segunda-feira, 24 de setembro de 2007

LUIZ SÁ





Ao abrir os cadernos do jornal O Globo que apresentam os filmes em cartaz nos cinemas do Rio de Janeiro, o leitor se depara com uma seção em que os filmes são classificados segundo um grupo de críticos. A classificação é orientada por elaborado desenho em estilo gráfico, linhas que formam um assento e um bonequinho. O bonequinho viu, não gostou e foi-se embora; viu, achou monótono e acabou dormindo no assento; viu, se ligou sem entusiasmo e ficou só olhando; viu, entusiasmou-se e sentando mesmo aplaudiu até que, finalmente, viu, era uma obra prima e aplaudiu de pé.

O bonequinho é uma criação do cearense Luiz Sá, um dos maiores cartunistas do século XX no Brasil. E ser cartunista brasileiro é uma referência mundial, pois aqui se projetam grandes talentos. Luiz Sá de sua geração foi o mais completo: trabalhou em jornais, em revistas, fez design como o citado para o Globo, fez desenho animado para os Telejornais que se antecipavam ao filme principal da noite; elaborou material para a saúde pública, fez propaganda, havia uma embalagem de um chiclete bola com variadas cenas dos famosos personagens que ele criou para o A Revista Tico-Tico: Reco-Reco, Bolão e Azeitona.

O reinado de Luiz Sá foi longo. Trabalhou entre 1930 e 1979 quando faleceu. A sua participação na revista Tico-Tico criando um dos primeiros personagens de História em Quadrinhos do Brasil o projeta através de várias gerações dada a importância que a revista teve na cultura nacional. Em 11 de outubro de 2005 a Revista Tico-Tico fez 100 anos: de influência européia, imitando a revista francesa La Semaine de Suzette. A revista já nasceu com uma tiragem de 21 mil exemplares. Já vinha com quatro páginas coloridas e as demais eram monocromáticas mas com cores diferente do preto: vermelho, azul ou verde. Tinha ênfase na literatura, com diversos assuntos culturais (poesia, contos, atrações educativa, jogos, datas históricas e referências a fatos de sucesso no cinema, música, letras de música, peças teatrais etc.) e muito quadrinho. A Tico-Tico era da editora do jornal O Malho. Carlos Drummond de Andrade, Érico Veríssimo, Ruy Barbosa,e Arnaldo Niskier foram marcados pela revista.

Luiz Sá foi funcionário do Serviço Nacional de Educação Sanitária, órgão criado por Getúlio Vargas em 1941. Foi neste serviço que o cartunista elaborou um conjunto de folders orientadores para as questões de saúde. De acordo como os padrões da época, sujeitos ao desgaste do tempo, no entanto, vemos materiais como: "Ovos Leite e Seus Derivados. Legumes, Fígado e Frutos. Inclua na refeição; esse cardápio diário. Dá tudo que é necessário. Do organismo à proteção." Foram elaborados livrinhos para distribuição gratuita falando em doenças, cuidados e proteção da saúde.

Quando o imperialismo tornou-se hegemônico nos quadrinhos brasileiros por volta dos anos 60, Luiz Sá sofreu grandes problemas financeiros. Foi morar na cidade de São Gonçalo, na região metropolitana do Rio e lá contraiu Tuberculose, tendo sido internado no Hospital Azevedo Lima que fica em Niterói no ano de 1974. Durante sua internação preparou um conjunto de desenhos sobre saúde.

Entre 18 de setembro e 04 de novembro, o Centro Cultural do Banco do Nordeste em Fortaleza, realizará uma exposição comemorando 100 anos do nascimento de Luiz Sá com a apresentação de 150 variados trabalhos do cartunista. Os Caririenses que vivem na capital ou passarão por lá, já têm um ótimo programa cultural.

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