoimento dos dois réus. Não seria mais sensato liberá-los? Aquilo se tratava de um mero problema pessoal, uma dívida de bodega! Juju fincou pé e disse que não : haviam cometido um crime hediondo !
                                               --- Crime hediondo, seu delegado? Como? Pois então me diga, aí, como indicio Ester e Nonato, em que crime, meu senhor ?
                                               --- Não tá vendo, não , seu abestado? Tá na cara ! Os nomes dos dois já denunciam tudo : Ester e Nonato. Artigo 171 :  ESTELIONATO !
                                               De uma outra feita, Giba das Melancias , um feirante de Bertioga, foi denunciado por ter, aparentemente, roubado uma pata do terreiro de  Felinto Cassundé. O velho dizia que havia pego Giba com a mão na massa. Ele amarrara uns milhos num cordão e oferecera à  pata de estimação de Cassundé. Quando a ave engoliu os milhos, ele puxou o cordão, pegou a pata e caiu no gramear. Havia sido denunciado pelo quá-quá-quá-quá do bicho e Felinto jurava de pé  junto que era de Giba o vulto que viu se escafedendo noite adentro. Havia agravantes e atenuantes na questão. Felinto era amicíssimo dos Cangatis e nosso feirante  tinha língua de trapo  e vivia eternamente pinicando o oratório do Coronel Pedro. O inquérito policial, aberto, dificilmente poderia beneficiar Giba. Não deu outra! Apareceram muitas testemunhas assegurando a veracidade do roubo  perpetrado por “Das Melancias” e Juju mandou, imediatamente, indiciá-lo.
                                               O escrivão, confuso, pediu que o delegado especificasse o artigo. Aquilo , mesmo se se tratasse de um furto, perfazia de uma questão menor, passível de libertação imediata do réu:
                                               --Um roubo de uma pata? Ora me poupe , seu Delegado !                   
                                               Juju, de seu lado, cuspiu fogo:               
                                               --- Prisão que nada !  O réu é inimputável, seu escrivão! Quero que seja encaminhado imediatamente ao manicômio judiciário da capital !
                                               O escrivão não conseguia entender uma loucura daquelas:
                                               ---  O roubo de uma pata, seu delegado? Manicômio judiciário ? O senhor tá doido, tá ?
                                               --- Manicômio , sim, seu escrivão! Eu tenho é trinta anos nas barras dos tribunais. Roubou uma pata ? Pois é! Esse Giba só pode ser um PsicoPATA ! Recolhe !
                                               Semana passada, Bemtevi deixou claro que tinha dois pesos e duas medidas. O Capataz do Coronel Pedro Cangati teve uma desavença com um Caxeiro Viajante que , segundo a versão do capataz, andou se enxerindo para sua esposa . O Capataz seguiu os primeiros sussurros da vila e, não quis saber. Sapecou uns cinco tiros , a queima roupa, no nosso viajante que, naquele mesmo momento, empreendeu uma viagem mais longa e com passagem só de ida.
                                               Fez-se um furdunço danado em Matozinho. Bemtevi , de repente, viu uma enorme batata quente cair-lhe às mãos. O assassino se escafedeu. A opinião pública horrorizada pedia justiça. O Coronel, por sua vez, pressionava o delegado para minimizar o acontecido no inquérito. Não queria ver, de nenhuma maneira, seu capataz condenado. E cabeça de juiz e bunda de menino  é como cabeça de mulher, dizia ele: ninguém sabe o que vai sair lá de dentro. À noite, com a solidão como cúmplice, Juju convocou o escrivão e ordenou que colocasse como Causa Mortis :  Intoxicação! O escrivão não acreditou no que estava ouvindo:
                                               --- Tá ficando louco, delegado? Intoxicação ? Com essa ruma de buracos de bala pelo corpo ? intoxicação de quê ?
                                               Juju, de lá, mostrou seus conhecimentos inequívocos de Medicina Legal :
                                               --- Intoxicação Aguda por Chumbo !

