terça-feira, 26 de agosto de 2008

OS FILÓSOFOS DA BATATEIRA E O HOMEM DE NEANDERTAL

Reunião de emergência. Todos os filósofos da batateira convocados para reunião de emergência na ágora, uma clareira no meio da mata do Alto do Urubu. A quorum completo, Chico Preto, o maior filósofo da batateira pergunta:

- Quem convocou a reunião?

- Eu! – responde Chambaril com o dedo levantado.

Chico Breca acende um cigarro, Mitonho solta uma bufa fedorenta com a força de acabar reunião em ambientes fechados e João de Barros abre a camisa da protuberante barriga. O maior filósofo então desencadeia a reunião e Chambaril vai aos fatos.

- É sobre o homem de Neandertal!

- O homi nein dental? – Confuso pergunta de Dona Maria.

- O HOMEM DE NE AN DER TAL! – soletra Chambaril.

Olhares cruzados, lábios de dúvidas, palavras presas na antecâmara da explicação. Chico Preto solta o conhecimento:

- Eram como uns homens primitivos, do tempo das cavernas, que viviam na Europa e que se extinguiram por serem inferiores ao homem moderno, este que somos nós.

Todos com atenção redobrada e Chico pergunta a Chambaril que novidade haveria com este tema tão antigo e definitivamente construído.

- Pois bem, os Neandertal teriam desaparecido por que eram mais burros que os homens, eram uns bichos brutos e totalmente estúpidos. Mas agora descobriram que não. Não eram burros e até construíam instrumentos igualzinhos aos outros homens. Então o que levou os bicho para a desgraça não foi a inferioridade das ferramentas dele, foi outra coisa. E agora?

- Isso é que é filosofia de arromba! Pensar é isso Mitonho entusiasmado com a questão de Chambaril. Os demais não entenderam o fogo de Mitonho e este teve que completar o pensamento: é uma questão muito relevante pois de uma notícia banal Chambaril trouxe uma questão filosófica de lascar. Se não foi a diferença entre eles, se não tinha desvantagem entre si, é outra coisa e isso é o quê Chambaril quer saber.

- Isso tem grande repercussão sobre muita coisa. – Chico Preto ponderando. – Isso leva ao chão a idéia que toda superação ocorre por concorrência, ocorra por superioridade em relação ao outro que foi superado ou extinto.

- Então aquele que supera nem sempre é o melhor que se poderia ter? - Chapa Branca acresce ao debate.

- ISSOChico Preto grita de entusiasmoNem sempre a superação é para melhor, pode ser imperceptível por que não faz diferença e pode ser muito pior.

- Por exemplo, a vitória dos EUA, superando o comunismo ateu da Rússia, pode não ter sido o melhor? – João de Barros politizando a questão.

- Lula pode não ser melhor que Fernando Henrique, ser apenas igual? – Armadiel provocando. Chico Preto vendo a brincadeira e onde poderia chegar, partiu para a síntese:

- Quer dizer que se o homem de Neandertal não foi superado pela evolução da tecnologia, toda esta bobagem que pregam sobre a superioridade moderna por via dos meios, das técnicas ou ferramentas, quer dizer muito mais do que os meios, deve ter algo de princípio e de finalidade nesta bagunça toda. É que vivemos uma filosofia dos meios, dos recursos, do intermédio, mas filosofia é muito mais: é princípio e fim. Se a finalidade é boçal e destruidora da história das pessoas, nenhum meio é suficiente em si. Se os princípios são seletivos na origem, nenhuma sociedade tem paz pelas armas.

- Nem toda diferença é embate de superação. Chambaril, o dono da questão, conclui e completa para melhor compreensão e fechamento da reunião: - A luta dos contrários ocorre entre eles e não entre todas as diferenças e categorias. A luta dos contrários é entre tendências de uma mesma raiz.

- Eita danado! E todos foram descendo a mata do alto do Urubu com esta exclamação.

2 comentários:

  1. Massa, José, então a filosofia é realmente importante, chegou na cambada e a elite não desconfiou, ahahaha
    vlw

    ResponderExcluir
  2. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir