sexta-feira, 7 de dezembro de 2007





As borboletas sutis



E assim
Ele converte rios
Em desertos
E nascentes em
Terra sedenta
E em um vórtice
Faz habitar ali
Na solerte morte
Deitada no encardido
Da rede escarpada
O ar dos arados
Rente ao chão e
Além do horizonte

O medo maior
Que já espoliou
Minhas entranhas
Não se parece nada
Com esse desvão
Onde almas fundidas
A velhos ferrolhos
Resguardam tesouros
Fartos de mapas
Lá onde os carcarás
Gaguejam de azia
Rente ao vazio e
Além do carcomido

Tenho me
Confundido e
Resvalado no chão
Como o eco de
Palavras perdidas
Tenho despescado
O peixe azul e
Tenho retido
Em uma das mãos
O ar que me falta
Sou a permanência
Rente ao sido e
Além do retorcido

Morte maior
É a minha que é
Repetida várias vezes
Em várias fezes
Despovoada assim
Bem aos poucos
Dizem que meu barco
Naufragou em
Um rio fantasma
Que de tanto correr
Para o mar secou
Rente ao engasgo e
Além do engano

A última vez
Que eu vi Berta
De Aprígio Sozinho
Aquela a quem
Chamam de arribada
Ela trazia nas mãos um
Rosário azul e branco
E nos lábios uma
Reza espichada
De palavras achadas
Na enxadada
Rente ao plantio e
Além da colheita

Foi quando
Eu percebi que
As minhas favelas
Fabulam por dever
Contra o devir
E camuflam das
Agonias o estertor
Revezam o dia
Pela noite nos
Grandes lábios do
Abismo que me acolhe
Rente ao nascido e
Além do por morrer

São tantas
As primazias
Como assim tantos
São os pruridos
Como assim tantos
São Gertrudes e
Antônio e Apolônio
E Sebastiana com
Seus treze filhos
Feliz da vida sem
Grão pra enfeite
Rente ao fastio e
Além do por comer

Mas me diga
O que fazer por essa
Saudade por nada
Dessa pedra por
Tosco sabão sábio
Das sujeiras da
Velha alma posta
No quaradouro
Tão próximo a esse
Charco imóvel
Latente de batismo
Rente ao suplício e
Além do martírio

E esses
Tocos esturricados
Que se deitam espaçosos
Pela paisagem diurética
Que se erguem tão
Fantasmagóricos quando
A noite investe em
Passos largos vestindo
De vestígios o trem
De feira que percorre
A minha memória
Rente ao confisco e
Além do narrado

Não servem
Eles nem para
Delimitar o árido
Ante o hálito da
Árvore frondosa que
Finca reificando
A solidão sonora de
Sua sombra assombrada
Dormida em potes
E quartinhas e
Cabaças domesticadas
Rente ao armistício e
Além do ardil

Mas me diga tu
Lurdinha de Ubaldo
A quem chamam
De a venerosa
E ainda tu Malaquías
Da Baixa Danta
E ainda tu Eleutério
Da Santa Cruz
O que fazer por essa
Alma que vaga no
Deserto que se estende
Rente ao ralo e
Além do escorrido

Assim têm
Sido os meus dias
Longe das três chaves
E bem próximo do
Eterno retorno
Tenho esperado
Por ti e por ti
Esquadrinham meus
Rins e meu coração
Tiro os meus pés
Dessa rede
Rente ao relento e
Além do frio

Não me
Chamem agora
Para a terra prometida
Estou no aperreio
Dos meus farrapos
As noites debulham
Borboletas sutis
Que durante os dias
Prendem meu reflexo
Em seus espelhos
E voam em círculos
Rente ao engreno e
Além do debreio

3 comentários:

  1. Que alma tua,
    meu camarada!
    Que fôlego rítmico!
    Abraço.

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  2. Cara, que poema interessante, Marcos.
    Li de trás pra frente e também dá certo...

    Um grande abraço,
    seu fã,

    Dihelson Mendonça

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