J. Flávio Vieira

Tudofel: Confederação dos Cariris – Encontro dos Grupos Art...

Tudofel: Confederação dos Cariris – Encontro dos Grupos Art...: Já não tenho mais aquela memória primorosa de outrora. Mas algumas lembranças teimam em permanecer neste cérebro que já dá os primeir...

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Tudofel: À boa memória do poeta Wilson Bernardo

Tudofel: À boa memória do poeta Wilson Bernardo:   Wilson Bernardo, que foi ator do Grupo Improviso Ação (GIA), que sempre foi poeta e que ultimamente vem se destacando como fotógr...

Tudofel: À boa memória do poeta Wilson Bernardo

Tudofel: À boa memória do poeta Wilson Bernardo:   Wilson Bernardo, que foi ator do Grupo Improviso Ação (GIA), que sempre foi poeta e que ultimamente vem se destacando como fotógr...

Qual é a tua Marcos Cunha?


Entrevista concedida pelo Candidato a prefeito na cidade Crato/CE, pelo Partido dos Trabalhadores – PT, Marcos Cunha. 
     
Nome completo: Francisco Marcos Bezerra da Cunha
Data de Nascimento: 15.02.1953
Nome do Vice:   Pedro Lobo Neto        
Partido: PARTIDO DOS TRABALHADORES DO CRATO - PT  

Formação: I- Atividades Políticas
  • Presidente do Centro de Cultura Inglesa (CCI), no Colégio Salesiano de Juazeiro do Norte (1967-68)
  • Presidente do Grêmio Lítero Esportivo Farias Brito, Colégio Diocesano do Crato (1969-70)
  • Orador da União dos Estudantes do Crato – UEC (1969-70)
  • Presidente do Partido dos Trabalhadores do Crato – PT Crato
  • Secretário Geral do Partido dos Trabalhadores do Crato – PT Crato
  • Coordenado da Secretaria de Formação Política do Diretório Estadual do PT
  • Presidente da Associação dos Profissionais de saúde do Crato – APROSC
  • Diretor do Centro Médico Cearense
  • Diretor do Sindicato dos Médicos do Ceará
  • Candidato à Prefeito do Crato pelo PT (1988)
  • Coordenador da Campanha Lula Presidente no Sul do Ceará (1989)
  • Candidato à Vice-prefeito do Crato pela coligação PMDB-PT-PSB-PCdoB (1992)
  • Militância do PT Paraná (1993-1996)
  • Militância no PT Crato (desde 1997)
  • Candidato a prefeito do Crato (2012)
                  II- Atividades Médicas

  • Graduado em Medicina - Faculdade de Ciências Médicas de Pernambuco – FESP (1978)
  • Internato em Medicina – Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro – RJ (1977)
  • Residência Médica em Neurologia – Santa Casa de Misericórdia do RJ – Serviço dos Professores Abrahão Akerman e Nunjo Fynkel (1979-80)
  • Residência Médica em Medicina Interna – Hospital Geral de Fortaleza (1981)
  • Médico Contratado da Secretaria de Saúde do Estado do Ceará – Centro de Especialidades Médicas do Crato (1982)
  • Médico Concursado da Secretaria de Saúde do Estado do Ceará – Centro de Especialidades Médicas do Crato (1983-1992)
  • Residência em Neurologia R4 (Doenças Neuromusculares: eletroneuromiografia e patologia de músculo e nervo) – Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Paraná (1993)
  • Médico Concursado em Eletroneuromiografia - Universidade Federal do Paraná (1994)
  • Mestrado em Neurologia -  Universidade Federal do Paraná (1994-1995)
  • Doutorado em Neurologia – Universidade Federal do Paraná (1996-1997)
  • Coordenador do Ambulatório de Doenças Neuromusculares do Serviço de Neurologia do Hospital Universitário Professor Walter Cantídio – Universidade Federal do Ceará (1996-2010)
  • Neurologista Consultor do Centro de Referência Nacional em Dermatologia Sanitária Dona Libânia, Fortaleza, Ceará (1997-2010)
  • Pesquisador do Conselho Nacional de Pesquisa – CNPq (desde 1996)
  • Professor Substituto em Neurologia da Universidade Federal do Ceará (   )
  • Professor Adjunto de Neurologia da Universidade Federal do Ceará na Faculdade de Medicina do Cariri – Barbalha (desde 1998 )
  • Coordenador do Internato de Clínica Médica da Faculdade de Medicina do Cariri – UFC no Hospital São Francisco do Crato (desde 2005)
  • Coordenador da Residência de Clínica Médica da Faculdade de Medicina do Cariri – UFC no Hospital São Francisco do Crato (desde 2009)
  • Médico neurologista com consultório na Policlínica Cirandinha, no Crato (1982-1992)
  • Médico Neurologista na clínica Dr. Antônio Gesteira (desde 1997)
Profissão: Médico especialista em Neurologia e Neurofisiologia Clínica

