quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

CHE GUEVARA - Por Joaquim Pinheiro Bezerra de Menezes

CHE GUEVARA

A segunda palavra mais conhecida em todo mundo é o termo “Che”. Perde apenas para “coca-cola”. A foto mais reproduzida em todo universo é a de Ernesto Guevara Lynch, captada por Alberto Korda. Também é dele o rosto com maior número impressões em bandeiras e camisetas. É o personagem masculino do século XX com maior número de poemas a seu respeito. Não tenho esta informação, mas, provavelmente, o fato se repete com relação a música. Possuo um cd (Tu querida presencia – canciones) com 20 canções de compositores de vários países, todas dedicadas a Che. Se pesquisarmos filmes, existem muitos. Não sei precisar quantos, mas este ano foram lançados 2 (“Che” e “Che – a Guerrilha”), ambos do diretor americano Steven Sodeberg, o mesmo de Traffic. Tenho notícias de outros dois: Ernesto “Che” Guevara, homem, companheiro e amigo (Espanha/Portugal) e Quando penso em Che. Deste último tenho uma cópia. É a personalidade recordista em quantidade de biografias. Somente no ano de 1997 foram 8 lançamentos no mercado internacional. Uma escrita pelo historiador mexicano Jorge Castañeda, ex-ministro das relações exteriores do seu pais, outra, pelo também mexicano Paco Ignácio Taibo, e ainda, uma terceira, escrita pelo americano Jon Lee Anderson, com mais de 800 páginas, considerada a mais completa. Levou 10 anos para ser escrita. O autor percorreu todos os locais por onde o guerrilheiro passou, consultou documentos nos Estados Unidos, Cuba, União Soviética, enfim, todos os países com alguma relação com seu personagem. É bom ressaltar que nenhuma delas foi contestada em nenhum ponto.
Tudo isto para uma pessoa que não completou 40 anos, foi médico, comandante de coluna, comandante de exército, Presidente do Banco Central e Ministro de Estado. Deixou vários livros publicados, inclusive sobre economia e planejamento. Sobre ele disse Jean Paul Sartre: “O mais completo ser humano do século XX”.

Será que tudo isto seria motivado apenas por um mito? Será que, se fosse apenas ficção, a lenda perduraria tanto tempo?
A propósito da reportagem da “Veja”, vejam a carta que o biógrafo e jornalista Jon Lee Anderson escreveu para o autor:

Caro Diogo,
Fiquei intrigado quando você não me procurou após eu responder seu email. Aí me passaram sua reportagem em Veja, que foi a mais parcial análise de uma figura política contemporânea que li em muito tempo. Foi justamente este tipo de reportagem hiper editorializada, ou uma hagiografia ou – como é o seu caso – uma demonização, que me fizeram escrever a biografia de Che. Tentei pôr pele e osso na figura super-mitificada de Che para compreender que tipo de pessoa ele foi. O que você escreveu foi um texto opinativo camuflado de jornalismo imparcial, coisa que evidentemente não é. Jornalismo honesto, pelos meus critérios, envolve fontes variadas e perspectivas múltiplas, uma tentativa de compreender a pessoa sobre quem se escreve no contexto em que viveu com o objetivo de educar seus leitores com ao menos um esforço de objetividade. O que você fez com Che é o equivalente a escrever sobre George W. Bush utilizando apenas o que lhe disseram Hugo Chávez e Mahmoud Ahmadinejad para sustentar seu ponto de vista. No fim das contas, estou feliz que você não tenha me entrevistado. Eu teria falado em boa fé imaginando, equivocadamente, que você se tratava de um jornalista sério, um companheiro de profissão honesto. Ao presumir isto, eu estaria errado. Esteja à vontade para publicar esta carta em Veja, se for seu desejo.

Cordialmente,
Jon Lee Anderson.

