segunda-feira, 31 de agosto de 2020

EXCENTRICIDADE - José Nilton Mariano Saraiva

Recorrente - mas ainda assim impressionante - como aqueles que atingem certo destaque em alguma profissão, principalmente os que lidam diretamente com o público, se transmutam da noite pro dia, tanto em termos comportamentais como em termos visuais. Dentre estes se sobressaem, justamente pelo contato mais próximo com o povo, jogadores de futebol e cantores dos mais diversos estilos (bregas, sertanejos, românticos e por aí vai), sejam nacionais ou internacionais. 

Os primeiros (jogadores de futebol) normalmente oriundos de famílias paupérrimas, quando finalmente “chegam lá” fazem questão de ostentar, de exibir, de ser “diferente”, como a querer mostrar que não são inferiores a ninguém, compensando de certa forma a “vida-de-cão” que levaram no passado. Assim, visando mandar para o espaço o complexo de inferioridade enrustido durante tanto tempo, além dos carrões, roupas de grife, joias caras e mansões luxuosas, adotam os mais esquisitos e ridículos cortes de cabelo, que de pronto passam a ser adotados por seguidores fanáticos (que o diga o tal do Neymar e seu estilo moicano ou aquele horroroso corte exibido pelo tal Ronaldo Gordo Nazário, no final da Copa do Mundo do Japão, onde o Brasil foi vencedor).

 

Já no tocante aos cantores que se destacam a coisa é mais “seleta, refinada e eclética”, a saber: uns, embora teimem em falar e pregar a “humildade”, nos seus shows exigem dos patrocinadores uma determinada marca de água mineral importada (preferencialmente de um país distante); frutas, preferencialmente aquelas oriundas dos cafundós do planeta Terra; não dispensam uma bebida de primeira qualidade, evidentemente que também de outras plagas; já um outro só faz o show se o camarim for decorado unicamente na cor azul, com móveis confeccionados de uma madeira tal, e outras extravagâncias. 


Tempos atrás, um deles nos apareceu com uma exigência que, muito mais que excentricidade, poderia ser confundida com “frescura pura” (e não é pelo fato de ser reconhecidamente um homossexual assumido); fato é que o renomado (e bom) cantor britânico Elton John exigiu para uma certa turnê (Follow the Yellow Brick Road), que empreendeu no Brasil, mimos que chegaram às raias do absurdo.


Assim, além do cachê altíssimo que recebeu, exigiu dos patrocinadores do seu show (aqui em Fortaleza), dentre outros itens: 01) que, toda a Arena Castelão, onde foi realizado o evento, fosse climatizada a 19 °C; (assim, embora normalmente a temperatura ambiente da Arena Castelão seja de 35/40°C, em todas as áreas por onde ele fosse circular, a temperatura não poderia passar dos 19 graus e PT saudações); 02) que, no seu camarim fosse instalado um telão de alta definição, a fim que pudesse assistir a canais esportivos; 03) que, fosse criado o “Espaço Elton John Hospitality” (espécie de sala de visitas) com ornamentação de plantas naturais com pelo menos 1,80 metro cada, preferencialmente palmeiras e fícus; e 04) que, para comer, estivessem disponíveis saladas de frutas, de legumes e sopas vegetarianas (aqui, até que não foi muito exigente). Descartou, entretanto, qualquer proteína animal. 


Será que os patrocinadores do evento conseguiram atender a todas as exigências do bom, mas já decadente cantor ??? E se não o fizessem, será que o mesmo recusar-se-ia a cantar para seus adeptos do Ceará ??? 


No mais, para os que se dispuseram a ir ao show, foram colocados à venda 40 mil ingressos (a “preços de banana” em fim de feira, na mais recôndita periferia), a saber: gramado cadeira ouro (R$ 600), plateia inferior direita (R$ 140), gramado cadeira prata (R$ 460), gramado cadeira bronze (R$ 360), camarote vip open bar (R$ 500), camarote privativo (R$ 800), plateia inferior esquerda (R$ 140), plateia superior especial (R$ 300), plateia superior esquerda (R$ 110) e plateia superior direita (R$ 110). 


E aí, você foi um dos que lá compareceram ???

 

CARTA A UM JOVEM BRASILEIRO (Rogério Cezar de Cerqueira Leite)

 

CARTA A UM JOVEM BRASILEIRO

(Rogério Cezar de Cerqueira Leite)

Eu gostaria de escrever-lhe uma carta sobre poesia, embora sem o talento do alemão Rainer Maria Rilke, sobre a importância da literatura, das artes, do conhecimento; enfim, sobre tudo o que enriquece a humanidade. Mas eis que nossos líderes agridem tudo que alicerça a cultura de um povo, tal seja a filosofia, a sociologia, a história.

Eu queria escrever-lhe sobre a dádiva da natureza ao brasileiro, sobre as nossas matas, os nossos rios, a nossa fauna e a nossa rica e bela biodiversidade. Pois bem, nossos dirigentes não apenas corrompem as providências para amenizar as inexoráveis e trágicas consequências do aquecimento global como também incentivam o desmatamento e a poluição da atmosfera.

