quarta-feira, 10 de setembro de 2008

O JORNAL NACIONAL E TRACUNTUM

Tracuntum era apelido. Sem etimologia. Como ele mesmo era. Uma onomatopéia. Do abusado, enfadado, bate pronto. Assim como aquelas piadinhas que o povo do litoral passaram a inventar de tanto ouvir histórias de seu Lunga. Como assim? Como segue.

O Jornal Nacional deu notícia do Grampo no Supremo Ministro, do Supremo Tribunal de sua Suprema Importância para o horror da sociedade e da política nacional. O presidente Lula se borrou todinho. O Ministro da Justiça virou uma partícula tão pequena quanto aquelas que se buscam no tal acelerador da multinacional de bilhões de dólares. O Presidente do Senado um bobo da corte. Nós passamos a ter horror dos cabelos longos das mulheres apenas pela possibilidade de grampos. Mas Tracuntum não. Ficou fulo e foi falando feito faca no coração.

- Eita cum seiscento mil inferno. Tão cum o diacho.
- Que diabo é isto Tracuntum. O homem tá denunciando as bisbilhotices do governo sobre ele e um senador da república.
- Safadeza. Gastar dinheiro para escutar este Mendes. É botar dinheiro fora. Num precisa não. O homem fala mais que língua de sogra. Agora vem os abestados e vão gravar? Prá que se a televisão grava qualquer coisa que o sujeito disser? Tem que chamar o tribunal de contas para medir quanto se gastou para fazer o que não é preciso.

Aí o Jornal Nacional continuou. Notícia boa. O PIB cresceu 6%. E Tracuntum levantou-se indignado.

- Tão tudo vendido ao governo. Num cresceu porra nenhuma. Nada cresce. Tá tudo na idade que só encolhe. Onde já se viu uma notícia desta. Agora vejam vocês quando foi na Olimpíada mesmo era 2%, 3%, nem crescia nada, medalha de ouro nem para fazer meizinha. Agora nesta paraolimpíada, quando o mundo todo ficou deficiente, tome o bacanão aí a crescer. E o Lula ainda vai dar um beijo naquela mulher dos beição, a lá da Argentina.

Muda-se a editoria. Ao noticiário internacional. As eleições americanas estão caindo na baixaria. Só se fala em porco com batom. Tracumtum agora se senta e bufa de raiva.

- E esta mulher dos Alasca é tão bonitinha. Muito da jeitosinha e vem este cabra magro aí com este jeito de dançarino de cabaré tirando onda prá cima dela. Ela é que é mulher de verdade, lava roupa em casa, sabe ganhar dinheiro para a família toda e não arreda pé da moral e dos bons costumes. Agora este povo aí dos Obama e das Clinton é tudo bicho reimoso lá das soçaites.

O casal mais charmoso da televisão, com seus olhares inquisidores se despede. Quando olho para o lado, Tracuntum já tinha arredado pé. Fui para o cômodo em que se encontrava e perguntei porque não me esperou. Eles então me disse:

- Eu lá sou besta para ouvir boa noite de televisão. Boa noite só com gente de verdade.

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