domingo, 29 de julho de 2007

O homem e a folha


Entardece no mundo.
O céu está pintado em tons de roza-cinza-azul e anuncia a possibilidade de chuva naquela pequena reserva de floresta tropical. Pequenos animais buscam as suas tocas adivinhando um temporal. Um homem já velho, magro e nu, caminha tranquilamente e humaniza a paisagem. Sua face é uma bela máscara esculpida pelo tempo e expressa a paz que carrega dentro de si. Um forte vento balança as folhagens das árvores e começa a chuva. As folhas secas tentam, mas não resistem à força natural e começam a cair. Uma delas, em movimento anguloso e lânguido parece aproveitar o vento para bailar. O homem observa com naturalidade e abre um sorriso: a folha transformara sua queda- precipício, princípio da morte - numa dança? Sereno, continua seu caminho. Absorve todos os tons de luz daquele momento mágico e ouve os pássaros, o som das águas e...vozes de crianças(?) que parecem brincar. Fica atraído pela algazarra. Anda mais naquela direção até que chegar a uma pequena cachoeira que derrama suas águas num pequeno poço. Numa miragem, crianças-curumins pulam no poço, bebem água da fonte e se enlameiam e se banham e brincam com a vida. O homem sorrir e deita-se na água como se o poço fosse uma cama. Nesse instante a folha - levada pelo vento – cai no poço e flutua no espelho da água. Os dois parecem descansar.A natureza fica em silêncio como se respeitasse o momento. A folha se assenta sobre o corpo do homem. Ele, num ritual, pega a folha delicadamente e a observa por algum instante. Com carinho, coloca a folha num pequeno córrego para que siga o seu bailado. A folha flutua e navega sem destino. Cadê o homem? No poço apenas uma criança-curumim brinca com a lama e se banha numa água de cristal...
A noite chega e uma lua nova brilhante flutua no céu


Luiz Carlos Salatiel
Rio, junho 2005/julho 2007

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