sábado, 10 de maio de 2008

10.000 vezes

É muita engraçada a vida,
As voltas que o mundo dá em cada vida.

Passamos a vida esbofeteando a vida com uma mão
E com a outra mão, em algum momento, cedo ou tarde,
A vida nos esbofeteia com 10.000 vezes mais força.
Não quero pensar em coincidência, “carma” ou destino.
- Quero deixar claro que não acredito em nada disso.
Superstição nem pensar!

Pensar talvez no germe da tragédia contido em cada vida.
Num bumerangue que é atirado no mundo...
Gira infinitas vezes numa trajetória incerta de glória e de lama.
Não sabe nem ao certo se é bumerangue, mas sua vida é girar
Numa energia às vezes igual a força que o atirou,
Às vezes arrastado pelo vento e impactos de outras partículas vitais
Descobre o sentido de não fazer sentido, no sentido que traz.

Pensando em mim, resolvi te escrever de forma assim tão urgente.
E fui absorvido por muitos pensamentos...
Gerando em mim as benditas expectativas
Nem eu mesmo sei bem quais são, entretanto elas estão lá,
Olhando pra minha cara e me pedindo uma atitude...
Por isso vou me afastar de você.

Por que esbofeteie tanto a vida? Por que essa vingança?
O troar dos canhões, um espírito saturado de sutilezas,
Estranho e difícil.
Não consegui responder ainda as perguntas que havia feito,
...me por em paz comigo mesmo.
Pensei ser a obra mais completa, a mais bela, justamente,
Mais sedutora, a mais invejada e num paradoxo:
Uma obra de arte do pessimismo.
E não passo de um grande ponto de interrogação a respeito do valor da existência.

Será que pelos instintos estarem cansados e debilitados?
E esse emaranhado de sendas novas não para de fluir.
Atormentado e caprichoso e quase irresoluto,
Sigo balbuciando de algum modo uma língua estranha.
Esse desejo, sempre mais ansioso por beleza, festas diversões, cultos novos,
Não será também feito de carência, de miséria, de melancolia, de dor?
No fundo das coisas da vida esse delírio particular:
Um além inventado para melhor denegrir o aquém.
No silêncio cauteloso e hostil,
Sem livramento do sofrimento dos contrastes acumulados em mim mesmo,
E onde tudo indicava claramente um fim
(como se estivesse justamente a ponto de me descobrir e de me reencontrar!?)
Agitando essas asas, quase a ponto de voar,
Não consegui me libertar da aparência do mundo desses sonhos.

Esperas angustiantes, essa impressão fugaz da aparência.
Entendi, finalmente, que a terra oferece somente seus dons e feras.
Estremecemos no pó!
E para desvelar o imenso abismo, mescla abominável de volúpia e crueldade,
Só me restou aprender a julgar sem esperança e sem indulgência
Essas eternas misérias repletas de contradições irredutíveis
Desejando tão violentamente conhecer e sentir
As angústias e os horrores dessa existência,
Essa alegria que arranca sons dolorosos, de terror e sobressaltos,
Sob as flores e as coroas...
Minha mais Bela-Doce-Deliciosa-Cruel-Profunda-Imensa Incompreensão.

Um comentário:

  1. Karma, destino, ação e reação, terceira lei de Newton... Tudo explica as idas e vindas desta vida na gangorra.
    Parabéns, Micaelson por esse belo texto-poema, que transpira sensibilidade por todos os poros.
    Nota 10 (mil).

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