O blog de Marcos Leonel (http://www.marcosleonel.blogspot.com/), além de textos e poemas espertos, plantados e colhidos em boas safras,- tá publicando umas críticas muito legais sobre música e discos antológicos, raros e malditos.
Vale a pena dar uma conferida e embarcar nas indicações sempre abalizadas de Marcos Leonel
(Carlos Rafael)
PENSE NUMA “DOIDERA”
A primeira vez que eu ouvi James Blood Ulmer foi no Sebo de Elite, em São Paulo, uma loja que eu trabalhei vendendo discos e livros. Era o ano de 1984 e eu estava farto daquela porcaria dos anos 80 que as gravadoras jogavam no mercado. Era o nascimento do chamado Brock, com umas merdas como Blitz e Biquíni Cavadão e outras estrangeiras como Duran Duram e toda aquela idiotice da New Wave.
Eu andava muito seletivo e confiava muito mais nos antigos do que nas novidades. Mas eis que aparece James Blood Ulmer em dose dupla: Are you glade to be in américa e Free Lancin’, duas pauladas no juízo. Era a fase em que o guitarrista americano, do Sul da Califórnia, misturava free jazz com funk, blues, surf music e música afro. Os dois discos traziam a mesma formação, com dois bateristas: Calvin Weston e Ronald Shanon; baixo: Amim Ali; duas guitarras: ele e Billy Patterson; sax alto: Oliver Lake; sax tenor: Dave Murrey e trumpet: Olu Dara.
Eu fiquei maluco com aquele som diferente de tudo o que eu tinha escutado até então. Um som cheio de groove afro, com andamentos malucos. Uns solos de guitarra completamente atonais e com divisões alucinadas, tocados com o dedão da mão direita de James Blood Ulmer, em uma birdland da Gibson, com som meio distorcido e um chorus levemente ativado em algumas passagens. Curiosamente o disco trazia duas músicas cantadas, dois funks de uma pegada de fazer inveja a Tower of Power ou Funkadelic, com James exibindo o seu vozeirão de música gospel. Já conhecia muita criatividade jazzística, como Sun Ra, Ornette Collemam e Art Ensemble of Chicago, mas aquilo era muito pra lá de aloprado. Os dois LPs importados não foram vendidos e acabei comprando aquelas duas pérolas.
Eles vieram comigo de São Paulo e quando eu montei a loja em Juazeiro, Et Cetera, eles figuravam como invendáveis, só para gravação. Pouca gente gravou e pouca gente entendeu aquele som. Hoje eu tenho alguns cds desse mago das harmolodics, uma composição que faz de uma harmonia várias vozes instrumentais em contra-ponto, sem necessariamente haver um acorde tocado. Invenção dele e de Ornette Collemam. James Blood Ulmer tem uma vasta carreira e uma vasta obra, sem nenhum disco lançado no Brasil. Em seus vários projetos: Odyssey, uma banda que mistura jazz, rock, blues e pop; Music Reveletions Ensemble, um trio maluco; Phalanx, banda de jazz, em que ele é um componente; esse genial músico universal surpreende sempre pela sua criatividade e originalidade. Qualquer disco dele é imperdível.
Esse Marcos é o que mais gosto. Bom de texto, também! Marcos ficou junto da gente na produção do vinil Avallon e nos ajudou com "o bando" que montamos em São Paulo para ensaios, gravação, enfim, a produção dessa obra que diz respeito a gente.
ResponderExcluirQuem era pra ir pra sampa era eu.
ResponderExcluirNão fui porque tava começando minha faculdade de História. Mas foi Marcos e eu fique na retaguarda, e ajudei Salatiel no lançamento de Avallon, o primeiro Long Playing totalmente produzido a partir do Cariri.
Mérito de Salatiel e Abdoral, esses menestréis do Cariri e do mundo.
Foi um período massa aquele em Sampa. Muito aprendizado, é isso que a gente vale. O disco em si ( qualquer dia desses publico a crítica feita por mim e publicada no Jornal do Cariri, quando do lançamento do cd - é uma verdadeira obra, na concepção da palavra. Músicos geniais e um compositor antenado com as direções musicais importantes. Muitos nomes importantes da nossa história artística estão envolvidos nesse trabalho, embalado com uma bela capa de Romildo. Recentemente fiz uma postagem sobre o LP Caia na estrada e perigas ver, dos Novos Baianos.
ResponderExcluirValeu Galera, espero a visdita de vocês.
abraços