Nesta semana que termina o blog entrou pelo veio da cultura com alguns temas que são da cultura pois cultura é, no meu entender, a maior expressão da política. A própria estética é o aperfeiçoamento da política. Falo em política no sentido real da palavra, polis, portanto falo em pluralidade. Como face da mesma unidade, a cultura é expressão da pluralidade. Então a que textos, ou melhor, a quem me refiro. Ao Carlos Rafael e ao Bernardo Guimarães quando um diz não gostar do teatro e o outro da música. O Rafael é mais explícito, escreveu um texto mais longo, deixou-me com a sensação que se referia a um determinado teatro, a uma espécie de esgotamento do gosto estético para o teatro que hoje se pratica. O Bernardo, não, não gosta de música e pronto.
Agora para dar sentido ao título. Aliás, o título é do Dihelson Mendonça num comentário a um post do Salatiel dando notícia da morte de Waldick Soriano. Este título é um bom motivo de debate. O Dihelson se destaca por severa crítica ao forró eletrônico e o faz junto a certo consenso. Aí é que politizamos o tema pela estética. Ou seja, uma opinião, um sentimento, a manifestação de um gosto, numa roda de pessoas já faz parte da pluralidade. Deixou de ser uma referência individual. O comentário do Dihelson, se não viajei na maionese, é ironia pura. Todos nós, depois de mortos, viramos palavras de elogio. Ou seja, imortais.
Ao que vem a questão política? Na música. O teatro, já é uma questão de salão, depende de ingresso e o povo não tem dinheiro para freqüentar. Mas a música não, inclusive o cinema e a novela, pois foram universalizados, ou quase, pelos veículos das telecomunicações. Então a música no Brasil, a indústria fonográfica aqui e no mundo todo, é uma indústria que produz para classes sociais. Não é possível negar que o diálogo e a expressão em cada classe é legítimo, que os ganhos estéticos são aperfeiçoamentos de classe, portanto elaboração política de natureza social e econômica. Por isso é que existe a música popular e a música de classe média em relação a tal indústria. No primeiro tipo a história mostrou o forró, o sambão, o brega, o sertanejo, o axé, o forró eletrônico e por aí foi. No segundo o samba canção, a bossa nova, a MPB, rock nacional e seguiu.
A chamada música clássica, ou instrumental, até mesmo de influência jazzística tem conteúdo de classe, mas não participa da grande indústria. É restrita a salas, teatros, saraus e para um público que requer uma certa especialização. Para gostar, para ter uma relação estética com esta música é necessário participar do "meio", dedicar-se às audiências e audições. Por exemplo, é muito incomum que novos ricos gostem deste tipo de música. Aliás, como tudo é conteúdo de classe, não é incomum que "novos ricos" tendam, como memória de origem, para o estilo popular.
Portanto a crítica na cultura, quer queiramos ou não, é política. Não é possível um discurso universal, por sobre as classes, pois uma vez que tem uma origem de classe, é neste ambiente que se faz compreender. Nada impede que como existe um humano além de tudo, que os canais se encontrem. Isso pela questão histórica, afinal todos viemos de um momento histórico em que nossos antepassados se dividiam e se encontravam. Este comum é um pouco do mito nacional e isso tem muita importância na atualidade.
Enfim, a estética só deixaria de ser o que é, uma expressão política, se não mais existissem classes sociais. Os socialistas e comunistas acreditavam que era possível uma sociedade sem classes, portanto não temos, a não ser por referências teóricas, como enxergar este momento. Mas certamente a cultura pode atingir uma expressão planetária e se tornar universal. Neste momento não será mais uma expressão de classe não se tem como se referir a uma arte como qualidade, gosto, afinidade ou outro sistema classificatório qualquer. A arte será a representação da relação da humanidade como o seu planeta e com a sua história.
Unidos pela arte , nos desclassificamos ... Acho isso ótimo ! Amor incondicional ... eita pau!
ResponderExcluirAdoro , quando você nos ensina , mesmo nas suas sutilezas... Diferente do evangélico , que bate em nossa porta , e toma o nosso tempo com frases feitas. Você é meu guru , mestre mas minhas horas de ócio... que a cada dia são maiores !
Quando começo a ler , qualquer dos textos.. Solto um riso grande , e digo de quem é a fala , de quem é a lei , de quem é a arte...E consumo , como um baton , um brinco ou um vestido novo... Vaidosa desse povo que é um pouco de nós todos !
Meus grandes afetos no presente são vocês !
Zé , Zé, (risos ),Lupeu , Armando , Salatiel , Leonel ,Rafael, Domingos e Sávio... Pachellyyyyyyyyyy...
(cadê você , menino zoom-zen ? )
Vou estudar o "É" e os "EL". Vou estudar também os nomes terminados em 0(os)...os ganchos de todas as artes estão nas notas e nas letras ... acho !
Beijos , meus encarnados irmãos... adoro esta cor , no azul dos meus sonhos !
Meu caro José do Vale,
ResponderExcluirNa verdade, o texto sobre não gostar de teatro é do Bernardo Guimarães, colega seu de estetoscópio e um baiano beleza, que tem um ótimo blog (indicado no post). Eu apenas fiz a apresentação, concordando com ele em gênereo e grau.
Você fez a análise correta: a aversão manifestada é contra a arte pedante como um todo, seja teatro, música, artes plásticas, cinema e etc.
Da minha parte, fiz uma provocação, principalmente para Salatiel, que é um grande ator e que eu admiro, com ou sem "persona" teatral.
Obs.: O projeto do livro vai sair. E vamos fazer um lançamento e reunir a tribo.
Grande abraço, amigo, e um bom domingo!
Prezado José do Vale,
ResponderExcluirObrigado por ter usado minha frase como ponto de partida para este excelente texto seu, que merece inúmeras considerações no tocante à música, da minha parte, mas que por ora, não tenho tempo para tecê-las. Só posso dizer que este é o caminho das pedras. E como tem pedras nesse caminho...muitas...
Um grande abraço!
Dihelson Mendonça