terça-feira, 23 de dezembro de 2008

No dia em que apareci no mundo


De acordo com o belo samba-canção de Ari Barroso, divinamente interpretado por Elis Regina na faixa de abertura do disco Elis, de 1974,- não lembro, a rigor, do que fiz no dia em que apareci no mundo.

Devo ter dado, como todos recém-nascidos, uma boa chorada e, depois, uma boa mamada.

Mas, com certeza, não num "litro e meio de cachaça".

Devo ter tirado, sim!, uma bela soneca e ter escutado novos e estranhos sons, como vozes humanas, cantos de pássaros, barulho de carros e do trem.

Nasci, pois!, na Maternidade Jesus, Maria e José, localizada na Praça Cristo Rei, também conhecida como Praça da Estação e tradicional ponto de táxi da cidade.

Numa das esquinas, em frente à Estação da Rffsa, ficava o elegante Bar Social, dotado também de lanchonete, sorveteria, bombonieri e mesas de jogos de bilhar, popularmente chamado de sinuca.

Pouco depois, eu retornaria ali, na companhia do meu pai e de meus irmãos mais novos, para saborear um “indefectível” sorvete.

Isso, depois de esperarmos a chegada do trem, por volta das sete horas da noite, vindo de Fortaleza e trazendo passageiros e cargas diversas.
(..)lembro que encostava o ouvido no trilho e, juro!, ouvia as ondas que repercutiam no metal frio daquele brilho(...)

Essas são as minhas lembranças mais remotas, que a cada dia se tornam mais nítidas e, conseqüentemente, para sempre indeléveis .

Imagem: cartão postal comercializado em Crato na dácada de 1970, produzido por Loja Primo.

2 comentários:

  1. Fui batizada
    e mamei pelo menos
    meio litro de cachaça,
    no peito da garrafa.
    Os trilhos
    os pombos
    o sacolejar do meu coração
    Esperei e parti
    Até que voltei pra ficar.
    Madrugadas de sono...
    E o apito do trem ...
    Um sonho azul , como se chamava
    Bar Social ...
    Um combinado pra variar
    Sorvete, salada e pudim ...
    Como não tinha diabetes,
    podia ficar a fim
    Dizem que o trem vai chegar...
    Vamos lá ?

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  2. É com tão bons olhos que leio esses textos sem nenhuma presunção de serem obras-de-arte, mas que acabam transmitindo mais do que muitas coleções de livros...

    Abraços, meu amigo.
    Esse é um texto em que eu devo te agradecer, mesmo sem a pretensão de elogiar.

    DM

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