Quando meus verdugos pensam
que o poço é profundo e o abismo infernal
abrem-se janelas lá no horizonte girassóis.
Tenho bem mais carne no coração.
Bem mais cutícula na unha encravada.
Quando os ombros pesam
e o cérebro ameaça despencar
calço a velha sandália azul.
Tenho muita sede.
Muito mais odres vazios.
Quando as escuras nuvens se abraçam
e o céu treme
olho para cima e confesso minha inutilidade.
Caiam então calafrios sobre minha nuca.
Meus dedões têm vida própria.
Descansam.
Eis um poeta desassombrado, se lhe dizem da sede, desdenha com seus odres vazios, se ao cálice das profundezas lembra dos girassóis, se o mundo despenca calça as sandálias azuis, velhas e moldadas e vai para outros destinos e ele diz que é amparo ao desconhecido, mas nada mais cruel como troco da ameaça do que a sentença: eis aqui a minha inutilidade. Este poeta sabe do desconhecido e não liga para o amparo.
ResponderExcluirA poesia de Domingos é realmente poesia, linguagem trabalhada ironicamento. Mas, José do Vale, seu comentário também é pura poesia.
ResponderExcluirabraços