Emerson Monteiro
Houve uma época, no decorrer das fases da história, quando os estilos da Arte se apresentaram bem mais pronunciados nas diversificações pessoais. Seus autores produziam peças de acentuadas características, conforme o espaço restrito aonde viviam, presos a sociedades fechadas e de raras influências externas, porquanto lutavam contra os limites das horas e dos lugares. Por vezes, trabalhavam tão só visando os poucos habitantes de cidades ou pequenos estados.
Vieram os transportes mais rápidos, os primeiros instrumentos de encurtar distâncias na transmissão das mensagens, e, já nos albores do século XX, prevaleceram os decantados meios de comunicação de massa; rádio, cinema, disco, revista, televisão, jornal, livro, elaborados em escala industrial e com acentuada penetração em tudo que é recanto, graças ao ímpeto febril da revolução dos bens de produção.
Aqueles primeiros artistas do teatro, da pena, do pincel e da partitura, contudo, permaneceram vivos, sob os auspícios agora das modernas tecnologias de propagação dos chamados bens simbólicos, os produtos artísticos. Daí, eles passaram a disputar a preferência do público em outras fases, de igual para igual com os demais estilos que surgiram no futuro, até então restritos a feudos particulares e culturas reservas, nas cidades, línguas e nações.
Os dias de hoje mostram, em profusão, isto que se disse. O que antes, por exemplo, representava a literatura russa, aprimorada sob clima de nação cercada de mil particularidades e natureza típica, épocas geladas, províncias afastadas e costumes afeitos em remotos mundos, explodiu nas outras regiões da Terra, traduzida que foi nos mais diversos idiomas e padrões gráficos.
Assim também se deu com os autores de inúmeros outros povos. A novidade atual representa o imediatismo, o consumo fácil, na chamada Aldeia Global, segundo a feliz denominação de Marshall Mcluhan, autor canadense em voga nos anos 70, estudioso emérito dos meios de comunicação de massa, que resumiu na palavra “mídia” o composto formado pela imprensa universal.
Ainda que não quiséssemos, nossa província reverteu-se numa parte integrante do todo dessa aldeia, a receber suas normas e práticas através das chamadas usinas de produção da informação, indústrias que invadem os lares e detém mais poder de convencimento do que a moral oficial, as religiões estabelecidas e a escola tradicional. O Grande Irmão, conforme escreveu George Orwell, no livro “1984”, comanda essa orquestra formada pela raça humana, integrada nos circuitos elétricos, sinais eletromagnéticos de ondas e cabos e condutores de alta precisão.
Por conta disso, ficou quase imperceptível identificar os estilos, vivos num passado recente de alguns séculos, e justificar o que seja classicismo, barroco, romantismo, simbolismo, naturalismo, realismo, impressionismo, modernismo, expressionismo, psicodelismo, etc., tarefa restrita, neste momento, aos estudos das salas de aula. Porquanto a realidade pós-moderna engloba casca e nó, a reunir desde oralidade, cultura popular a tecnicismo artificial, no caldeirão multidisciplinar a ferver, dia após dia, drama cotidiano das espécies, pessoas, bichos e coisas, numa massa informe e processual.
O rebanho das idéias encontrou tantos intérpretes e criadores que a forma consagrada perdeu-se no caldo grosso dessa fertilidade impetuosa dos conteúdos ilimitados.
E para concluir, quero lembrar Paulo de Tarso, São Paulo, o Apóstolo da Cristandade, que certa vez afirmou: “Tudo é lícito, mais nem tudo me convém”. Isto é, a ninguém cabe ignorar a diversidade que apresentam esses tempos híbridos e alegar o desconhecimento das chances que se oferecem de conhecer tudo e escolher, sempre, o melhor que lhe compete, da herança comum a todos nós.
Existe questões crucias que a vida nos impôe como a impermanência e a finitude que devemos aceitá-las ou brigaremos contra a própria natureza da vida que se relaciona inexoravelmente com o movimento,o tempo e a "transitoriedade".
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