Eu queria falar-lhe, jovem brasileiro, da dignidade do trabalho e da necessidade de conhecimento para enfrentar a dinâmica implacável do progresso tecnológico. Entretanto, esse novo governo asfixia nossas universidades com cortes de verbas e obtusa perseguição.

Eu queria falar-lhe de ciência e tecnologia, da consequente industrialização do nosso país e dos benefícios sociais e econômicos que adviriam de investimentos em pesquisas. Mas esses nossos governantes continuam a desindustrialização começada nos governos Collor e FHC, cortando recursos para ciência, tecnologia e formação pós-graduada, sem o que não haverá industrialização possível já em futuro próximo.

Eu queria escrever-lhe sobre o valor da cidadania, da liberdade, sobre a decência do homem de bem. Porém, “esses arremedos de déspotas” que presidem sobre esta nação liberam a posse de armas, cooptam e protegem milicianos, homenageiam extorsionários e torturadores, estimulam a violência.

Eu gostaria de poder falar-lhe sobre nosso país, sobre nossa história, nossa arte, nossos escritores, nossa música, nossas conquistas. Mas não posso. Nosso país se curva aos interesses imperialistas dos EUA.

Eu queria falar-lhe do ideal de justiça, da solidariedade. Contudo, só vejo ostentação, narcisismo. 

JUÍZES VIVENDO EM PALÁCIOS "NABABESCOS", SERVIDOS A LAGOSTAS, PAGAS COM O SUOR DO TRABALHADOR BRASILEIRO. O QUE UM JUIZ DO SUPREMO COME DE LAGOSTA E BEBE DE VINHO IMPORTADO, DIARIAMENTE EM UMA ÚNICA REFEIÇÃO, EQUIVALE AO QUE COME POR MES UMA FAMÍLIA QUE VIVE COM SALÁRIO-MÍNIMO. 

E, ao contrário de suas excelências, o cidadão brasileiro paga por suas refeições. Eu pensava em conversarmos sobre seu futuro, seus sonhos. E olho para nossos congressistas, supostos guardiões da cidadania e de seu porvir. E só ostentam escandalosa cupidez. 

Confesso que eu queria inculcar-lhe, jovem brasileiro, uma certa compulsão por justiça social, um certo interesse pelo próximo e pelo distante, um pouco de civilidade enfim. Mas seria um esforço perdido, tendo em vista a dominação intelectual e ideológica desse governo por um farsante, obsceno e fascista, uma espécie de Rasputin de bordel.

Eu gostaria de encontrar alguma palavra de alento para apaziguá-lo. Eu não queria ser cínico ou parecer desalentado, derrotado. Seria talvez bom se eu pudesse fingir, mentir um pouco. Mas não. Só posso pedir-lhe que me perdoe, e a todos aqueles das gerações que precederam a sua, pelo que lhe subtraíram e talvez também pelo que lhe ensinaram.

 

terça-feira, 25 de agosto de 2020

O BRASIL QUE SABER - José Nilton Mariano Saraiva

 

Por qual razão o “integro”, “honesto” e “insuspeito” Presidente da República se exaspera quando lhe fazem uma pergunta tão simples:

 

"Presidente @jairbolsonaro, por que e para que sua jovem esposa, Michelle Bolsonaro, recebeu R$ 89 mil de Fabrício Queiroz e esposa ?"

 

Por qual razão os integrantes do Supremo Tribunal Federal se negam a participar de tão grave questão, questionando-o oficialmente ???

domingo, 23 de agosto de 2020

A "MUTRETA" DO TAL VALE-REFEIÇÃO - José Nilton Mariano Saraiva

Criado através da Lei 6321 de 15.04.1976, o vale-refeição (adstrito às estatais), ao contrário dos que muitos pensam não se trata de nenhuma “benevolência” da empresa para com o seu funcionário, ou de um gesto de magnanimidade do governo federal.

Na verdade, aqui se aplica magistralmente aquela história do “dar com uma mão e tirar com a outra” e, claro, beneficiando sempre o patrão (empresa), em detrimento do empregado.

É que, a posteriori, quando for prestar contas ao fisco ao final do exercício fiscal, a empresa poderá deduzir, do lucro tributável para fins de imposto de renda (das pessoas jurídicas, evidentemente), o dobro das despesas realizadas em programas de alimentação do trabalhador (o tal vale refeição).

Além do que, como tal valor é excluído do conceito de “salário in natura”, nele não incide o custeio da Previdência Social e o do FGTS (ou seja, a empresa ao subsidiar a refeição do seu servidor, se beneficia de um quádruplo benefício fiscal).

Confira, abaixo, os artigos 1º e 3º da tal lei:

Art. 1º As pessoas jurídicas poderão deduzir, do lucro tributável para fins do Imposto sobre a Renda, o dobro das despesas comprovadamente realizadas no período-base, em programas de alimentação do trabalhador, previamente aprovados pelo Ministério do Trabalho na forma em que dispuser o Regulamento desta Lei.

Art. 3º Não se inclui como salário de contribuição a parcela paga "in natura" pela empresa, nos programas de alimentação aprovados pelo Ministério do Trabalho.

É isso aí; vivendo e aprendendo.