Ministra Matilde Ribeiro |
Cartões de crédito e a falta de exclamações!
É claro, óbvio ululante, para usar um termo apropriado, que Nelson não criticava os jornalistas, nem os jornais. Não, usava-os como exemplo de um comportamento nascituro. As pessoas passaram a não mais se chocar com os absurdos do cotidiano. Sendo assim, ninguém exclamava mais. É como se as maiores atrocidades não passassem de mera conseqüência das leis da natureza, como o orvalho que brota das manhãs frias.
Mas, não, não são! Um ministro não pode pagar gastos evidentemente pessoais com dinheiro público! Um governo não pode esconder tais despesas de quem o elegeu! O tribunal responsável por controlar os gastos não pode, cândida e cordeirescamente, aceitar que eles sigam escondidos sob o manto negro e suspeitoso da alegação de segurança nacional!
Pelo menos não num país civilizado e que se queira desenvolvido.
Metamorfose
O cartão corporativo é um fenômeno recente. Foi criado em 2001. Carrega no gene a boa intenção, algo que, no setor público, é virtude quase sempre falível. Sua função seria a de evitar que funcionários graduados do governo pagassem despesas comezinhas com cheques do Tesouro Nacional. Descritos numa fatura de cartão de crédito, esses gastos seriam melhor fiscalizados, além da vantagem de se estar manuseando um dispositivo muito mais moderno e seguro.
A coisa, porém, desandou. E foi no governo Lula. A atual gestão permitiu-se alargar a ritmo exponencial o volume de gastos quitados com os cartões. Denúncias e rumores dos mais cabeludos passaram a freqüentar o assunto. A antiga virtude da segurança e do controle esmaeceu. Em seu lugar, surgiram os vícios da falta de transparência, do abuso e do cinismo.
A ministra da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro, entrou primeiro na guirlanda do escândalo porque exagerou. Administra uma pasta de orçamento pífio. E apareceu como a principal usuária do cartão corporativo. Mas é certo, como a terra gira em torno do sol, que não é a única. Nem mesmo é a mais, digamos, descuidada com o dinheiro público.
Há casos e mais casos relatados anonimamente nos corredores da Esplanada. Diz-se, de certo ministro, que paga suas hospedagens em hotéis, e mesmo as bebidas do frigobar, com o cartão corporativo. O que não seria propriamente errado, se ele não recebesse quantias extra-salariais, as chamadas diárias, para se deslocar no território nacional. É um jeito meio cafajeste de se apropriar de dinheiro pequeno, porém público.
Há também outro que promove banquetes medievais com os colegas de partido, daqueles de se impressionar com o leitão sobre a mesa, maçã boca adentro. Discutem temas do partido. Traçam estratégias do partido. Tramam contra inimigos do partido. E pagam com o dinheiro do governo, isto é, com o seu, com o meu, com o nosso.
Absurdo
Ouvi também algo sobre compras de roupas em grifes famosas e caras. Tratamentos de beleza, operações plásticas e que tais. Não se sabe o que é lenda urbana, o que é futrica, o que é verdade. Mas esse é precisamente o ponto. Não há qualquer controle sobre os cartões corporativos. O Palácio do Planalto se nega a exibir as faturas porque isso poria em risco a segurança nacional (!!!!).
Não imagino, por absurdo que seja a hipótese, um alto funcionário do governo a comprar armas para defender as fronteiras amazônicas ou um novo sistema de controle anti-aéreo para a costa. E ao cabo da transação, puxar a carteira, sorrir para o vendedor, mostrar-lhe o famoso cartão e ouvir a pergunta do outro lado: débito ou crédito?
O caso dos cartões me incita uma série de exclamações. Talvez, a principal delas seja também a mais óbvia, para voltar ao Nelson e à "ululância" da vida: o governante eleito deve prestar contas ao eleitorado! E, mais que isso, zelar pelo bom uso dos recursos retirados impositivamente do distinto público!
Uma boa notícia foi divulgada na edição de hoje do DIÁRIO DO NORDESTE. A ver:
ResponderExcluir"O presidente da Comissão de Ética Pública da Presidência, Marcílio Marques Moreira, disse hoje que "pode haver" indícios de crime por parte da ministra especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro, no uso do cartão corporativo para compras numa free shop e em restaurantes. Após uma reunião dos cinco integrantes da comissão, Moreira disse que o grupo decidiu enviar à Controladoria-Geral da União (CGU) o caso envolvendo Matilde.
"Pode haver implicação no campo legal. Ao contrário da nossa comissão, a CGU tem capacidade de investigação", afirmou o presidente da Comissão de Ética Pública da Presidência. Moreira ressaltou que, no caso de uma compra feita numa free shop, ela alegou ter reembolsado o governo. Sobre se recomendaria a funcionários públicos ou autoridades o uso de cartão corporativo para pagamento de despesas pessoais, ele respondeu: "Evidentemente que não".
As últimas sobre a ministra-gastadeira (tirada do site da VEJA):
ResponderExcluirPlanalto avalia que Matilde deve deixar o governo
31 de Janeiro de 2008
Aboletada desde o início do governo Lula em um dos cargos mais misteriosos da Esplanada dos Ministérios, a ministra da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro, pode estar com os seus dias contados em Brasília. Devido à revelação de que Matilde é pródiga em gastar dinheiro com o cartão de crédito pago pelo governo – pagou até compras no free shop, o que é irregular, como se sabe –, o Palácio do Planalto considera que o melhor que a ministra tem a fazer neste momento é deixar o governo.
Assessores do presidente já teriam até enviado recados a Matilde, pedindo a sua saída. De acordo com reportagem do jornal Folha de S. Paulo desta quinta-feira, o próprio Lula deve cuidar da situação, possivelmente antes do final de semana. O presidente teme que o episódio seja mais um a manchar a imagem já bem suja de seu governo. Caso permaneça, a ministra pode ser convocada para dar explicações no Senado assim que a Casa voltar a funcionar, depois do carnaval. Para Lula, isso seria mais uma dificuldade em sua relação com os senadores, que desandou no ano passado.
Na quarta, Matilde foi convocada a esclarecer a farra do cartão por um grupo de cinco ministros no Planalto, entre eles Dilma Rousseff e Franklin Martins, que cuida da imagem do governo. Durante a reunião, a ministra foi informada de que, na avaliação do governo, sua situação é "ruim e grave". Segundo os ministros, ela não tem como alegar publicamente que não sabia das regras. Sequer podia ter feito o que fez.
Caso a saída de Matilde se confirme, o governo se livra de dois problemas. Além de dispensar uma ministra que usou dinheiro público em proveito próprio, não precisará mais dar explicações sobre algumas declarações um tanto disparatadas que Matilde andou dando desde que assumiu a pasta da Igualdade Racial. No ano passado, em entrevista à rede britânica BBC, Matilde saiu-se com a seguinte pérola: "não é racismo quando um negro se insurge contra um branco". Certamente não é o tipo de reflexão que contribui para o entendimento entre negros e brancos, ou seja, a promoção da igualdade racial.