Caros Amigos,
A respeito do abandono total dos artistas cratenses na EXPÔ/CRATO, segue este artigo de 2001 onde eu já denunciava este fato crônico e injustificável. Tem jeito ?
A CULTURA E A CURTURA
A EXPO/CRATO , hoje cinqüentenária, já tem luz própria e parece até imune a apagões administrativos, políticos e econômicos. Ela tem sobrevivido a toda sorte de intempéries e, independentemente de tudo, tem abalado a nossa cidade, há meio século. A Feira Agropecuária já não tem o viço do passado, já não há gratuidade plena na festa para o povão, mas os setores Turismo e o entretenimento têm mantido fortemente a sua tradição.Invariavelmente, ano após ano, tenho escrito sobre a EXPO, pela sua importância única no Crato (temos já bem poucas coisas do que nos gabar). Preocupa-me , sempre, a manutenção das nossas raízes culturais, coisa , claro, que tem que ser buscada no dia a dia, mas que, a meu ver, pode ser mais amplamente vislumbrada na EXPO : único evento de grande porte do município caririense que um dia já se orgulhou de ser a Cidade da Cultura.
Os Shows , terceirizados, mantiveram uma pobreza de assustar: Axé Music em franca decadência, Bandas que dizem tocar Forró(???) ; ou seja aquilo que se convencionou chamar Música Pra-Pular Brasileira. Muitos cratenses devem ter se orgulhado quando Zeca Baleiro (que fez com Geraldo Azevedo os únicos Shows dignos deste nome ) dedicou o seu ao grande músico cratense Cleivan Paiva, a quem muito admirava. Na sua primeira apresentação aqui em Crato, no ano passado no Crato Tênis Clube, já havia feito o mesmo com Abidoral Jamacaru. O Zeca, artista em franca ascensão no cenário musical brasileiro, reconheceu publicamente o mérito de dois grandes artistas da terra, coisa que a própria cidade não tem feito.
Abidoral, Cleivan, Mane D’Jardim, Dihelson Mendonça , Luiz Carlos Salatiel, simplesmente, mais uma vez , foram impedidos de se apresentar na sua própria cidade, na única festa que ainda sobrevive à nossa derrocada político-econômica. Motivo ? O de sempre: a Secretaria de Cultura ofereceu o mísero cachê de R$ 300,00 para cada Banda da cidade ! Se imaginarmos que cada Banda apresente-se com pelo menos 05 músicos ( muito aquém das importadas e contratadas a peso de ouro) , cada músico receberia a vultosa quantia de R$ 60,00 por apresentação. Entenda-se que esta é a única festa existente na cidade e que, com isso , a Secretaria de Cultura estará contribuindo com exatamente 16 Centavos/dia para manutenção dos maiores artistas cratenses, que poderão comprar diariamente um Dim-Dim e três Bom-Bons. Muitos até podem imaginar que nossos músicos são mercenários, mas é preciso conhece-los para saber do seu desprendimento. O que mais os desaponta, certamente, é o desprestígio total ao seu trabalho, a impossibilidade de pagar condignamente a uma variedade expressiva de músicos para que possam ensaiar e apresentar um show bem produzido, na qualidade artística das produções importadas com cachês altíssimos.
O Crato tem uma imensa dívida para com seus maiores artistas populares. Não falamos aqui apenas da questão meramente financeira: Os Anicetos em recente entrevista disseram que apesar de toda a glória e sucesso, “estão passando precisão”. Falamos de algo muito pior: da total falta de espaço para mostrarem seu trabalho. Basta lembrar que os Cocos, os Reisados e as Bandas Cabaçais continuam se apresentando num ínfimo e antigo palco, hoje já sem nenhuma platéia: “os grandes artistas na parte de baixo, com ingresso , a rafaméia do folclore lá em cima de graça e sem público” “. A presença firme da URCA, este ano, foi a nota mais afinada nesta orquestração pobre e desafinada da nossa programação cultural na EXPO/2001
Já sabemos de antemão a visão estreita que a nossa elite tem dos nossos músicos. Dirão que são uns irresponsáveis, que usam meios pouco ortodoxos para se inspirar, que seu trabalho não tem nenhuma qualidade e que os R$ 300,00 são uma esmola para não morrerem de fome, porque seu trabalho não vale nada.Não parece, definitivamente, ser esta a idéia de Zeca Baleiro e de Hermeto Paschoal, em quem prefiro acreditar mais.
Os nossos governantes precisam entender que a intelectualidade do Crato tem , também, uma clara idéia formada a respeito da EXPO. Comenta-se no dia a dia que ninguém sabe da licitação nos Processos de Terceirização dos Shows, que ninguém conhece claramente o Contrato e que historicamente nunca se soube de um Prestação de Contas clara da nossa Festa maior.Quanto se gastou na Produção? Quanto se apurou com os patrocínios e com a venda das barracas ? Quanto a população paga para ser obrigada a tomar marcas exclusivas de bebidas nas barracas? Quanto a EXPO apurou com a terceirização? Valeu a pena?
Damos uma versão pela outra e não precisa de volta. O futuro desta cidade, apesar dos pesares, está muito mais nas mãos dos nossos artistas do que dos nossos políticos. Quem viver verá! Mas antes que o futuro chegue: se não temos nenhum apreço por nossos artistas populares, já está mais que no tempo de parar de chamar o Crato de Cidade da Cultura, acho que hoje já lhe pega melhor o epíteto de Cidade da Curtura.
J. Flávio Vieira
Crato, 25/07/01
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