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O presidente Lula perdeu a melhor oportunidade de defender a reabilitação dos direitos sacerdotais do Padre Cícero Romão Batista. O presidente do Brasil, em sua visita ao Vaticano, conversou com o Papa Bento XVI por longos 24 minutos. Numa feliz iniciativa ele ofereceu ao pontífice uma belíssima peça do genuíno artesanato da Região Nordeste. Nela o artista retrata uma família de retirantes nordestinos.O processo de reabilitação sacerdotal do Padre Cícero, considerado santo por milhares de brasileiros, especialmente do sofrido Nordeste, está em andamento por iniciativa do Papa. Ele é quem deseja por fim a uma ruptura silenciosa de mais de cem anos. O Pontífice sabe o quanto isso representa para a fé de um povo que sofre as humilhações e escárnios, mas se resigna de joelhos, no torrão seco da terra natal com a certeza que as suas orações chegarão ao ouvido do Pai por intermédio de quem, como eles, passou por iguais sofrimentos.Como nordestino, o presidente Lula não poderia ter dado ao Papa presente melhor. Porém, faltou-lhe a esperteza para explicar a sua santidade o significado da peça artística. “O povo nordestino só abandona o seu torrão quando o sol queima a ultima folha de capim, quando seca a ultima gota de água, quando a vaquinha mimosa tomba sem forças. Aí ele pega o jumentinho ajeita as coisas coloca o menino mais novo no lombo do bicho e toca pra cidade”.O retirante não procura as grandes capitais. Vai para Juazeiro do Norte. Cidade santa do nordeste, terra do Padim Padre Cícero, que não desampara os fracos e sofredores. É nos arredores da cidade, assistindo as missas e rezando, recebendo o bocado da generosidade popular e as benções de Deus por intermédio do Padre Cícero. Fica lá até quando chove aí então volta pra casa e começa tudo de novo.A devoção ao Padre Cícero não é só a esperança é certeza de acolhimento e solidariedade. É a reanimação das forças para acender a fé e confiança e poder caminhar amanhã. Ele é o santo do povo. Ali no santuário ninguém quer saber o que aconteceu naquele distante 6 de março de 1889. Ali o povo fala do que acontece agora. O milagre se faz agora e não é nada de extraordinário. É a certeza de um cordeiro que se imola por todos os brasileiros e nordestinos irradiando a alegria própria dos escolhidos.O Papa sabe disso, sente isso com o seu povo. Mas essa era a oportunidade que o nordestino Lula teve para falar do sentimento mais puro e profundo dos seus conterrâneos. Fica o alerta. Os juazeirenses, daqui pra frente precisam ficar atentos. (Por José Leite de Souza,juazeirense radicado em Ilhéus, Bahia)
Postado por DANIEL WALKER
Para quem quiser saber o que significou o tratado assinado entre o governo da República Federativa do Brasil e o Vaticano reproduzo, abaixo, texto escrito pelo Cardeal de São Paulo, Dom Odilo Pedro Scherer:
ResponderExcluir"Acordo Brasil-Santa Sé No dia 13 de novembro, durante a visita do Presidente Lula ao Papa, no Vaticano, foi assinado um Acordo entre a Igreja (Santa Sé) e o Estado (Brasil), sobre a situação jurídica da Igreja no Brasil. O fato, não foi muito noticiado pela grande imprensa, é importantíssimo para a Igreja e é muito bom que o fato seja divulgado e que o texto do Acordo seja conhecido e interpretado corretamente.
Na proclamação da República (1889) foi interrompido o regime do Padroado, pelo qual a Igreja Católica havia sido até então ”religião oficial” no Brasil; feita a separação entre Igreja e Estado, estabeleceu-se o princípio do Estado laico, segundo o qual não há uma religião oficial no país e a liberdade religiosa como um direito dos cidadãos. Foi bom para a Igreja, que ficou livre da tutela do Estado e ganhou liberdade para crescer e se desenvolver com autonomia; sem a interferência do Estado, a Igreja no Brasil também passou a estreitar sua relação com o Papa e com a comunhão do episcopado.
Mas, desde então, a situação da Igreja perante o Estado carecia de clareza; não havia um reconhecimento formal da existência da Igreja católica, como uma instituição presente na sociedade brasileira, com legítimos representantes e organizações próprias. Ao mesmo tempo, faltava um reconhecimento formal acerca da contribuição que a Igreja católica podia dar para a sociedade nos vários campos, como a educação, a cultura e a saúde. Não raro, isso dava origem a dificuldades para que a legitimidade dos representantes da Igreja e de suas organizações fosse reconhecida perante as Instituições do Estado. As coisas, em geral, andaram bem por força do costume, da importância inequívoca da nossa Igreja na sociedade e por causa das boas relações geralmente cultivadas entre Igreja e Estado em nosso País. Contudo, do ponto de vista jurídico e institucional, não havia clareza nem segurança para a Igreja.
Com o Acordo, as coisas devem mudar. A Igreja católica ganha um reconhecimento jurídico perante o Estado; e também muitas de suas organizações, atribuições e ações recebem um reconhecimento jurídico oficial. Assim, por exemplo, o Bispo será reconhecido oficialmente pelo Estado como representante da sua diocese; e suas decisões em relação à diocese também. Assim, o ato da criação de uma paróquia, como também a nomeação do Pároco, serão reconhecidos pelo Estado. E esse Pároco, com a nomeação recebida, poderá apresentar-se perante o banco ou o correio e afirmar que representa legitimamente aquela paróquia... Naturalmente, trata-se apenas de algumas das muitas questões implicadas no Acordo, cujo texto integral vale a pena conhecer.
O Acordo não estabelece privilégios para a Igreja Católica no Brasil, nem discrimina outras religiões ou grupos religiosos não-católicos. Esses, por sua vez, poderão também tentar negociar com o Estado um Acordo semelhante; de toda maneira, este já oferece muitas referências válidas também para outras religiões ou Igrejas. Nada daquilo que está no Acordo contraria a Constituição brasileira. De maneira geral, o Acordo recolhe elementos já presentes na legislação brasileira num documento único e orgânico, que ganha a força de um Acordo internacional entre duas entidades soberanas: o Brasil e a Santa Sé, que representa a Igreja Católica. Isso não é pouco!
Estado laico não é aquele que proíbe ou dificulta as organizações religiosas e suas manifestações; isso seria a repressão da liberdade religiosa. O Acordo deixa clara a verdadeira laicidade do Estado, quando este reconhece, respeita e garante a liberdade religiosa dos cidadãos, sem interferir nas organizações religiosas, e aceita a colaboração dessas para o bem da sociedade. É isso que o presidente da França, Nicolas Sarkozy, chamou de ”laicidade positiva” do Estado durante a visita do Papa àquele país em setembro passado.
Há muito tempo a Igreja no Brasil desejava algo assim; já em 1953, a CNBB fez um primeiro pedido de um Acordo, mas as coisas não progrediram; nos anos 80, com Dom Ivo Lorscheiter na presidência, a CNBB tentou novamente; e assim também com Dom Luciano Mendes de Almeida e Dom Jayme Chemello, mas não houve avanços. Finalmente, em 2003, a CNBB reapresentou o pedido à Santa Sé e, então, houve abertura e interesse da parte do Governo brasileiro; as negociações foram bem sucedidas e o Acordo agora já foi assinado. Para entrar em vigor, precisa ainda ser ratificado pelas duas casas do Congresso Nacional, Câmara e Senado. Esperamos que isso aconteça em breve e sem problemas".