VISTA SOTURNA
Visão panorâmica do Crato
A partir da Pedra da Batateira
Eu, definitivamente, adoro ser cratense, é sem dúvidas o meu passatempo preferido, chega a ser um êxtase divinal. Luto para dilapidar o negror da minha insignificância, através das ferramentas que os gênios, a cultura e os ideais de grandeza que formam os arquétipos dessa cidade, repassam para mim, num franco rito de passagem, de catarse, de sublimação. Mas é tudo em vão, eu fraquejo diante das sabotagens da realidade, da libido profana dos sinais incandescentes que trafegam acima da velocidade da luz, e da venalidade erótica dos ícones e arabescos holográficos que bordam o cobertor que conforta o frio existencial do século XXI.
O fato é que o último grande poeta do Crato foi Olavo Bilac, com seus bigodinhos engordurados por mecanismos eclesiásticos, e que sua sombra retórica teima em povoar a maioria das recriações lidas em saraus ao pé da grande mãe chapada do Araripe. O último grande cânone cultural do Crato foi o empalhamento da portentosa tosse de Vicelmo,o baluarte. A última grande banda cratense foi a dos irmãos Anicetos, que só é capaz de quebrar o discurso harmônico das experiências modais de Coltrane e das enfadonhas experiências quartais de Corea, devido à herança indelével da bandinha Rosa Guede. O nosso (oh velho e caquético sentimento de posse) último grande pintor foi Matisse, que envergonhado pelo cabaré geral da cultura contemporânea cratense, desapareceu sem deixar vestígios. Dizem que foi visto sorrateiramente, completamente drogado, especulando sobre o paradeiro de Glorinha. A nossa última grande, expedição científica, capaz de retificar as esquinas suburbanas do materialismo histórico, foi uma missa campal celebrada aos pés do indigente rio Batateiras, ou seja, o bispo Pânico orando diante do pinico. A nossa última grande obra foi a divisão ao meio da avenida perimetral, feito comparado ao de Moisés diante do Mar-Vermelho, sendo que a travessia bíblica levava a uma nova terra para o povo que fugia do Egto, já a avenida foi dividida para organizar o fluxo que deságua no Parque de Exposições do Crato, reduto dos últimos faraós embalsamados. O nosso último programa de televisão..., bom aí já não estamos mais em nossa jurisdição.
Talvez seja eu, perdulário na ética, cego pelo egocentrismo, inapto pela deficiência intelectual, parvo pela falta de conhecimento, isolado pela quebra das trocas simbólicas. Talvez seja essa síndrome de vanguarda do Crato em decorar filosoficamente poços de elevador, ou ainda esse complexo de Narciso, que passa o tempo sentado na beira do canal, contemplando sua própria exuberância quântica, enquanto os restos, as migalhas, os farelos da civilização, desfilam esgoto abaixo. Mas é assim que eu vejo o Crato, noturnamente.
Marcos Leonel
Visão panorâmica do Crato
A partir da Pedra da Batateira
Eu, definitivamente, adoro ser cratense, é sem dúvidas o meu passatempo preferido, chega a ser um êxtase divinal. Luto para dilapidar o negror da minha insignificância, através das ferramentas que os gênios, a cultura e os ideais de grandeza que formam os arquétipos dessa cidade, repassam para mim, num franco rito de passagem, de catarse, de sublimação. Mas é tudo em vão, eu fraquejo diante das sabotagens da realidade, da libido profana dos sinais incandescentes que trafegam acima da velocidade da luz, e da venalidade erótica dos ícones e arabescos holográficos que bordam o cobertor que conforta o frio existencial do século XXI.
