terça-feira, 20 de maio de 2008

Pra não dizer que não falei...




Pra não dizer que não falei da rosa
Da rosa de Hiroshima
Aquela anti-rosa cálida
Que vale cem mil poemas
E uma cirrose sem cura
No fígado do mais pacífico
Dos militantes anti-atômicos

Pra não dizer que não falei da China
Na véspera da mais esperada das olimpíadas
Enquanto chora os seus mortos
E os vivos ainda soterrados
E os feridos pintados de lama
Da torrente que veio pra lavar
E não lavou

Pra não dizer que não falei da Birmânia
E de seus bois de porcelana
Levados por uma junta
Que põe canga no povo
Há quarenta e seis anos
E que nem todos os ciclones unidos
Conseguem derrubar

Pra não dizer que não falei do Tibet
E dos seus santos monges com vestes açafroadas
Agora esquecidos após todos os cataclismos
Acontecidos de 1945 pra cá
Enquanto os últimos rufiões do totalitarismo
Justificam a opressão
Em nome de um trem alpinista
Que requer pressurização

Pra não dizer que não falei dos guerrilheiros santos escondidos nas bribocas do Afeganistão...

7 comentários:

  1. Carlos:

    prá não dizer que não disse,
    das rodas que trituram ossos,
    aparam o sangue em molho pardo,
    embute os pedaços das carnes.

    pimenta do reino, alho e cebola,
    sal a gosto, um sereno amadurecido,
    depositado no vasilhame da feira,
    para gourmant de certezas capitais.

    prá não dizer da diarréia aguda,
    nesta sempre crônica vida vazia,
    que consome o hoje o embrião do amanhã;
    arrota os gases da alma tonta,
    poluindo as manhãs de nossas vidas.

    prá não dizer que não falei da vida,
    que a morte anda à procura,
    o sono que a vígilia espanta,
    o sonho que as vitrines roubam.

    prá não dizer que não falei.

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  2. Grande, poeta!

    Sua poesia é crônica
    Porém bela
    E necessária
    Nesses ácidos dias
    De chuvas e tremores
    E temores encharcados
    Que não lavam os podres poderes
    Já decompostos
    apesar de aparentemente sadios

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  3. e tome poesia!
    e ainda há quem comente comigo, nos afazeres do dia-a-dia, que o blog é massa, só falta o povo para de postar essas poesias que não interessam a ninguém.
    ou é muita cara de pau ou é muita flatulência mental.

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  4. A poesia é do poeta, que sabe o que diz. Possivelmente alguns olhos querem ver apenas. Outros lincam com a facilidade do apertar do gatilho. Outros tantos, como são sencíveis. O imaginário literário é multicor. Não adianta catar os décimos para não ir à final. Afinal, espenho foi feito para refletir. A poesia é do poeta, que sabe o diz. E como esse sabe!
    Falei!

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  5. Uma viagem sem flores ...
    Sem paisagens gramadas
    Sem gado no pasto ...
    Existem tantas realidades ...
    Como ouvidá-las ?
    Eu só queria que o mundo fosse diferente ... No mínimo como a vida da gente ... que sente , o que não vê ... Pra não dizer que entende !

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  6. Marcos,

    Poesia só interessa a quem se interessa pela vida. Valeu, poeta!

    Calazans,
    A quem sempre chamei de poeta por que é um poeta de fato e de versos lapidados a canivetadas.

    Socorro,
    Seu nome já diz tudo, pois é um refúgio aos que necessitam do seu lirismo, sempre meigo e doce.

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  7. Diga aí Calazans!!!
    Espero encontrar com você logo.
    Colocar essa conversa em dias, brother, já é sem tempo.

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