sábado, 6 de setembro de 2008

Nós e estas nossas mulheres amadas

Aí pelos idos de 2003 recebi um texto de uma amiga Pernambucana, chamada Evany, médica dedicada às plantas medicinais e casada com o mesmo cara, o também médico, intelectual, poeta e escritor Abel Meneses. Claro que para não descer aos escombros dos ciúmes não pretendi fazer sexo com a minha amiga, mas certamente ela faz parte de todo este amor pelas mulheres. Que não é nem platônico e nem assexuado, é vital, certamente que minha vida estaria pronta para gerar terceiros com muitas mulheres, embora só o tenha feito com a mesma desde os meus vinte anos e quando ela tinha apenas dezesseis (até parece aquela música do Rodgers e Hammerstein II para o noviça rebelde). Mas não existe nada melhor na vida do que nossas mulheres amadas. Nem os filhos e netos poderiam ser pois elas vieram primeiro. Tiveram primazia.

Nesta semana o Salatiel postou para Socorro Moreira um texto que reflete as mulheres da minha geração, mas certamente ele é extensivo ao universo feminina mesmo quando as galáxias se afastam. Salvo engano é o mesmo que recebi da minha amiga e ela se referia a alguns elementos da nossa história, como a dimensão da cultura brasileira, com seus mitos criativos. Daí veio o que segue:

Certo que nesta aridez,
Existem
notas, si, bemóis,
Grânulos múltiplos qual arco-íris,
Um rasgo que junta identidades,
A
solda que diferencia as partes.

Certo que na seiva revelam-se,
Os
corpos inertes dos cristais,
Insetos na película sólida da água,
Membranas unindo nadadeiras de patos,
O
suor que revela o reservatório interior.

Certo que uma pedra é ,
Mas na combustão do âmago da terra,
Os
sólidos são líquidos de pura pressão,
Tais temperaturas ao ar livre da crosta,
Em gases evolar-se-iam.

Como certo é o talvez,
Ainda mais incerto se curvo,
Sobretudo se reto é certo,
Certo é que de incertezas,
E
certezas feito bússolas,
Nossa natureza é árida e fértil.

Este grande desejo de perpetuar-se,
Teria
que deter um modelo,
Uma fôrma
que confirma,
Que é da mesma natureza,
Qualquer ponto do arco do tempo.

E como seiva das pedras,
Meu amor a tem como molde,
Da
remissão dos meus pecados,
Da
subtração de excessos materiais,
E da
adição de partículas ausentes,
Que me totalizam as deficiências essenciais.

E profundo como a natureza do pênis,
Saber ouvir o canto das sereias,
Mais que Joyce, Glauber ou uma Polifonia,
Encontra-se a finitude da
eternidade,
Do
infinito que resulta da soma de finitos,
Nós e estas nossas mulheres amadas.


Um comentário:

  1. Ô Zé ,


    Escolha esse poema (coletânea), entre outros ... tá lindo demais ! Assim você homenageia as grandes mulheres da sua vida ( mãe, irmãs, esposa...) , e ainda ganha de mimo a admiração de todas as tuas amigas : amigas novas e antigas, como a música de Toninho Horta.
    "ALGUÉM ENTROU EM MEU PEITO AGORA...
    MAS SÓ DEPOIS VOU SABER QUEM É..."
    Tem gente que entra pela porta da frente... Quando somos apenas projeto de vida ;outros já nos esperam , com o prato na mesa , vizinho ao nosso... Briga por nossos brinquedos , divide o chocolate pelo pedido dos olhos ...Você teve uma família esticada de afetos, e também de responsabilidades morais...Mais , muito mais irmãos , do que todos que nasceram da mesma Azaléia. E desta nova família Cariricult, fizeste ramificação... Telefone não pára... ocupado por comentários... carente de novidades... excitado de poesia. Isso está além de perfumes , curvas , trejeitos das caras e bocas ...
    O núcleo dessa clã , se acha nas palavras benditas ,nas histórias e lembranças , atuais e remotas ...Contadas algumas , debaixo do mesmo pé de sapoti !
    Inteligente casar com uma ... não ser de mais ninguém. ... Ainda bem que amigos não nos possuem , nem somos por eles possuídos... Somos livres e parceiros... de momentos, de progetos , de trajetos... , que podem até se infinitizar... se tiver o mesmo destino !

    Santa Pedra da Batateira , proteja esse menino !

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