segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

GEORGE GARDNER : A LONGA ARTE DE UMA VIDA BREVE (Parte III)

A Viagem
No verão , em 14/03/1836, partiu de Glasgow e já no dia 20, Gardner embarcou de Liverpool (Foto 8) a bordo do barco “Memnon”.

Foto 8 – Liverpool na época de Gardner

Depois de uma travessia sem maiores atribulações, aportou no Rio de Janeiro em 23 de Julho do mesmo ano(Foto 9).


Foto 8 -Rio de Janeiro quando Gardner
desembarcou em gravura de Debret.


A beleza natural da cidade logo o cativou e escreveu para casa com termos ardorosos , descrevendo suas primeiras impressões. No meio de um cenário tão tentador para um naturalista, Gardner não ficou muito tempo inativo. Ele fez excursões freqüentes nos arredores do Rio e especialmente à Serra dos Órgãos. Nestes passeios, ele foi freqüentemente acompanhado pelo Dr. Miers, um cavalheiro residente no campo, de cuja bondade ele sempre falava nos melhores termos. Sua primeira coleção de plantas, sementes e espécies do herbário, foi extraída principalmente desta área. Esta coleção foi trazida para a Inglaterra em excelente condição e mostrou-se altamente interessante. Continha muitas orquídeas(Foto 10), (liliaceae?), palmeiras, etc.

Foto 10 - Catleya walkeria , orquídia descoberta por Gardner.

Subseqüentemente, ele foi ao interior e passou um tempo considerável explorando as regiões dos diamantes. Ele foi infatigável em sua missão, e suas longas e cansativas jornadas apresentavam freqüentemente aventura e perigo. Cinco anos – de 1836 a 1841 –foram passados no Brasil.
Antes de seu retorno em 1841, ele fez uma visita de despedida à serra dos Órgãos, cujo objetivo, conforme ele narrou em uma de suas cartas, foi para “fazer uma coleção de alguns arbustos finos e plantas herbáceas que eram encontradas nos níveis mais altos”, daquela escalada e levá-las vivas consigo. Depois de ir para o interior, ele encontrou dificuldades em enviar estas plantas sem sofrer algum tipo de danos. Mesmo assim, ele continuou a preservar grandes coleções para o herbário, que, com as sementes e plantas vivas podiam suportar a viagem pelo interior e seriam enviadas assim que houvesse uma oportunidade. Algumas das Melastomaceae, como a Pleroma benthamianum e a multiflora podem ser mencionadas entre o número das que ornamentam toda grande coleção de plantas que coletou.

Fósseis e Medicina
Apesar da botânica ser, naturalmente, sua busca principal, Gardner tinha sempre um olho no que seria de interesse a outros departamentos de história natural – portanto suas coleções foram acrescidas com minerais, conchas fossilizadas ou recentes, peles conservadas de pássaros, peixes, etc. ao mesmo tempo, ele não negligenciou as aquisições de espécies relativas à Medicina. Nas suas jornadas longas, ele sempre carregou seus instrumentos cirúrgicos e fez várias cirurgias importantes com pleno sucesso, as quais não somente melhoraram suas finanças, mas também lhe deram bons amigos – assim assegurando um grau de respeitabilidade, conforto e, em alguns casos, segurança entre as tribos nativas.Imaginem a importância de uma espécie rara como um médico no interior do Brasil, na maior parte das vilas, certamente, terá sido o primeiro esculápio a aportar por ali, até 1789 ( meio século antes da sua chegada ao Rio) o Brasil todo só possuía quatro médicos. Enquanto cuidava de seus trabalhos variados, ele mantinha sua correspondência com regularidade surpreendente, escrevendo freqüentemente para Sir William Hooker e Mr. Murray e ocasionalmente para os mais destacados botânicos estrangeiros da atualidade. Muitos dos seus trabalhos e cartas foram publicados por Sir William no “Jornal de Botânica”. Em um desses trabalhos, datado de 3 de setembro de 1840 e enviado da Província de Minas, ele refere-se à morte do seu generoso patrono, o Duque de Bedford, evidenciando a profunda gratidão pela qual ele foi movido. Nem negligenciou declarações elogiosas à conduta do benfeitor, em sua carta, como também demonstrou muito apreço em relação aos seus amigos de juventude tais como o Dr. Joseph Hooker e a família do Sr. Murray.

