terça-feira, 10 de março de 2020

"NO MATO SEM CACHORRO" - José Nilton Mariano Saraiva



Com um Poder Legislativo (Congresso Nacional) repleto de pilantras/picaretas (que, tirante as exceções de praxe, só pensam em legislar em causa própria) e um Poder Judiciário composto por prolixos e medrosos integrantes (conforme já demonstrado em diversas oportunidades, quando se omitiram irresponsavelmente em questões cruciais da república), ambos aparentemente sem nenhum compromisso com o Estado Democrático de Direito, um despreparado e radical ex-capitão do exército (Jair Bolsonaro), há tempos comprovadamente aliado a grupos de perigosos milicianos, bem como assessorado e cercado de “generais de pijama” totalmente ultrapassados e anacrônicos (mas sedentos de poder), assumiu a chefia do Poder Executivo nacional.


E o resultado (a incrível volta dos “milicos” ao poder e através do voto direto) não poderia ser mais catastrófico para o Brasil: sem noção de absolutamente nada que o cerca, sem semancol para enxergar/avaliar a dimensão do cargo/função que ocupa, sem condição ética e moral de administrar sequer uma bodega de periferia, a “diversão” do traste que está aí é destruir tudo que foi feito pelos governos que o antecederam (principalmente na área social) assim como “comprar briga”, mesmo sem motivo aparente, com meio mundo de gente (daqui a pouco, não duvidem, o Brasil corre o risco de entrar em conflito com a Venezuela, por “sugestão” do “brother” de Bolsonaro, Donald Trump). 


Fato é que o Brasil, que nos últimos anos houvera conquistado com hercúleo esforço o papel de “protagonista” entre as nações, em razão de uma política inclusiva e socialmente responsável, não mais que de repente se torna um “pária” socioeconômico, porquanto agora alvo de chacotas e gozações de toda ordem.


Comandado, de fato, por um economista de quinta categoria, que a “academia” sempre desprezou em razão dos conceitos anacrônicos e ultrapassados de teoria econômica, onde se destaca a aversão pelo social, bem como a prioridade absoluta ao tal “mercado” (do qual é um dos integrantes), e a quem o ex-capitão que está presidente delegou poderes para fazer e desfazer, mandar e desmandar. o Brasil marcha inexoravelmente para o fundo do poço, conforme se pode atestar pela avidez com que as reservas internacionais de 350 bilhões de dólares (acumulada/deixada pela dupla Lula/Dilma) é “queimada” no dia-a-dia, na tentativa de conter a acachapante desvalorização da nossa moeda, em relação/comparação ao dólar (em poucos dias já foram jogados fora 45 bilhões de dólares e hoje a cotação dólar/real chegou a 01/R$ 4,75). 



Como reflexo, a desconfiança em nosso país é uma realidade palpável, traduzida na acelerada evasão de divisas, com a taxa de investimentos estrangeiros em forte desaceleração, resultando que o PIB (Produto Interno Bruto) foi o mais baixo dos últimos três anos, com ridículos 1,1% de crescimento (se não tiver sido manipulado).


Instado a pronunciar-se sobre o que fazer a fim de debelar ou ao menos amenizar a crise grave atual (como o fez o presidente Lula da Silva, com sucesso, à sua época), o atual “manda-chuva” do Brasil, o “tchutchuca” Paulo Guedes, mostrou estar “perdido no mato sem cachorro”, ao simplesmente tentar transferir para o Legislativo Federal toda a responsabilidade do momento atual, em razão de não terem aprovado ainda as draconianas “reformas” administrativa e tributária, propostas por seu ministério (aqui, vale lembrar que para aprovar a tal reforma da previdência Paulo Guedes prometeu melhoras substanciais e em pouco tempo, o que não ocorreu até agora – e jamais acontecerá).


Alfim, convém não olvidar (e é bom que guardemos na memória pra sempre) que tudo isso que está aí deve ser creditado ao Supremo Tribunal Federal, por permitir que um deslumbrado e medíocre juiz de primeira instância (Sério Moro) tenha não só destruído o Estado Democrático de Direito (ao impunemente passar por cima da nossa Carta Maior, diuturnamente) assim como por ter interferido de maneira letal na economia do país ao acabar com portentosos conglomerados econômicos que movimentavam a Economia. 


Resultado disso tudo: o povo tá na maior merda e a tendência é de piora, lamentavelmente.



domingo, 8 de março de 2020

AINDA SOBRE "NO ARMÁRIO DO VATICANO"



O PARADOXO DO VATICANO: uma maioria homossexual e homofóbica


“Não é um lobby, e sim uma maioria silenciosa”, diz o sociólogo francês Frédéric Martel. Ele é autor de ‘No Armário do Vaticano’

PARIS - 18 FEV 2019 - 18;31BRT
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Dos seminários à cúpula do Vaticano, a homossexualidade é onipresente na Igreja Católica e ajuda a entender as crises que atingiram a instituição nas últimas décadas, da queda da vocação sacerdotal ao encobrimento do abuso de crianças, além de campanhas contra o papa Francisco.