Alexandre Lucas - Quem é Marcos Cunha? E qual a sua história política?

Marcos Cunha - Meu pai, Francisco Almir da Cunha, é filho de Caririaçu; minha mãe, Maria Sônia Bezerra da Cunha, filha do Crato. Casados foram morar em Vitória do Espírito Santo. Lá eu nasci, primogênito, no dia 15 de fevereiro de 1953 – domingo de carnaval. Meu primeiro ano de vida passei em Vitória. Meus pais retornaram ao Crato em 1954.

Em 1960, meu pai desaparecido, fui morar em Goiânia com minha mãe. Meus dois irmãos ficaram sendo criados pelos meus avós José Lindolfo Bezerra de Menezes e Ana Teixeira Férrer (Sinhara). Minha mãe tinha uma lavandaria e eu recebia e entregava roupas. Estudava no Grupo Escolar Rui Barbosa, na Avenida Goiás. Era aluno regular, dedicado e com bom aproveitamento. Com nove anos, eu andava a cidade inteira.
Desde muito cedo trabalhei. Minha mãe tinha uma lavandaria e eu recebia e entregava roupas. Aos sábados, eu assumia a freguesia da lavagem de roupas e ainda exercia  uma outra profissão: engraxava sapatos. Iniciei minhas atividades políticas no movimento estudantil ainda Goiânia na Era Jango Goulart e na resistência ao Golpe Militar de 1964. Fazia parte do Centro Estudantil Secundarista Goianiense, um grupo de militantes ligados ao Partido Comunista de Goiânia. Ficamos nesta cidade até o final setembro de 1966, quando retornamos para o Crato.

Estudei no Colégio Salesiano. Fundamos um grupo de debates: o Centro de Cultura Inglesa. Com o incentivo e apoio do Prof. José Bezerra, fazíamos julgamento e discussões de personagens históricos e temas públicos. Eram famosas essas reuniões.

No início de 1968, me matriculei no Colégio Diocesano e falei com o Mons. Montenegro, então diretor daquele educandário. Ele conhecia bem a história e a luta de minha mãe. Fiquei trabalhando no Colégio, tendo como pagamento a mensalidade da escola.

Trabalhei no Colégio Madre Ana Couto, através da Madre Feitosa, que me convidou a ser professor do Curso de Admissão ao Ginásio. Eu Ensinava as matérias básicas da prova: português, matemática, história e geografia. Era um "dinheirinho" bom que ajudava nas despesas da família. Também, no início dos anos 70, fiz um Treinamento na Fundação Padre Ibiapina para Alfabetização de Adultos, no recém-criado MOBRAL. Foram experiências e vivências mágicas e que marcaram minha vida para sempre.

Um grupo teve a idéia de reativar o Grêmio Lítero-Esportivo Farias Brito do Colégio Diocesano. Estávamos em plena Ditadura Militar, a caminho da fase mais pétrea da repressão. A duas primeiras Diretorias foram formadas sob a minha presidência ao lado Maurício Almeida Filho, vice. Semanalmente tinhamos dois jornais murais de grande repercussão no colégio: "Visão Jovem" e o "Realista".

