terça-feira, 27 de novembro de 2007
Cultura e sabedoria populares
Foto: Sérgio Bade
As manifestações culturais populares são muitas vezes tratadas como objetos exóticos, pertencentes ao passado e que pouco têm a nos dizer. Essa concepção de cultura popular tem sua origem no século XVIII, quando intelectuais da emergente civilização européia passaram a denominar de estranhos os hábitos e ritos, o jeito de ser e de viver das populações pobres. Com isso se estabelecia um profundo abismo entre a cultura das elites, erudita e civilizada, e a cultura dos populares, estranha e primitiva. Pior ainda, a cultura popular era retirada do seu contexto, perdendo o seu significado.
Quero aqui pontuar três aspectos que considero importantes nessa discussão. Inicialmente, quando falo cultura não estou me referindo somente às manifestações artísticas, mas, sobretudo ao modo de viver de um determinado povo, pois a cultura diz respeito a todos os aspectos da vida do ser humano e não apenas ao artístico.
Em segundo lugar, a cultura é um espaço de conflitos e de aproximações. Espaço de conflitos porque sua produção tem um lugar social. Daí, muitas vezes, o desprezo e/ou o olhar de superioridade das elites (intelectuais, econômicas, religiosas) em relação às manifestações populares. Estas são fruto de uma longa experiência de vida. Para os que as produzem e as vivenciam elas tem um sentido e um significado próprios. Não são meras apresentações artísticas, como o show de um cantor ou de uma banda de forró. Espaço de aproximações porque não existe uma cultura fechada em si mesma ou uma cultura pura. As culturas mantêm entre si uma relação de influências mútuas e de mudanças constantes.
Por fim, a produção cultural está localizada socialmente. Assim, quando falo em cultura popular estou me referindo à cultura produzida pelas camadas populares (subalternas). Nesse sentido, vale salientar que a cultura popular é fruto, sobretudo das experiências cotidianas vivenciadas pelos populares. Agora, essas experiências são vividas em constante relação com os demais grupos sociais.
É preciso, portanto, ter cuidado para não rotular de relíquias, que devem ser preservadas e guardadas numa redoma, as manifestações da cultura popular. Não é disso que essas manifestações precisam. Elas precisam ser respeitadas nas suas especificidades e nos seus significados. Elas precisam ser respeitadas enquanto expressão de vida de determinados grupos sociais. Infelizmente, nem sempre, é isso o que ocorre. No entanto, o mais interessante é que, independente da vontade de estudiosos, intelectuais, poder público, etc., as manifestações populares continuam existindo e resistindo às tentativas de globalização, destruição e massificação. É a sabedoria popular que teima em sobreviver num mundo cada vez mais dominado pelos interesses do capital e do modismo. Que possamos aprender um pouco com essa sabedoria.
Benvindo!
ResponderExcluirUm comentário pertinente e preciso quanto ao significado de cultura popular. Um pouco de reflexão não faz mal para quem insiste em se apegar à velhas discussões sobre cultura e ainda acha que democratizar a cultura independe do ponto de vista de quem vai receber o "presente".
ResponderExcluirMeu amor, Parabéns pela sua participação no blog CaririCULT e pela contribuição reflexiva sobre a cultura popular brasileira... a minha percepção sobre o tema fica maior e verifico o quanto rico é o nosso povo com seus saberes e práticas.
ResponderExcluirCultura popular, essa manifestação do povo tão extremada: ou endesauda ou esconjurada, quando, na verdade, é apenas(!) uma manifestção do povo, na sua luta diuturna pela sobrevivência e pra se fazer presente, visível.
ResponderExcluirViva a cultura popular!
Olá, reparei que a foto é do Sérgio Bade, vocês tem o contato dele? Parabéns pelo blog!
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