Por onde andará Domingos Sávio?
Com seus dias desempilhados
e suas olheiras aprimoradas?

Em que semana está o calendário
de Domingos Sávio?
Foi você, meu caro, que providenciou
os patinetes para os paliteiros
e uma sessão noturna de "O Sacrifício"
de Andrei Tarkóvisk para os fios dentais
e deixou aqueles versos entrementes?

Preciso saber um pouco mais
do silêncio oval das libélulas,
entender a disperção das formigas
bêbadas, ultrajadas por intensas
jornadas de trabalho sem cobertura sindical.
Ando atormentado com a rebeldia
das cacimbas e a supremacia
hodierna do cotidiano dia-a-dia.
Alguém pode me informar
por onde anda Domingos Sávio?

Se eu estiver em uma discussão
deletéria com os motéis, sanduíches e aros
de bicletas, aparelhos de barbear enferrujados,
ratazanas ardentes e sofás obscuros
de Frank Zappa, pode interromper.
Caso minha índole esteja fraquejando
diante da formidável imensidão da
História Universal da Infâmia, pode interromper.
Não importa a solidão enigmática
dos traços que se deitam sorrateiros
no asfalto dividindo as pistas, pode interromper.
Mas alguém precisa dizer em
que garrafa anda navegando Domingos Sávio.

Foi você, meu caro, que inventou
a soletração do silêncio?