Na Colação de Grau, escolhido como orador da turma, fiz um discurso simples e objetivo com críticas ao Regime Militar e Instituições aliadas na Festa de Formatura no Crato Tênis Clube. Grandiosíssima festa! No dia seguinte, logo cedo da manhã, o delegado Cel. Osmar de Oliveira Lima, me acordou na casa dos meus avós e insistiu que eu entregasse o discurso. Eu recusei e ele me levou para a cadeia do Crato, onde permaneci detido o dia inteiro. Em nenhum momento sofri agressão física. Apenas a pressão psicológica e insistência para que eu entregasse o discurso. Tive que voltar outras vezes para ser interrogado pela Polícia da Repressão Militar.

Aquela situação foi se agravando e por orientação de amigos eu tive que ir para Fortaleza. Novamente troquei trabalho, moradia e alimentação por estudo no Colégio Marista. Trabalhei na mecanografia, na secretaria e como professor de História da Escola Noturna que era um projeto do Colégio para  as pessoas de baixa renda. Fazendo o 1º ano Científico, já estudava para o Supletivo do 2º Grau. Em junho de 1970 fiz provas e consegui aprovação.

Em setembro de 1970, me transferi para o Recife. Novamente fui detido e investigado porque eu tinha uma relação pessoal com o Pe. Henrique, salesiano que fazia parte da resistência contra a ditadura militar e fora assassinado em Recife.

Em 1972, fui aprovado para o Curso de Odontologia e no Ciclo Básico de Biociências, que reunia todos os Cursos da Área de Saúde. Em 1973 ingressei no Curso de Medicina na Universidade Estadual de Pernambuco. Daí para frente, meu irmão, Roberto Lindolfo foi para o Recife sendo aprovado no Curso de Odontologia. Posteriormente, minha mãe e meus irmãos, Jorge Ney, Diassis e Daniel (sendo estes dois últimos adotivos) montamos um pensionato no Recife. Jorge passou no vestibular de Odontologia e Daniel, em Medicina, hoje ele é neurocirurgião e professor Adjunto da Universidade Federal de Santa Catarina.

Terminei o curso de medicina no final de 1978. Apenas colei grau em Recife, pois todo o Internato Médico, o 6º ano, já tinha ficado na Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro. Fui o orador da nossa turma. O tema central do discurso foi uma dura crítica aos "Os dez anos da Reforma Universitária".

Em 1978, o Brasil conquistava a "Abertura Política". Na época as instituições médicas, como o Conselho Federal de Medicina, a Associação Médica Brasileira e os Sindicatos Médicos eram dirigidos e controlados por pessoas simpatizantes do Regime Militar, com boas e raras exceções. Eu participei do movimento sindical "Renovação Médica", como representante dos Internos da Medicina do Rio de Janeiro, na articulação de uma Nova Política Médica. Daqui sairiam grandes lideranças que seriam importantes no Movimento Pró-Formação do Partido dos Trabalhadores.

Retornei ao Crato, após Internato e a a conclusão deResidência Médica em Neurologia no Rio de Janeiro, em fevereiro de 1981. Logo conheci Ronald Albuquerque, Expedito Guedes, José Francisco, "Seu" Osvaldo, Hermano Roldão, Roberto Oliveira e Assunção (Maria Ferreira de Alencar). Não participei da reunião de criação da Comissão Provisória do PT – Crato. Entrei depois da formação. Naquela época, o PT cabia num fusca. Nào mais que isso.

Na eleição de 1988, o PT despolarizou a política da cidade, antes restrita aos grupos remanescentes do PSD e UDN. Foi criado um espaço para as discussões no campo democrático e popular com uma representação já importante de votos. Elegeram-se dois vereadores: Ronald Albuquerque e Expedito Guedes.