O Itinerário

Foto 11- Itinerário de Gardner

Gardner desembarcou no Rio de Janeiro e explorou a Serra dos Órgãos, embarcando depois para Salvador, Recife, Alagoas e para a desembocadura do Rio São Francisco. Partiu então para o Ceará onde desembarcou em Aracati, seguindo em lombo de burro para Icó , Lavras da Mangabeira, chegando no Crato em setembro de 1938 e tendo permanecido explorando a região até janeiro de 1939.Seguiu então para o Piauí, percorrendo parte do Maranhão, de Goiás, Tocantins, Minas Gerais ( Diamantina e Ouro Preto) e finalmente chegando ao Rio de Janeiro. Em março de 1841 procedeu ainda à outra excursão à Serra dos Órgãos que durou mais de um mês. Em maio de 1841 retomou o percurso de volta à Inglaterra com uma escala exploratória em São Luiz do Maranhão. Gardner percorrera , no Brasil, cerca de 10.000 Km, visitando regiões inóspitas, sujeito a moléstias tropicais, ataques de índios, aos rigores climáticos , à total falta de infra-estrutura de estradas, trilhas, mantimentos, víveres.

De Volta à Inglaterra
Gardner embarcou a bordo do navio “Gipsey” em 06/05/1841, tendo ainda parado no Maranhão, para carregamento da embarcação, só prosseguindo viagem em 08 de Junho. Chegando por fim à Inglaterra em 18/07/1941, após quase cinco anos de viagem. Em 1842, não muito depois do seu regresso, Gardner foi eleito professor de botânica na Universidade Andersoniana.(Foto 12)


Foto 12- Herbário de Kew , onde Gardner trabalhou após sua volta

Trouxe um rico herbário de mais de 6000 espécies. Enquanto isso, ele se ocupou preparando material para o seu diário sobre o Brasil, com intenção de logo vê-lo publicado. Porém o trabalho ainda estava incompleto, quando, em 1843, ele foi indicado pelo governo colonial do Ceilão( hoje Sri Lanka) como botânico e superintendente do jardim botânico existente ali. Esta indicação deveu-se à influência de seu infalível amigo Sir William Hooker, que havia sido anteriormente promovido ao posto de diretor geral dos Jardins Reais em Kew (um bairro de Richmond upon Thames, no sudoeste de Londres). É famoso por ser a sede dos Jardins Botânicos Reais de Kew, do Palácio Kew e dos Arquivos Nacionais do Reino Unido). Ainda em Londres, recebendo instruções antes do embarque, ele foi tratado com muita bondade por Lord Stanley, agora Conde de Derby. De 1842 a 1848 ele publicou no London Journal of Botany, dirigido por Hooker, sua “Contributions towards a Flora of Brazil”. Gardner ,tendo visitado regiões não exploradas por Karl Friedrich Philipp von Martius (1794-1868) , em muito contribuiu com material e observações para a publicação do clássico definitivo, considerado uma das maiores obras de Botânica de todos os tempos: “Flora Brasiliensis” de Martius ( publicada paulatinamente de 1840 a 1906).


Foto 13 – Von Martins (1794-1868)

2 comentários:

  1. Zé Flávio,
    Parabéns pelos 3 artigos sobre George Gardner. Eu tenho um pequeno trabalho sobre ele (não tão bom como o seu) que fiz e ainda está inédito. Minha pesquisa resume-se à passagem de Gardner pelo Cariri.Talvez o publique em breve.
    Abs
    Armando

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  2. Obrigado pelo incentivo Armando, é bom que vc publique o Artigo. Fiqui curisoso sobre a história dele , principalmente depois da volta, para onde teria ido. Fiz então uma pesquisa na Internet. Tentei inclusive encontrar alguam imagem ( foto, pintira) , mandei um e-mail para o Herbário de Knew e eles me responderam que tinham pesquisado por todo canto e não tinham encontrado. Enviei, também, para o Herbário do Sri Lanka, e estou aguardando. Acredito que por ser de origem mais humilde, não tenham registrado fotografiacemnte sua presença. Vou mandando as outras partes da pesquisa, a seguir.
    Abraço,
    Zé Flávio

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