domingo, 22 de junho de 2008

HOMENS E HOMENS*


Francisco de Freitas Leite

Saberão os egípcios
do Delta do Rio Nilo
da sabedoria sertaneja
a nordeste da rosa-dos-ventos brasileira?
Saberão os homens de Gizé
dos colares de pirâmide dos vaqueiros,
do culto aos mortos do antigo Egito
nas caatingas e no agreste do Brasil?

Esoterismo na voz dos ribeirinhos baianos,
matutos a discutir hieróglifos qeópes.

Saberão os gregos
da moderna Atenas
a fascinação dos homens do Piauí
pelas filosofias místicas da antiga Grécia?
Saberão as mulheres de Esparta
das armaduras de couro das boiadeiras,
dos amuletos como armas espartanas
no peito das canavieiras pernambucanas?

Aparições de sacerdotes nos sertões,
rudes a incorporar a mitologia peloponesa.
Saberão os peruanos
da Cordilheira dos Andes
da admiração dos cearenses
pelo felino povo de Cuzco e de Machu-Picchu?
Saberão os homens de La Paz
dos conhecimentos incas dos tropeiros,
das leituras sobre o Titicaca
nas vielas e arrabaldes caririenses ?
Portais magnéticos no planalto nordestino,
paraibanas trilhas que seguem em direção andina.

História de velhos discípulos cristãos
no litoral potiguar.
Traços astecas
no rosto do índio alagoano.
Grotões de Sergipe ao Maranhão
a ocultar mistérios.
Saberão os antigos povos do grande Nordeste?:

Ah! Místico clã de espíritos
que das ruínas humanas
assemelharam-se a homens
Garganteando aos céus
sua fúria, seu amor,
seu desalento, sua tristeza,
a sua ira nefanda
ou o seu simplório desejo
de chegar a Deus!

* poema do livro Ave, Sertão! de Francisco de Freitas Leite, professor de Latim e Literatura do Departamento de Línguas e Literaturas da Universidade Regional do Cariri (URCA).

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