A idéia é histórica. Os nazistas a tiveram como prática política central. Os adversários são inimigos e os inimigos devem ser eliminados. Por isso mesmo era uma ideologia política tão antidemocrática. Os inimigos evoluem no processo, começaram com os comunistas, depois certos grupos de comportamento, em seguida atingiu certos grupos étnicos e depois os liberais. Para cada inimigo há uma razão estratégica e uma tática apropriada para combatê-los. Porém o eixo que mais caracterizou o nazifascismo como luta ideológica e regimes de governo pervertidos, foi sempre a tendência a eliminar os inimigos, excluir os adversários.
Antes que me ponha de modo unilateral relembro as grandes questões revolucionárias desde o século XVII. A revolução inglesa, especialmente com Crommel, foi regicida, autoritária e perseguiu os inimigos da mesma como forças a serem eliminadas. A revolução francesa, então, especialmente na efervescência dos jacobinos, no período do terror, foi de uma violência humana nas raias de voltar-se contra os próprios líderes jacobinos, afinal Robespierre também terminou na forca (as guerras napoleônicas arrasaram gerações). A revolução russa, já no século XX foi uma revolução de grandes conflitos humanos, enormes impactos da ação revolucionária sobre os inimigos da revolução.
No entanto, encontro uma diferença nos dois tipos de violência. A revolucionária ocorre no contexto de enormes conflitos de classes e de esgotamentos de regimes políticos, enquanto o tipo de violência do nazismo (que pode ser tratado igualmente no século XX com os expurgos de Stalin, o impacto social em mortes da grande depressão dos anos 30, os regimes revolucionários em diversos países mais periféricos ao centro industrial) é a mera violência da hegemonia do poder, de natureza não revolucionária, conservadora, buscando reduzir os beneficiários ou adversários do modo de gerir o bem público.
Hoje na coluna do Veríssimo ele aborda exatamente como nos centros urbanos as fronteiras entre as pessoas desapareceram. Os bem aquinhoados em renda se encontram em permanente contato com os que vivem no limite da sobrevivência. Este contato é gerador de conflito de classes, sem muita consciência de grupo, mas já com relativa intolerância em diversos termos: territorial, tipo físico, posturas, roupas e comportamentos. A classe média clean, moderna, que fala outras línguas, tem MBA, carrão, um sonho em Miami, - estou caricaturando apenas – vê os territórios de favelas como território inimigo, não gosta de negros e mulatos, de como se vestem, de suas tranças no cabelo e odeiam a música dos morros (hoje até dança, nalguma Rave um Funk, mas o estilo quando no morro causa asco).
A primeira vez que no pós-guerra, a era da social-democracia, do Keynisienismo econômico, dos direitos humanos e sociais, eu vi falar em população excludente, foi num artigo do atual prefeito do Rio, César Maia, no início dos anos 90. A diferença era sutil: os democratas brasileiros lutavam por uma sociedade justa, um momento em que as populações excluídas de renda e vida social fossem recuperadas e ao final o Brasil tivesse uma sociedade mais equilibrada. Mas o artigo do César, no contexto do neoliberalismo dos anos 90, revelava que no mercado havia um lixo humano irrecuperável. Um lixo humano sem solução humanística, sem possibilidades econômicas, culturais e sociais. Não disse o César, mas o não dito aterrorizava com a imagem dos fornos crematórios nazistas, que afinal é o símbolo para a eliminação física do "lixo humano".
Esse pensamento sempre existiu ideologicamente em algumas pessoas, mas tem sido minoritário. No entanto, no espaço livre da Internet, seja por e-mails, por artigos e Power Points, por artigos de blogs, comunidades de debate e na imprensa oficial se dissemina um tipo de ideologia que pretende construir uma hegemonia nestes termos e isso é muito perigoso. A principal é trabalhar com a ignorância histórica e com temas não explicitados, como se houvesse nexo causal entre eles. Quais os temas este ovo de serpente germina?
O primeiro deles é o dos direitos humanos. A hegemonia deste discurso ocorre principalmente através de agentes policiais que vivem no meio do conflito social. Estas forças que operam na segurança pública operam principalmente e, preferencialmente, contra pobres e territórios em que vivem. Daí o discurso a ele vinculado, aí já por políticos, pensadores e líderes de opinião na imprensa, começa a se transformar em ideologia da exclusão. O outro é dos direitos sociais: saúde, educação, assistência, previdência e seguro desemprego. A matriz se encontra no pagamento de impostos, especialmente pelas classes médias, pois o imposto no país é regressivo, quem ganha mais paga menos. Como a classe média conhece parte do seu quinhão, Imposto de Renda de CPMF, ela é o foco deste tipo de hegemonia. Como se atacam os direitos sociais, por vários modos. Os discursos principais vêm pelo falso dilema entre público e privado; o estado corrupto, o funcionalismo marajá, o ataque à política e aos políticos e agora o parasitismo social dos mais pobres. O bolsa família é um bom mote, pois se politizou eleitoralmente à esquerda e, principalmente, à direita.
O que assusta de tudo isso é que hoje, como nos anos trinta a irracionalidade, o ódio focado em alguns, em princípios e pessoas possa retornar como mais uma desgraça demográfica e ambiental. Já ouvi, pasmado, argumentos demográficos, uma guerra é bom para reduzir esta quantidade de gente. Acontece que esta gente é o meu, o teu, os nossos pais, filhos e netos. E o pior de tudo, uma guerra é mais destruidora da natureza de modo direto ou indireto, tanto na ocasião como depois na paz do que se imagina. Uma nova guerra mundial em decorrência de regimes conservadores que excluem, é um suicídio ambiental.
