Ararinha Azul
Representante comercial das famosas malas Sunderline, Garibaldo nunca tinha andado pelas bandas do Cariri. Trabalhara sempre na região norte do estado , onde, segundo afirmava categoricamente, seus malotes se conheciam até em Frecheirinha.A firma resolvera, ultimamente, explorar outros rincões do Ceará e convocará um Garibaldo pouco estimulado a se mandar para estas brenhas. Uma terra onde o povo só usa aribé, arupemba, matulão e balaio, como diabos vou conseguir vender as requintadas bolsas Sunderline ? --- Pensou Garibaldo com seus botões. Funcionário, no entanto, não tem querer, chefe é chefe e, com as duas únicas opções à sua frente : a rua ou o Cariri, terminou preferindo a última.
Chegou por aqui na penúltima segunda-feira, aproveitando o espírito natalino e suas desbragadas leis de consumo. Informara-se ainda em Fortaleza sobre um motorista local que o pudesse acompanhar na peregrinação pelas cidades caririenses. Houve quase que um consenso entre os muitos representantes conhecidos entrevistados: Bosquim. O homem, dizia-se, mostrava-se algumas vezes um pouco sincero demais, mais positivo que Augusto Compte, mas dirigia como ninguém: cuidado extremo, senso de responsabilidade e mais de quarenta anos de estrada, sem uma derrapada qualquer , nem mesmo uma freada mais brusca. Garibaldo , mal chegou na rodoviária, já despistou os taxistas de plantão e ligou para o celular de Bosquim que o atendeu prontamente. Passaram toda a semana juntos, percorrendo as cidades maiores do Crajubar. As vendas até que surpreenderam Garibaldo que previra, erroneamente, retornar à capital com uma mão no cano e outra no feixe. Tantos dias próximos, aos poucos se foram quebrando as arestas entre o representante e o motorista. Se foi tecendo uma amizade e a intimidade trouxe consigo troca de confidências. Garibaldo segregou para Bosquim que do alto dos seus trinta e seis anos ainda não contraíra casamento. Não porque não desejasse, mas não havia ainda encontrado a outra banda da maçã. Confirmou sua caretice, ligado demais à família, procurava uma moça boa, de mesa e cama e, antes de tudo casta . Lembrou que na capital virgem era espécie praticamente em extinção e que já estava sendo cadastrada pelo IBAMA, como a Ararinha Azul. Bosquim, por sua vez, lembrou que no interior a coisa andava também bastante preta, mas ainda havia lá muitas honrosas exceções e que certamente ele, com tantos critérios, deveria preferir procurar por aqui a outra banda do araticum, se não quisesse ser corno na folha.
Na sexta-feira, descendo a Avenida Duque de Caxias aqui em Crato, na companhia do motorista, Garibaldo avistou uma imagem que só podia vir do paraíso. Uma morena alta de cabelos lisos, recortada como um violoncelo, com uns olhos recortados , semi-orientais e uma boca carnuda como se eternamente estivesse buscando beijo. O representante, imediatamente, interrogou Bosquim sobre aquela aparição. De que éden escapara aquela ninfa ? O motorista , rápido, puxou a ficha da deusa: morava no centro, estudava na URCA e, ao que sabia na possuía namorado, quando não estava estudando, residia na igreja praticamente: rezando e debulhando terço. Garibaldo,fatalista, súbito, acreditou que aquilo só podia se tratar de uma coisa do destino que sempre escrevia linheiro com a caneta torta. Suplicou a Bosquim que pegasse dados da moça, conseguiu o celular, ligou para ela e, apesar da relutância, conseguiu marcar um encontro ali na Choupanna à noite.
Chegou todo fiota, entabulou conversa e o interesse pareceu mútuo. As mulheres daqui gostam muito dos homens forasteiros, um pouco pela novidade, pelo mistério, mas também por que não sendo daqui retornam, não têm muito a quem contar as intimidades e diminui bastante o perigo dos segredos de alcova serem divulgados no patamar da igreja da Sé.
A moça desde o primeiro contato pareceu-lhe extremamente recatada. Só no segundo encontro conseguiu pegar na mão, o primeiro beijo foi roubado, com alguma dificuldade no quarto dia , quando a pediu em casamento. Entabulado o enlace futuro , conseguiu , com enorme dificuldade , leva-lá a um Motel.A moça entrou temerosa e preocupada, no quartinho. Garibaldo, para tranqüiliza-la, abriu uma cerveja, deixou todo o ambiente a media luz, colocou uma destas canções de Roberto Carlos que faz uma música para o motel e depois outra pedindo perdão a Jesus Cristo.Começou as preliminares com cuidados de quem toca harpa. Nisto lembrou a necessidade de carregar o celular já que tinha que se comunicar com seu chefe ainda naquela noite, depois da lua de mel. Partiu para conectar o carregador na tomada mais próxima, quando tomou uma descarga de alta tensão ao ouvir estas recomendações da futura esposa :
--- Ei, meu filho ! Pelo amor de Deus! Não mexa nesta tomada aí não que ela ta dando um choque danado !