Um comentário:

  1. Orlando Fedelli
    São Paulo - SP disse:

    Che Guevara foi transformado em herói pela mídia socialista. Seu retrato foi tão retocado quanto o do Tiradentes, tomando ares de um herói romântico de Hollywood. Um herói da capitalista Metro Goldwin Mayer. Uma espécie de Robin Wood do século XX, de boina e fuzil, levando à realização da reforma Agrária e a fuzilamentos en el Paredón!

    Na verdade, ele foi um comunista que ajudou a instalar a ditadura de Fidel Castro no poder, há mais de 40 anos. Essa ditadura, que surgiu -- dizia-se -- para combater a ditadura de Batista, para acabar com a pobreza e a corrupção, só as substituiu por outra ditadura, ainda mais sanguinária que a anterior e, certamente, mais corrupta. (Não faltam os indícios ligando castrismo e narcotráfico) E quanto à pobreza, em Cuba, nunca se passou tanta fome como com o regime fidelista.

    Mas é uma fome socialista. Uma fome livre. Sem eleições, mas livre. Só quem não concorda -- por falta de compreensão das leis da História -- é que vai ser reeducado na cadeia, e, em casos de reeducação impossível, vai para "El Paredón" o justiceiro purificador social.

    É claro que os comunistas -- do tipo do semi frei Betto -- apontam como causa da miséria cubana o bloqueio econômico imposto pelos americanos à ilha do Caribe. Mas isso é uma falácia.

    Todos os países em que se instaurou o socialismo justiceiro e igualitário caíram na esfarrapada e faminta miséria castrista. URSS e seus países satélites, China comunista, Angola, Moçambique, Etiópia, Chile de Allende, todos os países socialistas jamais tiveram problemas de obesidade. Todos sofreram da tradicional elegante magreza socialista.

    Che Guevara ajudou a instalar o comunismo magro e elegante em Angola, sendo, portanto, responsável pela exportação da miséria cubana e seus massacres para esse feliz país africano.

    Guevara levou a guerrilha e o terrorismo à Bolívia, onde foi morto.

    Sua morte foi a alavanca para fazer dele o herói comunista, que permite uma escapatória ideológica para os socialistas -- eles não gostam de se apresentar como comunistas -- decepcionados com as ditaduras e a miséria castrista ou da URSS: o socialismo instalado na Rússia ou em Cuba, dizem, não foi o verdadeiro, o puro socialismo sonhado por Guevara. Caso ele -o herói -- tivesse triunfado, outro seria o socialismo. Seria realmente um socialismo mais justo, mais solidário, mais cheio de ternura -- com o fuzil, claro, mas um fuzil terno e doce, que usaria balas açucaradas... --e não um socialismo desumano, bruto, stalinista.

    Tudo sonho.

    Sonho que adia para um eterno depois-de-amanhã, além do horizonte azul da realidade, a "realização" do idealizado regime da igualdade e da justiça, quando a igualdade, sendo antinatural, só traz a injustiça.

    Os sonhadores da utopia adiam sempre, para um amanhã indefinido, os seus sonhos irrealizáveis, porque absurdos.

    Amanhã... amanhã será um lindo dia.

    Como se o sonho pudesse garantir que amanhã, seguramente será sempre azul, e que nesse amanhã não haverá mais nem trovoadas, nem furacões. E que, nesse amanhã, só haverá panelas cheias, crianças saudáveis, jovens idealistas, homens trabalhadores e carinhosos, e deputados honestos.

    É o sonho da floresta do Tarzan, com tigres educados e leais, pântanos sem lama, florestas sem espinhos e sem malária.

    A figura idealizada do Che, à custa da propaganda, permite que universitários descabelados, alimentem suas auto ilusões de serem justos, tomando cerveja, enquanto namoram em mesinhas de bares, posando de filósofos, arrotando frases sobre mais valia e dialética, que, normalmente, jamais estudaram, enquanto mastigam um hambúrguer capitalista.

    Isso quando não fazem pose de serem cristãos, amantes de uma justiça social aprendida em sacristias de conventos de bairros abastados, da boca de frades da Teologia da Libertação, eles também freqüentadores de barzinhos social-capitalistas.

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