segunda-feira, 13 de outubro de 2008


Três bandas descoladas
E uma noite massa no meio

A estreante Papagaio do Futuro, a rodada Alegoria da Caverna e sua fantasia de festa Os Transacionais, fizeram uma noite no Café Estação, em Crato, no último sábado 11, de rocks, baladas, reggaes e outras ondas diversas e inversas a mais, para um público médio, mas seleto e sedento de diversões sem trapaças.

Uma grata surpresa foi ouvir o som trabalhado e irreverente da Papagaio do Futuro, uma banda de Juazeiro do Norte, que finalmente faz valer o aspecto urbano daquela cidade, sem a eterna babaquice das caras e bocas do heavy metal e do som fabricado das vídeo-aulas, tão peculiares entre santos e ladainhas de lá. Já a banda de Fortaleza, Alegoria da Caverna, com a competência do seu som, conseguiu dissipar o estigma de terra dos cafuçús daquela capital, o que convenhamos não é tarefa fácil.

A Papagaio do Futuro levou uma eternidade para arrumar o equipamento e definir lugares, enquanto uns brigavam com afinações, cabos e pedais, outros zoadavam em seus instrumentos, uma verdadeira munganga, que deve ser exterminada ontem. O som começou indefinido, completamente embolado, com todos os volumes detonados, encobrindo as vozes e distorcendo o som na frente. A banda não conseguiu equalizar completamente o som no palco e em alguns momentos as três guitarras estavam desafinadas entre si.

Mas isso não conseguiu detonar o som da banda, são erros de uma segunda apresentação de uma banda novíssima, que não tem nem repertório fechado ainda, mas que em cerca de oito músicas a Papagaio do Futuro demonstrou ser a novidade, o diferente, aquilo que se aguarda com ansiedade na cena musical caririense há muito tempo. As três guitarras são muito bem arranjadas, em músicas que mudam constantemente de andamento. Os solos são bem dosados, bem como as timbragens.

As composições empolgam facilmente e já é possível perceber alguns hits em potencial. Faltam alguns ajustes na cozinha, apesar dos grooves marcantes do baixo. Sem dúvida nenhuma o destaque vai para a presença de palco da vocalista Grissa, com vocal possante, figurino exótico e carisma sobrando. A banda liderada por Aquiles, que assina as composições, faz vocal e toca guitarra, tem presente, tem futuro e não esquece a riqueza do passado musical do rock. Foi uma surpresa e tanto.

A banda Alegoria da Caverna apresentou o repertório do seu cd “Gororoba “ , bem como o repertório do seu projeto paralelo Os Transacionais, só de covers brasileiros da década de 60 e 70, com um som bem mais enxuto e solto do que das outras vezes que esteve aqui. A banda tem um repertório autoral que transita entre o rock’n’roll, o funk, o reggae e levadas da mpb. As letras são bem cuidadas, irônicas e fáceis de guardar. A banda tem pelo menos dois hits, a simpática “Mumu de Sabi” e a incendiária “100% Pirado”, o que é fundamental em qualquer banda: música pra galera cantar junto.

Além disso a banda é rodada, tem manha de palco. O som ficou redondinho, sem falhas. O destaque da banda é a sua cozinha, com o peso do excelente baterista D’Angelo e da competência do baixo de JolsonX. A guitarra de Miguel Basile é providencialmente econômica e muito eficiente, o guitarrista domina completamente o seu equipamento e despeja potência em seus solos certeiros e sem firulas. Vitoriano é o frontman. Sua presença é carismática, sua dicção é clara e sua guitarra é fundamental para a estrutura sonora da banda. A presença de palco da banda é massa.

O projeto Os Transacionais é pura diversão. A mudança de repertório foi marcada pela lendária “Misirlou”, de Dick Dale and His Del-Tones, com o guitarrista Miguel Basile incorporando o verdadeiro espírito da guitarra surf. O resto do repertório é uma seleção de pérolas, entre elas, versões impagáveis dos mutantes. Os transacionais é sinônimo de diversão pura, o clima ideal para fechar a noite. O que vimos, ouvimos e dançamos foram as tendências do novo em pleno diálogo com o velho, mas sem nenhuma espécie de velhacaria.

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