Essa é a opinião do sociólogo e jornalista francês Frédéric Martel que em quatro anos entrevistou 41 cardeais, 52 bispos, núncios apostólicos, embaixadores estrangeiros e mais de 200 sacerdotes e seminaristas em busca do "segredo mais bem guardado" da Igreja. O resultado é No Armário do Vaticano – Poder, Hipocrisia e Homossexualidade, mais de 600 páginas nas quais Martel (Châteaurenard, França, 1967) expõe a vida dupla e moral do catolicismo romano. A obra "que fará o Vaticano tremer", como resume o jornal Le Monde, será publicada em oito idiomas e em 20 países, coincidindo com a cúpula sobre pedofilia convocada pelo Papa. O livro, com lançamento mundial na próxima quinta-feira, ainda não tem data para ser publicado no Brasil.

O autor entrevistou a 41 cardeais, 52 bispos, núncios apostólicos , embaixadores estrangeiros e mais 200 sacerdotes e seminaristas

Os homossexuais, segundo Martel, “representam a grande maioria” no Vaticano. Não estima a quantidade, embora uma de suas fontes lhe garanta que seja “da ordem de 80%”. O autor acrescenta que, entre os 12 cardeais que cercavam João Paulo II na década de oitenta e noventa — em plena devastação pela AIDS e que definiram sua política contra os preservativos —, a maioria era de homossexuais. Para afirmar isso, se baseia nas entrevistas realizadas, algumas com os próprios cardeais.

“A vida privada dos indivíduos lhes diz respeito, e eu quase diria que não nos diz respeito”, diz numa entrevista ao EL PAÍS. “Mas os efeitos deste segredo e desta mentira na ideologia do Vaticano, e suas consequências no mundo, são consideráveis.”

O autor evita falar em “lobby gay”: “Não é um lobby, é uma comunidade. Não é uma minoria que atue, e sim uma maioria silenciosa. Um lobby seria gente unida por uma causa. Aqui cada bispo ou cardeal se esconde dos outros e ataca a homossexualidade dos outros para esconder seu segredo”.

As conclusões do livro e algumas cenas podem parecer ousadas e até mesmo devassas em alguns momentos. “Meu tema não são as festas chemsex”, esclarece Martel em alusão às orgias com drogas que apareceram meses atrás na imprensa italiana. “Meu tema não são os abusos. Meu tema é a vida banal e trágica dos sacerdotes condenados a uma castidade antinatural. E essa gente está presa na armadilha de um armário onde eles mesmos se fecharam, do qual não sabem sair, enquanto no lado de fora todo mundo se diverte.”

A originalidade de sua investigação é que estabelece a homossexualidade — uma homossexualidade calada e misturada a homofobia — como núcleo do sistema eclesiástico. “Quanto mais homofóbico for um bispo, mais possibilidades há de seja homossexual. É o código”, diz na entrevista.

É a chave que permite entender muitos de seus problemas. A reduzida capacidade de atrair a futuros sacerdotes, por exemplo. “Antes, quando você era um menino de 17 anos em um povoado italiano ou espanhol e descobria que não se sentia atraído pelas mulheres, a Igreja era um refúgio. Deixava de ser um pária do qual as pessoas zombavam no pátio da escola para ser considerado Deus”, argumenta. Mas os tempos mudaram. “Inclusive no vilarejo italiano há outras opções além de virar sacerdote.”

Martel insiste no aparente paradoxo de um discurso contra a homossexualidade num Vaticano majoritariamente homossexual. Aborda a trajetória de vários líderes da linha mais rigorosa, como o colombiano Alfonso López Trujillo, já falecido, com relação ao uso do preservativo, e do espanhol Antonio Rouco Varela contra o casamento gay.

O autor se desvincula das denúncias do arcebispo ultraconservador Carlo Maria Viganò, adversário do papa Francisco, e nega que haja um vínculo entre a homossexualidade e os abusos sexuais na Igreja. Mas acredita que a cultura do sigilo decorrente da necessidade de ocultar a homossexualidade protege os abusadores.

“Se você é um bispo e protege a um sacerdote, por que faz isso?”, pergunta-se. “Acho que, numa ampla maioria dos casos, os bispos que protegem os abusadores protegem a si mesmos. Têm medo. Acho que a grande maioria de bispos e cardeais que protegem a sacerdotes pedófilos é de homossexuais.”

Angelo Sodano, que foi núncio apostólico no Chile durante os anos de Pinochet e secretário de Estado no pontificado de João Paulo II, aparece como um dos vilões do livro — por causa de seus supostos arranjos com o regime pinochetista, e também pelo caso do sacerdote chileno Fernando Karadima, a quem Francisco expulsou do sacerdócio em setembro.

“Parece-me claro que Sodano, de acordo com todos os depoimentos, das vítimas e dos advogados das vítimas, não teria participado dos abusos sexuais de Karadima. Por outro lado, parece impossível que não estivesse a par dos abusos.”

