quinta-feira, 16 de agosto de 2007
CRATO NUVENS CIDADE
Todas as cidades do mundo localizam-se nalgum ponto do encontro entre latitudes e longitudes. Todas, menos a cidade de Crato. Na dispersão da modernidade atomizada, igualmente é movimento coloidal do encontro daquilo que o Padre Gomes chamava a hinterland nordestina. Ponta avançada do oceano primitivo, resguarda, como um id remoto, um lago que se adoça e dele a vida emergem feito lançamentos vulcânicos, vindos de um centro que é ao mesmo tempo da terra e fora dela. Por isso o Crato não é encontro geodésico apenas.
Um príncipe de papelão que marcha em homenagem à pátria e um patinho feio que olha para a lagoa na qual navegará. Tem a doçura que se dissolve como um alfenim de melado da cana e o amargor da cachaça de um cambiteiro embriagado pela falta de emprego na mesa de sua família. Ao mesmo que a razão senta-se sobre os bancos da educação que conduz à capital é, também, o centro da religiosidade arcaica que, para Juazeiro do Norte, conduz milhares. O Crato é o sul no norte ao mesmo que se encontra a igual distância dos mares a leste e oeste. Na cidade o sol tem movimento ascendente, nasce da planície do Vale dos Cariris e se põe sobre o planalto da Chapada do Araripe.
Existem pessoas que se sentam na nossa existência como chamas que iluminam a escuridade do depósito das lembranças. Algumas, como Joaquim, bordam lembranças e outras, como Everardo, arqueiam longas chapas de erudição literária. Outras chamam para o passado em que me encontra no agora, Zé Flávio e Marcos Cunha. Existem chamas que se originam na riqueza de uma cidade como Recife e apenas se descobrem como tal após receber o combustível do Crato traduzido como o amor imenso pelo pai que pretendeu a liberdade do povo brasileiro: Zé, Gusto, Nena e Guel. Olho pela janela do Vale do Rio Batateira e a luminosidade de cores dos canaviais, dos babaçuais que beiradeiam os limites com os morros circundantes. E, então, sou feito o Crato: um encontro no centro do desencontrado.
Mas existem pessoas que além de chamas são a temporalidade que realçam o indiviso em que nos julgamos na modernidade e a multidão que nos imagina a cidade do Crato inteira. Somos um pouco assim: indivíduos e coletivos. Somos novas categorias híbridas, nelas cabem dois conceitos aparentemente antônimos. "Como o mancebo, desfilando nas paradas de 7 de setembro, com farda de gala, e porte de rei e a menina com síndrome de "patinho feio". Somos todos estes antônimos".
Existe a paz com uma água de coco gelada, a sombra fresca de uma copa e uma rede de varandas cheirosas? Existe. Os instantes que nos compomos de homônimos, mas são passageiros. A moderna medicina preventiva diz que a falta de exercício e o alimento abundante dão colesterol e entopem as artérias destes corações desgastados de tantas paixões. Então nos fazemos árvores daqui e de outros lugares: Moreira, Pereira, Pinheiro. Temos tanto afeto à geografia que incorporamos Araripe. Tem coisa de limite poético nos dizemos NUVENS CIDADE. Nos chamamos CRATO CIDADE.
Por isso, empurrando dedos sobre um teclado de computador, à sombra de um apartamento no bairro do Jardim Botânico na cidade do Rio de Janeiro, como Socorro Moreira, somos a geodesia dos quantum que se dispersam como os galhos de um mesmo tronco.
José do Vale Pinheiro Feitosa
Arrepio no corpo, nó na goela, olhos marejando...Reflexos físicos de uma emoção, que o texto de José do Vale Filho provocou-me!
ResponderExcluirA nuvem do meu descanso, sempre pairou sobre o Crato...
Pé de serra prateado
ceú sempre verde
chão florido de acácias
tons de verso e universo!
Lua acesa
refresco das águas soltas
mordida nas frutas
gôsto dos mistérios!
Mas o coração não é relógio de cordas
com ponteiros e valsa de despedidas...
Crato é a minha madrugada
meu tango de Gardel
bolero de Ravel
Meu céu cuspindo neblina!
Agreste, serrana,zona da mata
a geografia estabelece a densidade do mel
O Crato é doce, como a bala sem papel
Como a vida...
quando os dedos se harmonizam
e deixam escorrer o céu!
É bom avistar a Chapada
(não apenas sobrevoá-la, num momento onírico)
sentir seus ares
com gôsto de quem nunca alcança
verdes tons...azul,rosado
fogo que ficou gelado !
Se todos te entendessem,
o mundo seria azul,
cercado de branco,
por todos os lados!
Vejo em tudo estrelinhas...
Minha cabeça vive uma poética enxaqueca...
Culpa dos ventos e do luar de agôsto
flores soltas...
mudam a cor da vida!
Na minha memória
um som na vitrola
soluça "Anaih"...
Arrepio no corpo, nó na goela, olhos marejando...Reflexos físicos de uma emoção, que o texto de José do Vale Filho provocou-me!
ResponderExcluirA nuvem do meu descanso, sempre pairou sobre o Crato...
Pé de serra prateado
ceú sempre verde
chão florido de acácias
tons de verso e universo!
Lua acesa
refresco das águas soltas
mordida nas frutas
gôsto dos mistérios!
Mas o coração não é relógio de cordas
com ponteiros e valsa de despedidas...
Crato é a minha madrugada
meu tango de Gardel
bolero de Ravel
Meu céu cuspindo neblina!
Agreste, serrana,zona da mata
a geografia estabelece a densidade do mel
O Crato é doce, como a bala sem papel
Como a vida...
quando os dedos se harmonizam
e deixam escorrer o céu!
É bom avistar a Chapada
(não apenas sobrevoá-la, num momento onírico)
sentir seus ares
com gôsto de quem nunca alcança
verdes tons...azul,rosado
fogo que ficou gelado !
Se todos te entendessem,
o mundo seria azul,
cercado de branco,
por todos os lados!
Vejo em tudo estrelinhas...
Minha cabeça vive uma poética enxaqueca...
Culpa dos ventos e do luar de agôsto
flores soltas...
mudam a cor da vida!
Na minha memória
um som na vitrola
soluça "Anaih"...
Zé Fávio,
ResponderExcluirNão entendi ainda porque o Zé do Vale não posta o que escreve. Já mandei reiterados convites prá ele e...nada?
Mas... tudo bem!
Socorro,
ResponderExcluirPrecisamos organizar o seu livro de poesia, menina!