Acima, primeira página do jornal eletrônico "Juazeiro do Norte on line", onde é reproduzida tela do pintor F. Matos – obra exposta no gabinete do Prefeito de Juazeiro do Norte – mostrando a festa pela criação do município caririense, fato ocorrido em 1911. Na pintura é visto de forma destacada o cratense Padre Alencar Peixoto, um dos líderes do movimento da independência de Juazeiro do Norte, discursando para o povo na Praça da Liberdade (hoje Praça Padre Cícero).
Segundo a edição de hoje do jornal eletrônico “Juazeiro on line” outros ilustres cratenses também contribuíram para a luta de emancipação de Juazeiro do Norte que, até então, era distrito de Crato. A ver.
“Até mesmo de Crato, Juazeiro recebeu apoio nas pessoas dos coronéis Nelson da Franca Alencar e seu irmão Abdon, presidente da Câmara de Crato. Este, aliás, chefiou uma delegação formada por três eminentes figuras cratenses (os Srs. Francisco de Brito, Diógenes Frazão e Pedro Gomes de Matos) a fim de renegociar com o Padre Cícero um acordo de paz (...) Outro cratense que também contribuiu para a independência de Juazeiro do Norte foi o médico Irineu Pinheiro que, segundo o escritor Ralph Della Cava “por debaixo dos panos, desempenhou um papel importante no envio da missão de paz Juazeiro, chefiada pelo coronel Abdon da Franca Alencar”.
É boma não esquecer da figura do mais importante cratense do Século: O Padre Cícero Romão Batista, excecrado e excomungado pela Igreja Católica, difamado por toda elite cratense por mais de 100 anos e só agora lembrado estranhamente pela Igreja Católica, num processo escuso de reabilitação, quando perceberam que não adiantava lutar contra um santo popular e, mais que tudo, perder o farto dinheiro que cai nos cofres das romarias. Aí , o homem de repente, se tornou importante e santo... Perder este dinheiro por tanto e tanto tempo terminou por criar um pânico... ou um Panico ?
ResponderExcluirMATÉRIA CONSTANTE DO SITE:
ResponderExcluirhttp://www.diocesedecrato.org.br/index.php?pg=10-5
Padre Cícero precisa de reabilitação?
Eduardo Diatahy B. de Menezes
O Ceará parece portador de estranho desígnio, pelo qual, de tempos em tempos, torna-se a realização concreta desta palavra bíblica: ''O Espírito sopra onde quer''.
O Ceará parece portador de estranho desígnio, pelo qual, a despeito de sua pobreza de recursos e de sua colonização tardia e fragmentária, de tempos em tempos, torna-se a realização concreta desta palavra bíblica: ''O Espírito sopra onde quer''.
Com efeito, sobretudo na segunda metade do século XIX, esse sopro impulsionou espíritos iluminados que instituíram uma grande escuta às aflições do seu povo ofendido e humilhado: padre Ibiapina, figura matricial de missionário, em escala regional, de um catolicismo sertanejo gerado aqui; Antônio Vicente Mendes Maciel, o peregrino Conselheiro, com sua utopia cristã de justiça e fraternidade; Padre Cícero, como o Conselheiro, martirizado discípulo e continuador do primeiro nesse desiderato.
E esse sopro perdura por outras vias, como ao suscitar no Patativa do Assaré um demiurgo da palavra poética, conscientizadora e propedêutica, o qual, longe dos centros de consagração e da indústria cultural, expande a sua força estética ao ponto de exaltar a dignidade dos excluídos contra todas as formas de dominação.
Assim, neste como noutros domínios, eis o que faz a riqueza desta província. Direciono, porém, meu foco de interesse sobre o Padre Cícero (1844-1934).
Figuras que, por suas existências marcantes, por sua ação solidária, por seu desempenho forte e desbordante dos quadros tidos como normais, costumam deixar traços indeléveis na História, como sinais de contradição, tendem a suscitar dissensões e polêmicas. E tudo faz crer que o distanciamento no tempo, ao invés de propiciar o equilíbrio do julgamento e a serenidade analítica, continua a estimular um montão de escritos de detratores e apologistas em sua obsessão ora persecutória ora laudatória.
Na sua indigente recorrência, essa subliteratura tem talvez o mérito de manter viva a chama da discussão ou, quando mais exitosa, ilumina algum fato novo ou desvela documentos ainda desconhecidos. Mas pode também impedir novos olhares mais fecundos pela rigidez dos questionamentos e das mesmas vias interpretativas. Felizmente, porém, desde a obra renovadora de Ralph Della Cava, alguns trabalhos de valor têm construído uma historiografia mais consistente e esclarecedora.
Por outro lado, que misterioso desígnio trouxe para o Crato o bispo dom Fernando Panico, um meridionale, dessa longínqua província da Itália, pobre e áspera, sob tantos aspectos semelhante ao Nordeste do semi-árido, tendo sofrido em sua formação a miséria e o banditismo social, como o do nosso cangaço? Que impulso move esse homem de fé a assumir, desde sua homilia de posse como 5º bispo diocesano do Crato, há cerca de um ano, o reconhecimento da figura relevante do Patriarca do Juazeiro e a atitude digna e elogiável de propor a criação de uma Comissão de Estudos para o Processo de Reabilitação Histórico-Eclesial do Padre Cícero Romão Batista?
Todavia, se sob essa perspectiva a proposta e o seu projeto são apreciáveis iniciativas, não me cabe examinar ou avaliar dom Fernando Panico em suas intenções e valores pessoais. Sua nova diocese mantém uma página na Internet rica de informações e lá pude compulsar toda a documentação que compõe seu acervo. Com base nessa informação, posso dizer que só vai até aí meu reconhecimento dessa proposta.
A história interna da Igreja tem sido marcada, em seu conjunto, por um longo e doloroso rosário cíclico de perseguições, intolerâncias, mesquinharias, invejas e lutas pelo poder, em detrimento de seus iluminados renovadores e profetas, só posteriormente reabilitados ou elevados à dignidade canônica dos altares, de que a figura emblemática e infelizmente não solitária é Joana d'Arc. É óbvio que os costumes de hoje e a perda de sua hegemonia espiritual e material já não permitem à Igreja o uso dos mesmos procedimentos inquisitoriais, de torturas a fogueiras. Mas em sua pesada estrutura burocrática predomina ainda o poder contra o carisma, como ocorreu na época de dom Joaquim Vieira, 2º bispo do Ceará, produto autoritário de uma Igreja romanocêntrica, que, na sua visão europeizante foi incapaz de compreender a fé de seu povo, submetendo o Padre Cícero a processos humilhantes e infamantes.
A proposta da diocese do Crato é, pois, meritória. Mas eivada de equívocos. Ora, posto já haja estudos excelentes sobre tal problemática, é claro que a pesquisa não deve descontinuar. Todavia, não será com uma comissão heterogênea de membros de longes origens nem todos competentes na matéria, que se conseguirá lograr tal intento. E mais que isso: não é o Padre Cícero - que sempre preservou a coerência e a fidelidade aos ideais de sua fé e de sua filiação eclesial - quem necessita de reabilitação histórica, é antes a Igreja que o perseguiu e conspurcou sua memória.
Eduardo Diatahy B. de Menezes
Professor titular de Sociologia da Universidade Federal do Ceará (UFC) e da Universidade Estadual do Ceará (UECE), membro do Instituto Histórico do Ceará
e da Academia Cearense de Letras
(ediatahy@secrel.com.br)