domingo, 28 de setembro de 2008

FALA AO DIHELSON

Peço desculpa por ter de postar o que seria uma resposta ao comentário do Dihelson numa matéria sobre Itiberê da Cunha. Acontece que o post já ficou para baixo no tempo e provavelmente o Dihelsono e eventuais interessados nem se dêm conta da resposta. Que segue.

Ô Dihelson: deixa de ser fominha. Põe tua obra na Rádio Chapada do Araripe. Quem estiver no Blog a ouvirá e isso já é muito. Agora, falando sério.

Quem quiser escutar que escute, quem quiser ver que veja, quem quiser ler que leia, não é esta a questão da arte. Ampliando o raciocínio. A arte não existe no artista, ela apenas será arte quando houver uma interação com um terceiro. No momento que o terceiro reagir, o artista pode dizer que fez arte. Ou pode até não estar presente para ele próprio reconhecer, mas a sua arte dirá por ele. Assim a arte como coisa do mundo e ao mesmo tempo social é uma materialidade entre duas pessoas (mesmo que seja entre uma pessoa e uma multidão).

Quero apenas dizer que a arte é uma obrigação do artista de torná-la coletiva. Os artistas incompreendidos, mesmo assim sem público ou "sucesso" (aliás, esse não é um padrão estético, é apenas de consumo) fazem sua obrigação de artista que é mostrar sua arte. Não adianta "engavetar" a arte mesmo que pelo motivo mais justo. Mesmo sob intenso regime de censura os artistas conseguiam "contrabandear" sua arte para outros cantos.

Mesmo sendo a arte fruto de um tempo realizado, este tempo será frio se não se prolongar além da composição para os tempos posteriores, em outras pessoas e outros lugares. A arte popular, vamos olhar para os "famosos" irmãos Anicete. Eles não dependiam da ordem urbana do Crato para acontecer e encontrar o outro. Tocavam nas procissões populares, nas festas de terreiro no bairro do Recreio onde moravam. Todos eram camponeses e viviam de plantar, conheci - os, pois plantavam na vizinhança e jamais tiveram apoio espontâneo de nada. Até vendiam seus pífanos na feira para sobreviver, mas só com a valoração do folclórico pelos idos dos anos 60 e 70 é que vieram para a cultura oficial.

Enfim, precisamos dos Noturnos, Prelúdios e Valsas do Dihelson na Rádio Chapada do Araripe.

2 comentários:

  1. Olá, Amigos,

    Peço-lhes perdão do fundo do coração por não ter lido esta mensagem antes. E nem ter lido ainda o comentário lá na outra postagem. Se o Zé do vale não tivesse escrito aqui como artigo, provavelmente eu iria demorar uma eternidade para encontrar. É que estive e estou muito atarefado aqui com diversas coisas, preparando um show lá em Fortaleza dia 11, e realizando uns backups aqui do estúdio que fazia hum ano que era pra ter sido feito. E os Blogs nos tomam muito tempo...

    Mas enfim, ontem mesmo estive pensando nessas coisas todas. De tanto desestímulo, o artista que possui uma arte diferenciada e digamos "erudita", refinada, começa a se sentir fora do habitat e vê todo perdido nesse mar de besteiras valorizadas.

    Falam tão bem e valorizam certas bobagens, que às vezes acho que estou fora de época, fora do mundo, peixe fora d´água.

    Estou gravando um CD que eu mesmo estou achando muito "doido" para as pessoas normais, e às vezes tenho muito medo e vergonha da reação do público, que deve esperar que eu grave aquelas músicas do Richard Clayderman que já enjoei de tocar em casamentos. Não vai ter isso. Tá mais pra Villa-Lobos do que pra Clayderman. Arte é outra coisa. Então, impossibilitado de exercer e transmitir a arte como eu a vejo, apenas para um punhado de pessoas que a podem compreender, é que tenho deixado muito a música para segundo e terceiro plano, para o povo que gosta de coisas comuns, tendo me dedicado à Informática e aos Blogs.

    Sem querer me comparar a nenhum dos grandes gênios da música como Beethoven, Bach, ou mesmo artistas mais desconhecidos como Scriabin, Debussy, Shostakovich, estes certamente morreriam de fome e incompreendidos no CRATO. Scriabin trabalharia na farmácia, e Debussy seria caixa de banco.

    Eu tenho a ligeira impressão de que somente um músico ( e atento ), é capaz de compreender certas linguagens musicais como a de um Tchaikovsky, Liszt, Balakirev ou seja lá quem for. O restante aprecia sem saber porquê, o que causa enorme tristeza.

    Já tive e tenho vontade de ensinar música para os leigos, a fim de que possam compreender como se deve ouvir e compreender a música erudita, para que esta não pareça um bicho de 7 cabeças. Um dia faremos.

    Ao divulgar alguns trabalhos meus em certos Blogs e sites do Brasil, raramente obtive alguma resposta, coisa completamente diferente dos sites Europeus, onde sou muito elogiado. Quem quiser ver, leia minhas páginas lá no Youtube a quantidade de elogios. Alguns querem até as partituras para tocar.

    SAIR DO CRATO

    Infelizmente, ou Felizmente, o Crato tem um imã que atrai tudo e todos para esse buraco, o que me impede muito de querer me ausentar daqui e ir morar na Europa, onde certamente meu trabalho seria valorizado. Mas muita gente já foi, e me aconselhou a ir. Tenho a impressão de que talvez eu me enterre ali na Nélson Alencar, tendo sido dado por Deus, o talento de poucos, mas tendo levado aqui uma vida comum de vendedor de pão.

    Isso, por pior que seja, ainda tem um ínfimo lado bom, a casa, os amigos, a namorada, a família...

    Uma vida é pouca para tanta coisa. infelizmente.

    Abraços,
    Amigos.

    Dihelson Mendonça
    Um dia mostrarei os Noturnos, Prelúdios e valsas. Eu os tenho escritos em um livro com mais de 100 composições para "alguém" tocar.

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