Procurei o último verso
debaixo do sofá antigo
somente poeira.
Juro que fora escrito
com tinta úmida
de lapiseira falhando.
Era um verso tão bonitinho
quanto criança de cinco anos sorrindo de soslaio.
Garanto que chorei.
Era um verso tão cheio de verdade
quanto minha avó cantarolando à beira do fogão a lenha.
Demora uma eternidade para a gente iluminar-se
e atrair mariposas.
O pior, ultrajante mesmo
é que os insetos apaixonados
quando escrevem versos
morrem eletrocudados abraçados a fluorescentes.
Debaixo desse letárgico sofá antigo
traças e ácaros em libidinosa fantasia.
Ah, natureza, entendo:
comeram e beberam do meu verso.
Não te disse?
Era um verso tão imaculado
que cabia entre teu coração e minha mente.
Barroso: pois então nos diziam que a bebida seria amarga, a farra uma transgressão dos impedimentos cotidianos. Mas não é que as traças e os ácaros se embebedam de coisas imaculadas! De verdades que devem ser ditas. Por isso os versos não ficam aí como mercadoria nas prateleiras, eles circulam velozmente como o sangue e são recolhidos como a linfa.
ResponderExcluirdomingos:"Demora uma eternidade para a gente iluminar-se e atrair mariposas", é simplismente poesia elevada ao mais alto grau, ou seja, é do caralho.
ResponderExcluirQue lindo , menino !
ResponderExcluirAbraços