O fato é que o último grande poeta do Crato foi Olavo Bilac, com seus bigodinhos engordurados por mecanismos eclesiásticos, e que sua sombra retórica teima em povoar a maioria das recriações lidas em saraus ao pé da grande mãe chapada do Araripe. O último grande cânone cultural do Crato foi o empalhamento da portentosa tosse de Vicelmo,o baluarte. A última grande banda cratense foi a dos irmãos Anicetos, que só é capaz de quebrar o discurso harmônico das experiências modais de Coltrane e das enfadonhas experiências quartais de Corea, devido à herança indelével da bandinha Rosa Guede. O nosso (oh velho e caquético sentimento de posse) último grande pintor foi Matisse, que envergonhado pelo cabaré geral da cultura contemporânea cratense, desapareceu sem deixar vestígios. Dizem que foi visto sorrateiramente, completamente drogado, especulando sobre o paradeiro de Glorinha. A nossa última grande, expedição científica, capaz de retificar as esquinas suburbanas do materialismo histórico, foi uma missa campal celebrada aos pés do indigente rio Batateiras, ou seja, o bispo Pânico orando diante do pinico. A nossa última grande obra foi a divisão ao meio da avenida perimetral, feito comparado ao de Moisés diante do Mar-Vermelho, sendo que a travessia bíblica levava a uma nova terra para o povo que fugia do Egto, já a avenida foi dividida para organizar o fluxo que deságua no Parque de Exposições do Crato, reduto dos últimos faraós embalsamados. O nosso último programa de televisão..., bom aí já não estamos mais em nossa jurisdição.
Talvez seja eu, perdulário na ética, cego pelo egocentrismo, inapto pela deficiência intelectual, parvo pela falta de conhecimento, isolado pela quebra das trocas simbólicas. Talvez seja essa síndrome de vanguarda do Crato em decorar filosoficamente poços de elevador, ou ainda esse complexo de Narciso, que passa o tempo sentado na beira do canal, contemplando sua própria exuberância quântica, enquanto os restos, as migalhas, os farelos da civilização, desfilam esgoto abaixo. Mas é assim que eu vejo o Crato, noturnamente.
Marcos Leonel
a metralhadora do lobo!!!
ResponderExcluirquá quá quá quá
lobisomem não é a tôa que sou seu fã incondicional.
e como diz o caquético caetano: "minha pátria é minha língua".
e que morram a míngua os inconsoláveis, os que não sabem "ler", os que postam anonimamente, e os que incrivelvelmente não sabem ver ou ouvir.
reafirmo: sou teu fã. soldado armado sob a sua bandeira.
hasta la vista siempre.
valeu The Lupas
ResponderExcluirisso é recíproco
você sabe que é, desde
o sexosacro.
abraços
Texto ferino, afiado dentes de fera. Bem no centro do ufanismo provinciano em modas que já passaram e teimam em permanecer. Um furacão por sobre N. Orleans, um Katrina de ironias como sal na fogueira das vaidades. Um lobo solitário na trilha de uma gazela entre flores. Vampiro das causas que se abrem ao sol, sob a sombra de um Jatobá. Texto, teu destino é furar, sangrar, o mais óbvio do que se blogueia na cidade. Uma vez se quedando às margens do rio podre, Drácula em sua mais acre tapa na cara de muitos que na mesma terra habitam, se esfuma nas noites do entendidos e sub-entendidos. Agora é esperar a reação dos torpedeados nesta elegância estilística de um texto bem trabalhado. Dos atingidos que reação virá? Textos como esses podem injetar energia em certa sonolência. Mas podem ferir tão apenas sadicamente. Eis um mote para o dia, só não adianta ir pela noite sem os utensílios que os defendam da sedução que pode degenerar como um dandismo igualmente provinciano, feito o costureiro Denner (fresco e antigo) ou seu espectro Clodovil.
ResponderExcluirNão sei se rio ou desaguo meu choro no mar das futilidades...
ResponderExcluirFutilidades...Bem dito, qualquer ficaria em dúvida, entre rir ou chorar! O cara quando é ignorado, por não fazer nada convincente, realizar, realizar-se, ataca, esbraveja-se, mas não passa disso, de mais um na lista dos ignorados... oh textinho fula...
ResponderExcluirA vizilância anômima não perdoa certas tolices...
Homini lopus,
ResponderExcluirAinda há tempo (com a relatividade intrínsica)! Seremos fenix, sempre! Somos filhos-cavaleiros de Crato-Cósmica, distrito de Avallon, e não desistimos nunca! Nos eternizamos na impermanência!
O que? hãm quem? que linguagem é essa de que dicionário foram extraída essas palavras todas valei-me meu padim ciço só no crato mesmo.algumas vezes as pessoas comuns visitam esse site seria interessante que elas entendessem o que se quiz dizer.vocês não acham? será que alguém me entende ?Abraços
ResponderExcluirPura viagem.
ResponderExcluirJoão Augusto