Em 1989, como coordenador no Cariri da 1ª. Campanha à Presidência da República, trouxemos Lula ao Crato para grande comício na Praça da Sé. Do Juazeiro ao Crato fizemos uma carreata, até a residência de Dona Benigna Arraes (mãe do governador Miguel Arraes), no início da Dr. João Pessoa. Daí saimos em caminhada pela Dr. João Pessoa para o maior comício que nossa cidade realizou na Praça da Sé. Estavam presentes o Governador de Pernambuco, Dr. Miguel Arraes, o Senador Mansueto de Lavor, Parlamentares do Ceará e Pernambuco, lideranças dos diversos segmentos da sociedade e eleitores da cidade e dos distritos. Após o comício Lula e Arraes viajaram para encerrar a campanha presidencial em Recife.

Em 1992 o PT apresentou a minha candidatura para vice-prefeito do Dr. Raimundo Bezerra. Foi uma experiência fantástica trabalhar com um político tão importante como ele. Determinado, muito articulado politicamente, com um pensamento ideológico definido e claro, um verdadeiro manancial de idéias para o município. Pessoalmente, aprendi muito com Dr. Raimundo Bezerra. Dos deleites de uma cervejinha na sua mesa ao lado geladeira, à coragem política.

Em 1993, eu minha família fomos morar em Curitiba. Ali permanecemos pelos quatro anos seguintes. No Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Paraná, sob a orientação do Prof. Lineu César Werneck fiz Mestado e Doutorado em Neurologia. Lá participei e fiz militância nas campanhas do PT, ao lado do Deputado Edésio Passos. Completados meus estudos e retornei ao Crato. Nesse novo período, concursado pela Universidade tive que dividir meu trabalho entre Fortaleza e o Crato. Na época ainda não havia sido criada a Faculdade de Medicina do Cariri (extensão da Universidade Federal do Ceará – UFC). Permanecia no Crato de domingo a quarta-feira e em Fortaleza quinta e sexta-feira. Seriam 13 anos nesse vai e vem , um percurso mensal de cinco mil quilômetros até janeiro de 2010 . Foi uma experiência interessante! Hoje sou Professor-Adjunto de Neurologia da UFC em Barbalha.

Alexandre Lucas - Porque você é candidato a prefeito do Crato?

Marcos Cunha  -  O Crato é uma cidade maravilhosa. Eu posso não ter nascido nela, mas me orgulho de coração por morado e vivido na Vila de Frei Carlos mais de 40 anos da minha vida. Digo por onde ando que sou daqui. E tenho o maior orgulho disso. No Crato eu me casei, criei meus filhos, trabalho e vivo o melhor da minha vida. Aqui me sinto parte dessa terra e ficarei o resto dos meus dias. Trabalho como professor universitário, faço neurologia e neurofisiologia clínica (Clínica Neurológica, Eletroneuromiografia e Eletrencefalograma) e continuo minha a militância política no PT. Percebo, claramente, que a melhoria da saúde da população está diretamente ligada à ação política , assim quando exerço minha atividade política estou apenas ampliando a possibilidade de minorar o sofrimento e aumentar o bem estar do meu povo , que no fundo são os mais nobres objetivos da Medicina.

Alexandre Lucas - Como você avalia a atual gestão municipal?

Marcos Cunha  - A Gestão Municipal do Dr. Samuel Araripe dos últimos oito anos, com uma base de apoio, de quatro anos no Governo de Walter Peixoto, não teve um Projeto de Governo definido de forma ampla e desenhado previamente. As ações foram realizadas de formas pontuais. A comunidade cratense, da cidade e da zona rural não foi convocada para dar base social ao governo e participar de forma efetiva das ações do governo municipal.  

Alexandre Lucas - Quais os desafios para a próxima gestão?

Marcos Cunha  - O primeiro desafio é o político. Precisamos elevar a auto-estima do cratense, criando a perspectiva do “fazer acontecer” contra a cultura do “estamos perdendo tudo para os outros municípios”. A partir daí, compor uma representação política a nível dos poderes municipal, estadual e federal. Nela deverão estar pessoas com o sentimento e as novas ideias para o nosso município.

