domingo, 5 de outubro de 2008

É o fraco !

04/10/2008 - 14h41
Eleição marca redução da influência de governadores, diz analista


FABRÍCIA PEIXOTO
da BBC Brasil, em São Paulo

As eleições municipais deste ano deverão ser marcadas por um fenômeno novo no Brasil : o crescimento da influência do presidente --em detrimento dos governadores-- na escolha dos prefeitos, segundo a cientista política Maria do Socorro Braga.
"É algo novo na política brasileira. Historicamente, caberia ao governador do Estado, e não ao presidente da República, exercer essa influência na eleição municipal", diz a cientista política Maria do Socorro Braga, da Universidade Federal São Carlos (SP).
Segundo a analista, dois fatores principais explicariam o fenômeno. O bom momento econômico pelo qual passa o país, aliado à popularidade de Luiz Inácio Lula da Silva, tornam o presidente uma referência obrigatória na campanha.
Além disso, o governo Lula utiliza os municípios como canal de distribuição de seus principais programas sociais, como o Bolsa Família.
Essa influência pode ser observada nas capitais brasileiras, onde candidatos do PT ou apoiados pelo partido lideram as pesquisas em 20 das 26 capitais.
Para Maria do Socorro, essa ligação direta entre uma ação federal de grande repercussão e o município acaba reforçando a imagem do presidente Lula, principalmente nas localidades mais carentes.
"O governador acabou ficando de lado nesse processo", diz.
Dependência federal
Um exemplo é o governador do Rio de Janeiro, Sergio Cabral Filho, que vem encontrando dificuldades para impulsionar a candidatura de seus aliados em cidades importantes, como Nova Iguaçu e São Gonçalo.
A tese é corroborada pelo professor de Ciência Política da Uerj, Geraldo Tadeu, para quem "muitos municípios só sobrevivem financeiramente graças à verba que chega do governo central".
Os municípios são responsáveis por 8% da arrecadação em impostos, mas gastam o equivalente a 20%. Essa diferença os torna extremamente dependentes dos repasses federais.
"A relação entre as duas esferas é intensa", diz Tadeu, que também vê no processo uma via de mão-dupla. Para ele, assim como os candidatos a prefeito querem pegar carona na popularidade do presidente Lula, o governo federal também tem sua agenda política, e o partido mais beneficiado por essa situação deve ser o PT.
"É a grande chance de o PT se popularizar no interior do país e o partido está trabalhando para isso", diz. Já o cientista político Humberto Dantas, da Universidade São Camilo, de São Paulo, minimiza o impacto dos programas federais nos municípios.
Segundo ele, há uma certa confusão na cabeça do eleitor sobre quem é o responsável pelo programa. "Em localidades mais distantes, fica difícil para o cidadão saber se o pai do programa é o presidente Lula ou o prefeito da cidade", diz.

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