Antes que me ponha de modo unilateral relembro as grandes questões revolucionárias desde o século XVII. A revolução inglesa, especialmente com Crommel, foi regicida, autoritária e perseguiu os inimigos da mesma como forças a serem eliminadas. A revolução francesa, então, especialmente na efervescência dos jacobinos, no período do terror, foi de uma violência humana nas raias de voltar-se contra os próprios líderes jacobinos, afinal Robespierre também terminou na forca (as guerras napoleônicas arrasaram gerações). A revolução russa, já no século XX foi uma revolução de grandes conflitos humanos, enormes impactos da ação revolucionária sobre os inimigos da revolução.
No entanto, encontro uma diferença nos dois tipos de violência. A revolucionária ocorre no contexto de enormes conflitos de classes e de esgotamentos de regimes políticos, enquanto o tipo de violência do nazismo (que pode ser tratado igualmente no século XX com os expurgos de Stalin, o impacto social em mortes da grande depressão dos anos 30, os regimes revolucionários em diversos países mais periféricos ao centro industrial) é a mera violência da hegemonia do poder, de natureza não revolucionária, conservadora, buscando reduzir os beneficiários ou adversários do modo de gerir o bem público.
Hoje na coluna do Veríssimo ele aborda exatamente como nos centros urbanos as fronteiras entre as pessoas desapareceram. Os bem aquinhoados em renda se encontram em permanente contato com os que vivem no limite da sobrevivência. Este contato é gerador de conflito de classes, sem muita consciência de grupo, mas já com relativa intolerância em diversos termos: territorial, tipo físico, posturas, roupas e comportamentos. A classe média clean, moderna, que fala outras línguas, tem MBA, carrão, um sonho em Miami, - estou caricaturando apenas – vê os territórios de favelas como território inimigo, não gosta de negros e mulatos, de como se vestem, de suas tranças no cabelo e odeiam a música dos morros (hoje até dança, nalguma Rave um Funk, mas o estilo quando no morro causa asco).
A primeira vez que no pós-guerra, a era da social-democracia, do Keynisienismo econômico, dos direitos humanos e sociais, eu vi falar em população excludente, foi num artigo do atual prefeito do Rio, César Maia, no início dos anos 90. A diferença era sutil: os democratas brasileiros lutavam por uma sociedade justa, um momento em que as populações excluídas de renda e vida social fossem recuperadas e ao final o Brasil tivesse uma sociedade mais equilibrada. Mas o artigo do César, no contexto do neoliberalismo dos anos 90, revelava que no mercado havia um lixo humano irrecuperável. Um lixo humano sem solução humanística, sem possibilidades econômicas, culturais e sociais. Não disse o César, mas o não dito aterrorizava com a imagem dos fornos crematórios nazistas, que afinal é o símbolo para a eliminação física do "lixo humano".
Esse pensamento sempre existiu ideologicamente em algumas pessoas, mas tem sido minoritário. No entanto, no espaço livre da Internet, seja por e-mails, por artigos e Power Points, por artigos de blogs, comunidades de debate e na imprensa oficial se dissemina um tipo de ideologia que pretende construir uma hegemonia nestes termos e isso é muito perigoso. A principal é trabalhar com a ignorância histórica e com temas não explicitados, como se houvesse nexo causal entre eles. Quais os temas este ovo de serpente germina?
O primeiro deles é o dos direitos humanos. A hegemonia deste discurso ocorre principalmente através de agentes policiais que vivem no meio do conflito social. Estas forças que operam na segurança pública operam principalmente e, preferencialmente, contra pobres e territórios em que vivem. Daí o discurso a ele vinculado, aí já por políticos, pensadores e líderes de opinião na imprensa, começa a se transformar em ideologia da exclusão. O outro é dos direitos sociais: saúde, educação, assistência, previdência e seguro desemprego. A matriz se encontra no pagamento de impostos, especialmente pelas classes médias, pois o imposto no país é regressivo, quem ganha mais paga menos. Como a classe média conhece parte do seu quinhão, Imposto de Renda de CPMF, ela é o foco deste tipo de hegemonia. Como se atacam os direitos sociais, por vários modos. Os discursos principais vêm pelo falso dilema entre público e privado; o estado corrupto, o funcionalismo marajá, o ataque à política e aos políticos e agora o parasitismo social dos mais pobres. O bolsa família é um bom mote, pois se politizou eleitoralmente à esquerda e, principalmente, à direita.
O que assusta de tudo isso é que hoje, como nos anos trinta a irracionalidade, o ódio focado em alguns, em princípios e pessoas possa retornar como mais uma desgraça demográfica e ambiental. Já ouvi, pasmado, argumentos demográficos, uma guerra é bom para reduzir esta quantidade de gente. Acontece que esta gente é o meu, o teu, os nossos pais, filhos e netos. E o pior de tudo, uma guerra é mais destruidora da natureza de modo direto ou indireto, tanto na ocasião como depois na paz do que se imagina. Uma nova guerra mundial em decorrência de regimes conservadores que excluem, é um suicídio ambiental.
Zé do Vale,
ResponderExcluirOntem, ganhei emprestado o teu livro...Vou ler todinho, e depois te escrevo!