sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Crise na América

Morales e Chávez demonstram desespero, dizem EUA

Bruno Garcez

O governo americano acusou nesta sexta-feira os líderes da Venezuela, Hugo Chávez, e da Bolívia, Evo Morales, de agir com desespero ao expulsar os embaixadores americanos de seus países.

Segundo o porta-voz do Departamento de Estado, Sean McCormack, a ação dos dois países "reflete a fraqueza e o desespero destes dois líderes, que estão enfrentando desafios internos e possuem pouca habilidade em se comunicar de forma eficaz internacionalmente, de modo a obter apoio internacional".

Os comentários de McCormack se deram no mesmo dia em que o governo americano anunciou a adoção de sanções contra dois integrantes do governo Hugo Chávez e contra um ex-funcionário da administração venezuelana.

O Departamento do Tesouro dos Estados Unidos acusou Armando Carvajal Barrios e Henry de Jesús Rangel Silva, que atuam na administração da Venezuela, e Ramon Rodríguez Chacín, que não está mais no governo de Hugo Chávez, de dar apoio material a operações de narcotráfico conduzidas pelo grupo guerrilheiro Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, as Farc.

Lista negra
Com a inclusão dos venezuelanos na lista negra de traficantes, o Tesouro congelou quaisquer bens que os três possam ter nos Estados Unidos e proibiu qualquer americano de manter relações comerciais com eles, sob pena de encarar uma sentença de 30 anos de prisão.

Rodríguez Chacín, o ex-funcionário acusado pelo Tesouro americano, é um militar aposentado e integra o ciclo de pessoas próximas a Hugo Chávez. Ele deu forte apoio à tentativa de golpe comandada pelo então tenente-coronel Chávez, em 1992, contra o governo de Carlos Andrés Pérez.

Com a ascenção de Chávez à Presidência, em 1999, Rodríguez Chacín passou a integrar a missão venezuelana de obervadores das negociações entre o governo da Colômbia e as Farc.

Escalada
A escalada da tensão entre Estados Unidos e Venezuela e Bolívia se intensificou após os latino-americanos terem acusado os americanos de ter incitado os protestos violentos que tomaram as ruas bolivianas nos últimos dias, provocando a morte de pelo menos 14 pessoas.

Por conta do suposto envolvimento americano, a Bolívia decidiu expulsar o representante americano no país. Em solidariedade à Bolívia, a Venezuela adotou ação idêntica.

De acordo com o porta-voz do Departamento de Estado, "as duas acusações são falsas e os líderes destes países sabem disso".

Em retaliação à ação dos países andinos, Os Estados Unidos expulsaram os respectivos embaixadores da Venezuela e da Bolívia de Washington.

Ameaça de Chávez
Hugo Chávez ameaçou cortar o fornecimento de petróleo venezuelano aos Estados Unidos.
O país conta com uma das maiores reservas petrolíferas mundiais fora do Oriente Médio e, a despeito das crescentes tensões com os americanos, nunca deixou de fornecer petróleo para o mercado americano.

Chávez afirmou ainda que não irá retomar plenas relações diplomáticas com os Estados Unidos até que o presidente George W. Bush deixe a Casa Branca.

Um comentário:

  1. Populismo de Morales
    ameaça dividir a Bolívia

    Províncias se dividem entre adesão
    a La Paz e tentativa de autonomia.
    O caos na Bolívia é tão grande que sete dezenas de presos que haviam aproveitado a confusão para fugir da cadeia voltaram, voluntariamente, a suas celas.

    A Bolívia é o mais candente exemplo de uma nação em que o tecido social e a coesão nacional foram levados ao limite da ruptura por um governo aventureiro. Eleito num momento de crise, o presidente Evo Morales decidiu que isolaria seu país numa recriação do império inca, só que desta vez com fundamentos socialistas. Para concretizar a fantasia, iria governar apenas para uma parcela de eleitores preferenciais -- os indígenas e os pobres -, e tudo faria para cercear os direitos políticos e econômicos do restante da população, acusada de "oligarquia" e escolhida para bode expiatório das mazelas nacionais.

    Em busca de músculos para instalar a utopia, o presidente inventou de convocar uma Assembléia Constituinte em que seus partidários são maioria. No fim de 2007, a Constituinte boliviana reuniu-se em um quartel da cidade de Sucre sem a presença da maioria dos deputados da oposição e aprovou às pressas o índice da nova Carta Magna. Essa institui, entre outras novidades, a possibilidade de Morales se reeleger indefinidamente e a expropriação de propriedades privadas que não atendam ao vago conceito de "função social".

    O resultado foi uma explosão de descontentamento. Protestos tomaram as ruas de muitas cidades bolivianas. Revoltados com a atitude de Morales, seis dos nove governadores convocaram uma greve geral em seus departamentos, como são chamados os estados bolivianos. Nem por isso Morales desistiu da idéia de "refundar" o país, expressão que aprendeu com seu mentor, o venezuelano Hugo Chávez. Mas ao contrário do tirano de Caracas, ele não tem petrodólares para subornar adversários e comprar o apoio dos pobres.

    O sentimento separatista começa a tomar corpo na parte mais rica, produtiva e moderna da Bolívia. Os governadores anunciaram a elaboração de uma carta declarando a autonomia de seus territórios, a ser levada a referendo. Em reação a Morales, estudantes oposicionistas tomaram delegacias e roubaram as armas da polícia, obrigando as forças de segurança a fugir de Sucre para o departamento vizinho, junto com o governador. O caos era tão grande que sete dezenas de presos que haviam aproveitado a confusão para fugir da cadeia voltaram, voluntariamente, a suas celas.

    (OBS-publicado na revista "Veja", que tem cinco milhões de leitores)

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