As florestas nordestinas têm sido exploradas criminosamente. Em pouco tempo, devastaram-se milhares de quilômetros quadrados de ricas matas. Tem-se a impressão de que, em face de não ter havido providência proibitiva, rapidamente certos núcleos florestais sucumbiram, se eliminaram aos machados dos lenhadores; e mais, com a necessidade de abrir espaço para as culturas, os sítios, as estradas, as fábricas, o desflorestamento foi longe. No dizer de Pimentel Gomes, ultrapassou de muito as necessidades. Tornou-se uma rotina, uma espécie de vício. A devastação de florestas não se limitou às terras férteis, planas ou ligeiramente onduladas. Ganhou as encostas íngremes, galgou as montanhas, não respeitou nascentes dos rios e riachos, nem zonas de abastecimento de fontes naturais. Não cogitou o abrigo à fauna nem das exigências dos microclimas agradáveis e favoráveis ao homem. Houve, em síntese, a má fé, a ignorância da lei, a falta de mentalidade florestal ou visão de proteção à natureza.
A infração cometida não parte só dos pequenos, dos lenhadores, carvoeiros ou a lavradores profissionais que, por instinto de destruição e completa ignorância, eliminam a ferro e fogo tudo aquilo que a natureza levou muitos anos para formar.
Os maiores responsáveis pelo desflorestamento do Nordeste são os proprietários de sítios e fazendas que não têm observado o Código Florestal vigente e que criminosamente mandam derrubar mais de 3:4 partes de suas matas; os donos de frentes nas encostas dos morros ou serras que teimam em derrubar as matas protetoras; os prefeitos negligentes e insensíveis ao problema de reflorestamento de seus municípios; (...) a indústria de cortumes escolhe nas florestas árvores taníferas, despindo-as de suas cascas e sacrificando desta maneira, periodicamente, milhares de essências florestais. Assim, computando pequenos e grandes, temos realmente a lista tétrica dos exploradores e responsáveis pela devastação de nossas matas. Uns, de modo bárbaro e empírico, transformam as árvores em lenha ou carvão; outros, objetivando construções, fazem seleção de madeira, e consomem milhões de árvores.
* Abertura do artigo de autoria do engenheiro agrônomo Antonio Alves de Queiroz publicado no primeiro número da revista Itaytera, de 1955.
O artigo, escrito a 52 anos, é preocupantemente atual. Pouca coisa mudou de lá pra cá. E se o quadro era tétrico naquela época, imagine agora...
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