Representante comercial das famosas malas Sunderline, Garibaldo nunca tinha andado pelas bandas do Cariri. Trabalhara sempre na região norte do estado , onde, segundo afirmava categoricamente, seus malotes se conheciam até em Frecheirinha.A firma resolvera, ultimamente, explorar outros rincões do Ceará e convocará um Garibaldo pouco estimulado a se mandar para estas brenhas. Uma terra onde o povo só usa aribé, arupemba, matulão e balaio, como diabos vou conseguir vender as requintadas bolsas Sunderline ? --- Pensou Garibaldo com seus botões. Funcionário, no entanto, não tem querer, chefe é chefe e, com as duas únicas opções à sua frente : a rua ou o Cariri, terminou preferindo a última.
Chegou por aqui na penúltima segunda-feira, aproveitando o espírito natalino e suas desbragadas leis de consumo. Informara-se ainda em Fortaleza sobre um motorista local que o pudesse acompanhar na peregrinação pelas cidades caririenses. Houve quase que um consenso entre os muitos representantes conhecidos entrevistados: Bosquim. O homem, dizia-se, mostrava-se algumas vezes um pouco sincero demais, mais positivo que Augusto Compte, mas dirigia como ninguém: cuidado extremo, senso de responsabilidade e mais de quarenta anos de estrada, sem uma derrapada qualquer , nem mesmo uma freada mais brusca. Garibaldo , mal chegou na rodoviária, já despistou os taxistas de plantão e ligou para o celular de Bosquim que o atendeu prontamente. Passaram toda a semana juntos, percorrendo as cidades maiores do Crajubar. As vendas até que surpreenderam Garibaldo que previra, erroneamente, retornar à capital com uma mão no cano e outra no feixe. Tantos dias próximos, aos poucos se foram quebrando as arestas entre o representante e o motorista. Se foi tecendo uma amizade e a intimidade trouxe consigo troca de confidências. Garibaldo segregou para Bosquim que do alto dos seus trinta e seis anos ainda não contraíra casamento. Não porque não desejasse, mas não havia ainda encontrado a outra banda da maçã. Confirmou sua caretice, ligado demais à família, procurava uma moça boa, de mesa e cama e, antes de tudo casta . Lembrou que na capital virgem era espécie praticamente em extinção e que já estava sendo cadastrada pelo IBAMA, como a Ararinha Azul. Bosquim, por sua vez, lembrou que no interior a coisa andava também bastante preta, mas ainda havia lá muitas honrosas exceções e que certamente ele, com tantos critérios, deveria preferir procurar por aqui a outra banda do araticum, se não quisesse ser corno na folha.
Na sexta-feira, descendo a Avenida Duque de Caxias aqui em Crato, na companhia do motorista, Garibaldo avistou uma imagem que só podia vir do paraíso. Uma morena alta de cabelos lisos, recortada como um violoncelo, com uns olhos recortados , semi-orientais e uma boca carnuda como se eternamente estivesse buscando beijo. O representante, imediatamente, interrogou Bosquim sobre aquela aparição. De que éden escapara aquela ninfa ? O motorista , rápido, puxou a ficha da deusa: morava no centro, estudava na URCA e, ao que sabia na possuía namorado, quando não estava estudando, residia na igreja praticamente: rezando e debulhando terço. Garibaldo,fatalista, súbito, acreditou que aquilo só podia se tratar de uma coisa do destino que sempre escrevia linheiro com a caneta torta. Suplicou a Bosquim que pegasse dados da moça, conseguiu o celular, ligou para ela e, apesar da relutância, conseguiu marcar um encontro ali na Choupanna à noite.
Chegou todo fiota, entabulou conversa e o interesse pareceu mútuo. As mulheres daqui gostam muito dos homens forasteiros, um pouco pela novidade, pelo mistério, mas também por que não sendo daqui retornam, não têm muito a quem contar as intimidades e diminui bastante o perigo dos segredos de alcova serem divulgados no patamar da igreja da Sé.
A moça desde o primeiro contato pareceu-lhe extremamente recatada. Só no segundo encontro conseguiu pegar na mão, o primeiro beijo foi roubado, com alguma dificuldade no quarto dia , quando a pediu em casamento. Entabulado o enlace futuro , conseguiu , com enorme dificuldade , leva-lá a um Motel.A moça entrou temerosa e preocupada, no quartinho. Garibaldo, para tranqüiliza-la, abriu uma cerveja, deixou todo o ambiente a media luz, colocou uma destas canções de Roberto Carlos que faz uma música para o motel e depois outra pedindo perdão a Jesus Cristo.Começou as preliminares com cuidados de quem toca harpa. Nisto lembrou a necessidade de carregar o celular já que tinha que se comunicar com seu chefe ainda naquela noite, depois da lua de mel. Partiu para conectar o carregador na tomada mais próxima, quando tomou uma descarga de alta tensão ao ouvir estas recomendações da futura esposa :
--- Ei, meu filho ! Pelo amor de Deus! Não mexa nesta tomada aí não que ela ta dando um choque danado !
J. Flávio
Essa era devota de N.Sra. dos Prazeres, Zé?
ResponderExcluirBom demais!
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