E se Sodano é o vilão dessa Sodoma (o título original do livro), o herói é Francisco. “Por trás da rigidez, sempre há algo escondido; em numerosos casos, uma vida dupla”, disse o Papa em outubro de 2016. “O Papa”, argumenta o livro, “deixa acuados certos cardeais conservadores ou tradicionais que rejeitam suas reformas fazendo-lhes saber que conhece sua vida oculta”.

O “quem sou eu para julgar?” que Francisco pronunciou em julho de 2013 ecoa por todo o livro. Martel lhe enviou um exemplar.

ESPECIALISTA NO MOVIMENTO HOMOSSEXUAL
Frédéric Martel (Châteaurenard, França, 1967) não é um vaticanista, e sim especialista no movimento homossexual e autor de dois livros de referência, Le Rose et Le Noir ("O rosa e o negro", um retrato dos homossexuais na França desde 1968), e Global Gay, sobre a globalização da questão homossexual. Seu novo livro, No Armário do Vaticano (Sodoma, no título original), uma mistura de reportagem jornalística e ensaio cultural, não se apresenta tanto como uma investigação sobre uma comunidade religiosa, e sim sobre uma comunidade gay, uma das "mais numerosas do mundo". E escreve: "Duvido de que haja tantos [homossexuais] mesmo em Castro, em San Francisco, esse bairro gay emblemático, hoje mais misto".


sábado, 7 de março de 2020

A "FACE OCULTA" DA IGREJA - José Nilton Mariano Saraiva


Best-seller do New York Times, “No Armário do Vaticano”
(Editora Objetiva, 2019, 499 páginas) foi lançado
simultaneamente em vinte países. Trata-se do relato sobre 
a corrupção e a hipocrisia no coração do Vaticano. “POR 
TRÁS DA RIGIDEZ HÁ SEMPRE QUALQUER COISA 
ESCONDIDA; EM NUMEROSOS CASOS, UMA VIDA DUPLA”. Ao
 pronunciar estas palavras, o papa Francisco tornou
 público um segredo que esta investigação vertiginosa
 explora, pela primeira vez, com grande profundidade. Com
 detalhes escabrosos, imorais e até então inimagináveis,
 “No Armário do Vaticano” expõe a decadência no coração
 do Vaticano e na Igreja Católica atual. Um trabalho
 brilhante baseado em quatro anos de pesquisas rigorosas,
 que inclui entrevistas com dezenas de cardeais e
 encontros com centenas de bispos e padres. O celibato dos
 padres, a condenação do uso de contraceptivos, os
 inúmeros casos de abuso sexual, a renúncia do papa Bento 
XVI, a misoginia entre os clérigos, a trama contra o papa
 Francisco — todos esses temas estão envoltos em mistério.
 Este livro revela a face oculta da Igreja, uma instituição
 fundada em uma cultura clerical de sigilo e baseada na
 vida dupla de padres e numa extrema homofobia. A
 esquizofrenia resultante na Igreja é difícil de entender:
 quanto mais um prelado é homofóbico, mais é provável
 que ele seja gay. É um livro revelador e inquietante”
(sinopse).


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Fato é que, “No Armário do Vaticano” é um relato
 impressionante sobre os abusos de toda ordem, a luxúria
, a hipocrisia, a falsidade, o jogo sujo e a homossexualidade
desbragada reinante entre os cardeais do Vaticano
 (inclusive “papas”). Por isso, imperdível.


No relato, apesar da corajosa declinação de nomes de
 dezenas e dezenas de padres, bispos, cardeais e até papas
 homossexuais, dois religiosos se sobressaem devido à
 agressividade e desassombro com que atuam no interior
 do próprio Vaticano: Alfonso López Trujillo (colombiano) e
 o mexicano Marcial Maciel (conservadores, racistas
, integrantes da extrema direita, eram abertamente a favor
 do grande capital e da exploração dos pobres).


Íntimos e próximos dos papas Paulo VI, e João Paulo II
, citados personagens, aparentemente homofóbicos, mas na
 realidade homossexuais atuantes e conhecidos na noite de
 Roma (ambos tinham amantes), ainda assim exerciam um
 certo poder ante os dois papas nominados, influindo em
 algumas das suas decisões.


Enfim, vale a pena (e muito) se debruçar sobre as 499 
páginas do “No Armário do Vaticano”, até porque nos
 permitirá conjecturar sobre a vida pregressa de certos
 “candidatos a santo” do Nordeste do Brasil, cujos métodos
 de ficar rico sem ter fonte de renda em muito se
 assemelham aos métodos usados pela dupla citada (López
 Trujillo e Marcial Maciel, tidos como “demoníacos”).


E muito importante para tal mister seria que algum
 historiador com “H” maiúsculo se dispusesse a pesquisar
 num primeiro momento, com seriedade e longe dos
 holofotes, uma figura que a própria Igreja Católica, num
 passado não tão distante, alcunhou como “charlatão”, face
 o cometimento da farsa grotesca que ficou conhecida como
 o “milagre da hóstia” (milagre esse que se repetiu 83 vezes
 ao longo de dois anos seguidos, com anunciação prévia do
 dia e hora).


Um raio pode cair duas vezes num mesmo lugar ???