segunda-feira, 10 de novembro de 2008

TRÊS ESPÍRITOS DO BRASIL PÓS-MODERNO

Fortaleza, a capital do Ceará, se torna cada vez mais uma fortaleza. Para resguardar a elite brasileira. Isso com uma certa mágoa da classe média média que já tem razoável expressão na cidade, inclusive nas colunas sociais e, certamente, do "Zé Povinho" que forma a imensa maioria da cidade. A fortaleza dita é simbólica: dois imensos e exuberantes casamentos. As filhas ou filhos de algum ban ban ban do Ceará casa-se com outro ban ban ban de algum lugar e se faz um casamento de Contos de Fadas. Então, na província, pobre e miserável, baixa toda a república para as delícias de comelanças, bebidanças e mostranças. É pura Versailles de Luiz XV: os vestidos esfuziantes, casacos black tie, smoking e com termos franceses e ingleses a papagaiada e o estado de pavoneamento passeiam num troca a troca de rodas para se mostrar. É tudo tão ridículo e não anacrônico que a cidade se diverte como num circo: lendo "as colunas sociais", as notas, as gafes, os acordos, até no sul maravilha, pelas páginas do Globo vendo o Zé Serra borboleteando a pleno vapor. E foram casamentos dos poderes: o primeiro do judiciário e agora o do legislativo com uma inveja de executivo. Não é mole não, de vez em quando me abate uma vergonha danada de ser brasileiro, mas afinal computo à espécie humana, mas isso é aí é pura vergonha de ser cearense.

Ontem chegando ao bairro de Bonsucesso para deixar meu filho para fazer um exame, vi a sofreguidão com a qual os guardadores de automóveis disputavam o espaço público. Entre os carros, ameaçados de acidentes graves e morte, buscavam algum trocado para vencer o dia. Todo aquela crítica ao loteamento do espaço crítica se calou no drama do ser humano tendo que tanto se expor por apenas algumas refeições a mais. Como a vida é este contínuo permanente com o mundo, não pode parar de respirar nem cinco minutos, não se pode deixar de beber água e nem de comer. E como a água e a comida só com dinheiro que não existe, fiquei em longo diálogo com meus botões. Neste estado geral da economia e das regras sociais a principal conclusão é: o equilíbrio da natureza é no mundo mineral. A vida é uma aberração, depende de tanta interação, tanto movimento que a paz do mundo é o fim da vida.

Semanas passadas falei de três pontos cardeais do centro do Rio de Janeiro. Quatro personagens da história da cidade. Pois bem, na semana que passou houve uma novidade. O rapaz que tocava a plenos pulmões pôs uma anúncio de vende-se em sua caixa de som. No trânsito pela sua vizinhança, pensei: é o fim deste ponto cardeal. Na volta, sua voz se calara, mas o ponto em que se encontrava virara uma espécie de domicílio. A caixa de som tocava um MP3 em altos decibéis e uma senhora negra dançava uma dança desritmada, mas tão evocativa com se dialogasse com uma divindade, urbana, louca, barulhenta e sujeita a engarrafamento de trânsito. O rapaz, o músico, estava deitado, com óculos escuros, os pés apoiados sobre a caixa de som, em mais legítimo ritmo de meditação.

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