domingo, 2 de novembro de 2008

In extremis - Olavo Bilac


Nunca morrer assim ! Nunca morrer num dia
Assim ! de um sol assim!
Tu , desgrenhada e fria,
Fria ! postos nos meus os teus olhos molhados,
E apertando nos teus os meus dedos gelados ...
E um dia assim ! de um sol assim ! E assim a esfera
Toda azul, no esplendor do fim da primavera !
Asas , tontas de luz, cortando o firmamento !
Ninhos cantando ! Em flor a terra toda ! O vento
Despencando os rosais, sacudindo o arvoredo ...
E, aqui dentro , o silêncio ... E este espanto ! e
esse medo !
Nós dois ...e, entre nós dois , implacável e forte,
A arredar-te de ti , cada vez mais , a morte ...
Eu , com o frio a crescer no coração , - tão cheio
De ti , até no horror do verdadeiro anseio !
Tu , vendo retorcer-se amarguradamente,
A boca que beijava a tua boca ardente,
A boca que foi tua !
E eu morrendo ! e eu morrendo
Vendo-te, e vendo o sol , e vendo o céu , e vendo
Tão bela palpitar nos teus olhos , querida,
A delícia da vida ! a delícia da vida !

Um comentário:

  1. Esse poema é lindo. Eu sempre gostei. Um dos mais belos e conhecidos de Bilac.

    Bjus!

    DM

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