domingo, 23 de dezembro de 2007

Outro ano que nos espera

Emerson Monteiro


Dentre as vidas vividas, ou por viver, a mais valiosa, que na verdade pesa com destaque e torna evidente a força do universo de todas elas, trata-se da vida atual, através de que vemo-nos, face a face, perante as decisões do momento, no comando de nossos destinos, neste belo dia. Isso porque o passado deixou-se lá atrás nas suas experiências de estrada e o futuro apenas virá adiante; inexiste ainda como coisa palpável, por razões lógicas.

O presente, portanto, equivale a sabor de fria realidade, que responde a que se veio, no dispor das oportunidades constantes, nos dias. Haja considerações das outras horas, servem, pois, de citação, instrumento de estudo, lanterna de popa, contudo, a significar valor inestimável, porém fora do âmbito imediato.

Quais avaliações filosóficas para destacar a importância deste 2007 que daqui há pouco sumirá nas nossas vidas, no foco da civilização de um tempo de raros desafios. Todo ano merece o máximo respeito. Alguém até escreveu “ser este o derradeiro ano do resto de nossas vidas”.

Quando as ocorrências exigem mudanças específicas na correção dos rumos da história, cabe aos responsáveis diretos, aos vivos desta geração, se mobilizar e redefinir as perspectivas desses rumos.

Pessoas ou países mostram as caras semelhantes. Coletividades inteiras multiplicam por muitas vezes o processo dos indivíduos de que as compõem. Cada pessoa soma no resultado. Se o mundo formou o que existe, todos respondem pelo todo produzido.

Vive-se uma época de calmaria suspeita sobre inumeráveis barris de petróleo e ogivas nucleares. A Terra-mãe pena gemendo debaixo dos equívocos da raça humana, dona absoluta de tecnologias corrosivas. Milênios e milênios de trabalho e luta redundaram nesse filme antigo que, lagarto pegajoso, que invade as nossas casas e cobre nossos sofás. O preço conduz os corações e as mentes, poder totalitário das bolsas a impor normas e gritar ameaças de guerra.

Entretanto, novas respostas existem, no auge do império de medo e portas fechadas. Vêm através das íntimas consciências de cada uma das imprevisíveis criaturas humanas, fruto da luz transformadora, pela calha daquilo que se convencionou chamar de esperança e criatividade. Elaborar do espaço interior a renovação significativa de ampliar as atitudes para além das bases tão só materiais.

Há, por isso, níveis outros de apreensão da mesma realidade, tantas vezes inacessíveis a humanos, que surpreenderiam poetas e sonhadores. Testemunham essa possibilidade os cavaleiros andantes do espírito. Ano após ano, eles escrevem-se o discurso das eras.

Na dança, nações elaboram caminhos válidos. Turnos de idade se completam. Novas populações se sucedem. Nascem chorosas. Crescem ricas de força. Cantam. Falam. Constroem. Competem. Matam. Salvam. Criam fama. Chegam cedo e voltam tarde. Inveterados poluidores de rios, mares, lagos. Destruidores de florestas. Exterminadores de espécies. As folhas dos calendários viajam no vento das tardes azuis. Enquanto isso, vaidades provisórias tecem as notas da sinfonia de coisas eternas, nas dobras perfumadas do ano que começou.

Feliz Ano Velho e Próspero Ano Novo!

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