terça-feira, 23 de setembro de 2008

Amparado pelo Desconhecido

Quando meus verdugos pensam
que o poço é profundo e o abismo infernal
abrem-se janelas lá no horizonte girassóis.

Tenho bem mais carne no coração.
Bem mais cutícula na unha encravada.

Quando os ombros pesam
e o cérebro ameaça despencar
calço a velha sandália azul.

Tenho muita sede.
Muito mais odres vazios.

Quando as escuras nuvens se abraçam
e o céu treme
olho para cima e confesso minha inutilidade.

Caiam então calafrios sobre minha nuca.
Meus dedões têm vida própria.
Descansam.

2 comentários:

  1. Eis um poeta desassombrado, se lhe dizem da sede, desdenha com seus odres vazios, se ao cálice das profundezas lembra dos girassóis, se o mundo despenca calça as sandálias azuis, velhas e moldadas e vai para outros destinos e ele diz que é amparo ao desconhecido, mas nada mais cruel como troco da ameaça do que a sentença: eis aqui a minha inutilidade. Este poeta sabe do desconhecido e não liga para o amparo.

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  2. A poesia de Domingos é realmente poesia, linguagem trabalhada ironicamento. Mas, José do Vale, seu comentário também é pura poesia.
    abraços

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