O segundo desafio é administrativo. É o do enfrentamento dos principais problemas e demandas do nosso município. Precisamos das bandeiras do compromisso e do trabalho sério. Uma prefeitura não pode ser um de grupo de amigos. Trata-se de instrumento coletivo de possa agregar pessoas no trabalho, na representação e criatividade de ações capazes de construir uma cidade boa para se viver. Será necessário para isso um modelo administrativo que envolva um modo de governar de forma democrática e popular. Serão necessários o envolvimento de toda a comunidade cratense na discussão do orçamento participativo, na escolha das prioridades de atendimento das principais ações e no controle social do atendimento das demandas estabelecidas. 

Alexandre Lucas - Quais as diretrizes políticas do seu plano de governo?

Marcos Cunha  - O Partido dos Trabalhadores no ano em que completa 32 anos de história vive mais uma etapa importante da sua construção. O PT se transformou numa instituição política reconhecida nacional e internacionalmente, e atingiu um objetivo central ao reeleger, como expressão da luta do nosso povo por transformações sociais, Dilma Rousseff, Presidente da República.

As Administrações Petistas desenvolveram, ao longo dos anos, iniciativas inéditas e exemplos bem sucedidos de políticas públicas eficazes e gestões transparentes que passaram a compor o “modo petista de governar”. O aperfeiçoamento desse modelo tem contribuído intensamente para avanços significativos na democratização da gestão pública no Brasil, no combate à pobreza e às desigualdades sociais e econômicas.

Para isso, é preciso manter e ampliar a nossa capacidade de elaboração e aperfeiçoamento de conteúdo político dos Programas de Governos Municipais. Elaborando propostas e ações que objetivam a melhoria das cidades, mas especialmente o atendimento das necessidades das pessoas.

Para atingir os objetivos estratégicos do PT para as eleições 2012 se apresentam cinco eixos para a elaboração das Diretrizes dos Programas de Governos Municipais que representam à síntese da elaboração programática do Partido dos Trabalhadores.

São eles:

1. Participação Cidadã e Controle Social da ações do Governo Municipal: por uma cultura democrática e transformadora na vida pública;
2. Desenvolvimento Local Sustentável como fator de geração de trabalho e renda e promoção da igualdade social;
3. Políticas Sociais e de Garantia de Direitos;
4. Gestão Ética, Democrática e Eficiente;
5. Gestão Democrática do Território.

Essas diretrizes constituem-se num instrumento indispensável para dar maior nitidez à disputa política eleitoral, caracterizando o perfil inovador do PT na solução dos problemas do município do Crato.

Caberá também, a cada candidato e a cada candidata, fazer valer sua força e sua responsabilidade na construção de novos rumos para nosso município do Crato, sendo um líder de sua comunidade para que ela avance econômica, social e politicamente.

As candidaturas ao legislativo municipal, afinadas com a candidatura majoritária, devem incorporar no seu discurso político as metas e ações do Programa de Governo para o município, articulando a elas suas propostas de mandato.

Qual será o critério de escolha do secretariado numa futura gestão do senhor?

Os nossos secretários deverão ser escolhidas por sua identificação com as Diretrizes Políticas do nosso Programa de Governo, mas permanecerão nas suas funções pelos méritos de suas competências.

Como o senhor avalia a atuação Secretaria de Cultura, Esporte e Juventude?

Atualmente, é necessário que os governos municipais compreendam que as políticas públicas do Governo Federal separam as ações da Cultura e da Juventude e Esportes. Muitos municípios, inclusive do Cariri já se adaptaram a essa nova realidade.

Alexandre Lucas - Pretende manter alguma ação da atual Secretaria da Cultura, Esporte e Juventude?

Marcos Cunha  - No Governo de Transição, intervalo entre os resultados eleitorais e a posse, deverão ser avaliadas criticamente todas as ações do Gestão Municipal atual na perspectivas dos resultados conseguidos e as suas viabidades econômicas. Não podemos condenar ações políticas por meros caprichos. Um boa gestão deve ter a capacidade de avaliar os recursos públicos aplicados e os seus resultados, devendo aproveitá-los ou não.

Alexandre Lucas - Quais as propostas que pretende desenvolver para a Cultura?

Marcos Cunha  - O Crato desde os primeiros tempos configurou-se como importante centro econômico do nordeste brasileiro, com desenvolvimento na cultura, nas artes e forte mobilização político-social.

O Crato sempre foi reconhecido e reverenciado como “Cidade Capital da Cultura”. Lamentavelmente, por ineficiência dos poderes públicos, a cidade vem paulatinamente perdendo este precioso status. Não obstante, observa-se uma postura de resistência de nossos artistas, agentes culturais e da própria população para que essa identidade artística e cultural não se perca por completo. Portanto, se o governo municipal fizer a sua parte, implementando uma política efetiva e coerente nessa área cultural, assistiremos, com certeza, uma verdadeira “revolução” que mudará, para melhor, a face da cidade e a vida dos seus habitantes.

O Governo de Marcos Cunha promoverá ações transversais entre as diversos gêneros de arte e expressões culturais, efetivando convergências, promovendo e preservando as culturas populares e tradicionais, estimulando a inovação, apoiando linguagens culturais diversas.

ESTRATÉGIA DE AÇÃO
  1. Estabelecer uma política para cultura, centrada na estruturação e fortalecimento dos equipamentos com vistas a ampliar a cadeia produtiva das artes, revitalizando os equipamentos culturais e apoiando a veiculação da produção independente;
  2. Implantar a gestão participativa na cultura por meio da criação do Sistema Municipal de Fomento `a Cultura, articulado com o Sistema Estadual e Nacional de Cultura;
  3. Constituir o Conselho Municipal de Cultura (CMC); contemplando a participação de todos os setores de artistas, produtores, movimentos, incentivadores e setores representativos da sociedade civil.
  4. Solicitação de audiências públicas para discutir apoio à cultura;
  5. Realizar Conferência Municipal de Cultura para discussão do Plano Municipal para Cultura;
  6.  Construir um calendário de ações sintonizado com as tradições, atividades e propostas  cratense;
  7. Realizar mapeamento da cultura para subsidiar a definição da política cultural e a economia da cultura, articulada com uma política de geração de renda;
  8. Incentivar a criação e o intercâmbio de manifestações culturais e tradicionais e experimentais;
  9. Estabelecer parcerias para fortalecer a formação, a produção e a difusão, estimulando e apoiando o intercâmbio estadual, nacional e internacional da cultura;
  10. Realizar um trabalho junto a juventude ofertando espaços, atividades e formação artística numa forma de investir na cultura e nas artes, melhorando a qualidade de vida de jovens que muitas vezes encontram-se a margem da sociedade, pois a cultura quando produzida e acessada na comunidade estabelece relações de sociabilidade.
  11. Promover trocas culturais entre diversas manifestações culturais;
  12. Promover e proteger as diversas manifestações culturais, materiais e imateriais e proteger o Patrimônio Histórico e Cultural do Crato;
  13. Promover e proteger os segmentos artísticos historicamente excluídos e oprimidos tais como pessoas com deficiência, com transtornos mentais e populações de afro-descendentes, GLTB, ciganos e indígenas, entre outros;
  14. Preservar e estimular as tradições dos mestres de tradição popular, de música e dança, artesãos e outros segmentos artísticos populares;
  15. Fomentar a Economia da Cultura como forma de viabilizar a auto-sustentabilidade dos artistas e produtores apoiando uma das vertentes econômicas que mais crescem no mundo;
  16. Divulgação dos produtos culturais do Crato em feiras, festivais e mostras realizadas no âmbito das festividades;
  17. Inclusão da produção artística e das manifestações culturais nos projetos de grande porte da Prefeitura;
  18. Estimular os empresários a adotarem ações pró-ativas em relação à cultura de patrocínio, de investimentos em fundos de cultura e participação em programas de patrocínio incentivado com renúncia fiscal;
  19. Potencializar as ações de bibliotecas com programas voltados a circulação de atividades de leituras, artisitcas e culturais em bairros e distritos;
