domingo, 21 de dezembro de 2008

OS TEMPOS DE GUERRA - Duplix: José do Vale X Claude Bloc

Poetrix original (em preto) por José do Vale - Duplix em azul por Claude Bloc

Mas que coisa sucede?
Esses contemporâneos que se reduzem em gotas,
a cada ano somos menos,
antes uma multidão em marcha,
no réveillon somos um grupo.

Mas que coisa acontece?
Nesses sítios urbanos, onde a alma se perde
E a multidão se contorce
Nos natais fabricados
Em busca de sonhos vazios?

O tempo jamais envelhece,
são os espaços vazios que negam,
a contradição de tantos pensamentos,
o burburinho de vozes dissonantes,
a síntese destas mudanças inevitáveis.

A vida jamais envelhece
Os traços em nosso rosto são apenas
As marcas desabrochadas
As dores entorpecidas
As vozes que se escondem no silêncio.


E que venham os jovens,
preencher a mesmice que não muda,
lançar afoitos gritos de alerta,
e poderão vir como bárbaros em saque,
consumindo os últimos estoques de vida.

E que venham as tralhas, as sobras
De um tempo enlouquecido
De um caos embrutecido
Por barbaridades e medos
Consumindo os últimos estoques de alegria.

Eles são muitos como promessa de tempo,
agora é pouco o quê e quem se junta,
em nós a solidão de abraços,
as lembranças por fortuna do amanhã,
os reparos dos fatos em nova interpretação.

Eles agora são tantos como promessa de vida
São incógnitas, são ícones de nossa agonia
E em nós a solidão de sorrisos
Que trespassam as lembranças e nos consomem
E no portal do amanhã
A interpretação inexata dos nossos anseios


Se os tempos tivessem paz,
o idoso, o jovem ou quem já vem,
poderia discutir a evolução da vida,
e não este besouro se alimentando dos filhos,
ou descendentes que lançam velhos nas escarpas.

Se os tempos tivessem sossego
Entre jovem e idoso haveria consenso
E os sonhos de ambos seriam iguais
E não esse contraponto, essa hipocrisia
Essa dualidade tão controversa...


Quando se briga por geração,
a roda da ordem há muito que parou,
outros tempos virão dos escombros,
e das carcaças de velhos e jovens sobre o solo.

2 comentários:

  1. Claude trouxe para o Cariricult esta dupla de viola. Sem desafio. Agora como um novo canto sobre o que já se havia exposto. Um canto novo, sobre o mesmo mote (ou narrativa inteira), com outras visões, outros conceitos, como um mar feito de pessoas e não pelas mesmas águas.

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  2. J. do Vale,

    Eis-nos cantando a vida em dimensões diversas e, no entanto, tão iguais. Um interpelando o outro sem se contrapor... Idéias se completando, mesmo que paralelas...

    Abraço,

    Claude

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