Cleilson Ribeiro
I
Um blues inaugura o som de um realejo
Que se dissipa nas plumas da tarde. Nos muros enferrujam
As palavras de protesto, semeadas pela força metálica
de outras claridades já extintas. Não há como esmigalhar
a cor do colostro esvaído das bocas famintas das
Crianças . Os homens golpearam a alma das praças
Com o slogan das cápsulas radioativas do silêncio.
E agora, discutem seus sonhos mortos amolando as farpas
Exauridas das ampolas de morfina.
Fantasmas encapuzados fumam
Os cigarros de ópio e de ódio nas esquinas das igrejas.
II
Os computadores aprenderam o signo da ilusão,
E alardeiam em downloads insólitos que não há
mais tempo para a palavra amor.Um blues empoeirado mastiga a carniça de nosso trabalho extraviado.Nos ventos que chegam do oriente médio,
O genoma de Osama Bin Laden,
se grava nas pestanas de antigos cães enluarados. Restou-nos o indigesto gosto das lágrimas.
O inconcebido assopro da estiagem arrupiando as dobradiças das plantações.
Os jornais já não nos dão notícias de nenhum herói. Por aqui, cada um deles, irriga lavouras estorricadas.
III
Não se volta da revoltas nem das guerras cotidianas, para se exibir medalhas,
cicatrizes ou mutilações.Ninguém escuta as buzinas dos automóveis festejando a morte no trânsito. Não se diz em segredo os motivos de um sonho antigo. Não se deflagra na carne do dia
o compromisso inadiável com a esperança. Estamos vivos simplesmente.
A poesia já não compraz nossas limitações.
Não conseguimos mudar o gosto das coisas.
Fabricamos milhões de espermatozóides
para semear multidões de vidas desoladas.
A casca da solidão, diviniza nosso grito absurto.
IV
¿ Será que algum poeta, do antigo Egito à Favela da Rocinha,
Suporia, que as plantações de urânio de agora,
Aboiarim a migração dos amidos expulsos das palavras,
enquanto o sumo da morte é emacotado á vacuo
nos escritórios de Wall street ?
Cleílson Ribeiro, é poeta comparado aos melhores que conheço. È parceiro musical de Abidoral e troca figurinhas com Wilson Bernardo. Me mandou alguns poemas que devo publicá-los de vez em quando. No próximo, acrescentarei outras informações sobre seu perfil poético.
finalmente cara,
ResponderExcluirvaleu Cleílson, velho parceiro de arte e profissão, seja bem vindo,
sua poesia é mais do que atual,
você tem técnica e talento,
essa conversa de que poesia é só inspiração é a maior furada,
a técnica é fundamental
você é poeta de verdade!
abraço irmão
Não é fácil encontrar vozes expressivas como a do poeta Cleílson. Uma poesia prosaica e ao mesmo tempo carregada da sensibilidade que só os grandes poetas têm. Ex-colega de sala, amigo, grande-amigo, parceiro musical, Cleílson nos deu - à Nacacunda - dois presentes: Colibri, já publicada no primeiro cd e Latifúndios, que será gravada no próximo. Um abraço, parceiro.
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