  20.  Adoção das Escolas Municipais em equipamentos culturais para a juventude e população em geral na perspectiva de funcionar aos finais de semana como Centros de Culturas para realização de oficinas e espaços de apresentações artísticas;
  21. Estabelecer programas de aprendizagem das artes das comunidades nas respectivas escolas municipais e estaduais;
  22. Estabelecimento de convênios com as Universidades e outras Instituições para capacitação de agentes culturais, para realização de projetos em bairros e distritos do Crato;
  23. Promover a integração da cultura e educação ampliando a jornada escolar e possibilitando a inserção das diferentes linguagens e práticas artísticas na Educação Básica;
  24. Estimulo as diferentes formas de manifestações culturais, à pesquisa sobre os temas das culturas populares, ao conhecimento e reconhecimento de artistas;
  25. Criar uma demanda de ações com projetos culturais abertas a comunidade cratense;
  26. Atuação transversal da cultura nas diversas secretarias do município;
  27. As políticas culturais devem contemplar, fomentar e financiar a produção, a distribuição, a circulação, a qualificação de artistas e produtores, e a formação de platéia para as diversas atividades culturais;
  28. Criação de uma Lei Municipal de Incentivo à Cultura com destinação de no mínimo 1% (recomendado pela agenda 21da cultura) do orçamento municipal;
  29. Organizar editais para fomento de instituições, projetos e programas culturais;
  30. Criar editais simplificados com ênfase na cultura popular, na juventude e iniciantes como forma de ampliar o acesso destes segmentos aos recursos públicos da cultura;
  31. Apoiar os artistas e produtores e gestores culturais com programas de qualificação continuada e de apoio a produção cultural e artística;
  32. Organizar manutenção e equipar os espaços culturais da cidade: Museu Histórico e de Arte, Teatro Municipal, Bibliotecas, Banda Municipal, Complexo RFFSA, Sítios Arqueológicos como Caldeirão da Santa Cruz e Sítio Fundão, entre outros;
  33. Criar um Festival Internacional de Teatro e Circo na cidade de Crato, fomentando a manutenção e continuidade de grupos e companhias artísticas;
  34. Promover o CHAMA – Chapada Musical do Araripe integrando novos talentos e os já consolidados, aberto a todas as manifestações culturais;
  35. Instituir um Festival da Tradição Popular durante o mês de agosto (Mês do Folclore);
  36. Elaborar um catálogo dos artesãos do Crato;
  37. Criar um centro de registro e memória das manifestações culturais da cidade;
  38. Ampliar o acesso à cultura por meio de ações desenvolvidas nas praças;
  39. Criar o observatório da cultura;
  40. Recuperar os equipamentos da cidade garantindo a participação da sociedade cretense;
  41. Estabelecer um diálogo direto com os diversos segmentos das artes e da cultura;
  42. Instituir uma ouvidoria para cultura por meio da Secretaria de Cultura do Município.

Alexandre Lucas - Como pretende manter o dialogo com os artistas?

Marcos Cunha  - Os artistas e as suas mais diversas artes deverão ser incluídos como os protagonistas principais de um novo processo cultural. A autonomia, a independência e a liberdade de trabalho deverão fazer parte do seus processos criativos e de produção de artes. A Secretaria de Cultura será um instrumento com a responsabilidade de trabalhar as atividades dos artistas como meio de sobrevivência.

Alexandre Lucas - Qual será a sua política para preservação do patrimônio histórico, arquitetônico, cultural, natural e artístico?

Marcos Cunha  - Nos últimos tempos, a preocupação e os anseios de muitos setores da comunidade cratense, relacionadas com a preservação do patrimônio histórico, arquitetônico, cultural, natural e artístico da nossa cidade foi agendada uma Audiência Pública na Câmara Municipal do Crato. Será uma ampla discussão para estabelecer um protocolo de avaliação e ações que possam reverter a situação. trabalho. Essa foi uma iniciativa da vereadora do PT  Mara Guedes no intuito de reunir todos os segmentos da sociedade e criarmos uma pauta de trabalho para intervir nessa área.