Madrugada insone. Tela de TV impaciente. Sucedem-se os canais ao sabor do dedo nervoso que zapeia incontinente. Madrugada desinteressada pelas programações desinteressantes. Afinal, algo motivante: o poeta Miró aparece triunfal na telinha, num programa da TVSESC.
O poeta e a cidade de São Paulo, numa dialética antropofágica. O poeta vomita palavras em loucos poemas. Usa um chapeuzinho estranho. Estranho, uma pitomba! Estranhíssimo! Mais estranha, porém, é sua poesia.
O poeta e a cidade de São Paulo, numa dialética antropofágica. O poeta vomita palavras em loucos poemas. Usa um chapeuzinho estranho. Estranho, uma pitomba! Estranhíssimo! Mais estranha, porém, é sua poesia.
A lembrança recobra o Salão de Outubro, parece que o último. Craterdã, Parque Municipal, 1986. Miró estava lá, abduzido de Petrolina, com a cumplicidade de Lupeu. Na abertura, tava programada uma homenagem à Patativa do Assaré, que seria a grande estrela da noite, com direito a um recital exclusivo e muita tietagem de todos os poetas menores. Mas Miró, como disse, estava lá, para, numa torquatada netiniana, desafinar o coro dos contentes.
Miró é performance pura, um happening-man. Miró quer palco, quer atenção. Miró, em relação à poesia, é edipiano. Ele come a poesia, literalmente. Assim, Miró não poderia, jamais, conformar-se com tamanha e explícita bajulação. Muito menos com o deslavado monopólio poético que naquela noite se dava. Resolveu chutar o pau da barraca. Foi ao palco e cometeu um dos maiores sacrilégios que um poeta menor poderia cometer: interromper a sacrossanta apresentação de um poeta maior. Pois foi o que ele fez. Tomou o microfone das mãos de Patativa e fez um lindo protesto poético. O primeiro a entendê-lo foi Patativa, que dividiu o final do seu recital com Miró. De rodo, todos os outros poetas entenderam. E, mais além, viram maravilhados que Miró é um poeta maior também.
Miró é performance pura, um happening-man. Miró quer palco, quer atenção. Miró, em relação à poesia, é edipiano. Ele come a poesia, literalmente. Assim, Miró não poderia, jamais, conformar-se com tamanha e explícita bajulação. Muito menos com o deslavado monopólio poético que naquela noite se dava. Resolveu chutar o pau da barraca. Foi ao palco e cometeu um dos maiores sacrilégios que um poeta menor poderia cometer: interromper a sacrossanta apresentação de um poeta maior. Pois foi o que ele fez. Tomou o microfone das mãos de Patativa e fez um lindo protesto poético. O primeiro a entendê-lo foi Patativa, que dividiu o final do seu recital com Miró. De rodo, todos os outros poetas entenderam. E, mais além, viram maravilhados que Miró é um poeta maior também.
Comecei a ler o "Post", sem olhar quem era o autor.Na quinta linha , sem medo de errar, dissse com toda firmeza: É de Rafael. Acertei na mosca. É isso ae companheiro, Cavaleiro.
ResponderExcluirQuando a empatia funciona percebe-se claramente o quão é bom nossa amizade.
Voçê é um craque na escrita.
Um abração forte.
Cavaleiro Glad,
ResponderExcluirValeu pelo comentário, sempre generoso. Abração!
Rafa,
ResponderExcluirEu não estava no dia mas "o escândalo" me foi comentado por você quando cheguei de algum lugar (MachuPichu). De vez em quando estou longe daqui procurando reencontrar todos vocês de uma so vêz. Tá difícil!
Luiz,
ResponderExcluirNo ano seguinte você tava e rolou, no Salão subsequente, um um dos shows mais bonitos que (ou)vi: "Seja feliz, mastigando o meu chiclete..."