quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Imagens do Cariri – por Armando Lopes Rafael



Vista da Cidade de Crato 1861- aquarela de José Reis. Museu de Arte de Crato


Além da uma extensão de terra, onde estão localizados vários municípios no sul do Ceará, o vale do Cariri é conhecido também por suas fontes de águas perenes e sua vegetação, sempre verde o ano todo, contrastando com a paisagem cinzenta dos sertões semi-áridos que o circundam. Historiadores regionais, ao falar deste vale, o fazem muitas vezes misturando imagens telúricas ao aspecto geográfico. Provando ser verdade a afirmação de que a geografia prefigura a História.
Irineu Pinheiro escrevendo sobre esta região afirmou:
"É o Cariri, no sul do Ceará, uma região caracterizada por suas águas perenes jorrantes das faldas do planalto do Araripe, sua vegetação verde nos sítios, seus buritis e babaçus de porte tão elegante, seus canaviais ao pé-da-serra do Araripe e dos brejos vizinhos, seus engenhos que moem canas-de-açúcar e cheiram a mel, seus bois tardos e pacientes que ruminam nas bagaceiras, ao lado de burros irrequietos que, durante o dia, de sol a sol, cambitam nas moagens, num vaivém contínuo dos cortes dos sítios para o pé dos engenhos e vice-versa, suas lindíssimas paisagens vistas das ladeiras da chapada araripana. (...) Denominaram-no, a princípio, Cariri Novo, para diferenciá-lo do Cariri paraibano, apelidado Cariri Velho, por ter sido descoberto anteriormente. Veio-lhe o nome dos índios cariris que na época da colonização do Ceará ocuparam extenso trato do território nacional, de Itapicuru, no Maranhão, ao Paraguaçu, na Bahia".
George Gardner, naturalista escocês, que visitou o Crato em 1838, assim se expressou ao chegar à Cidade de Frei Carlos:
"Impossível descrever o deleite que senti, ao entrar neste distrito, comparativamente rico e risonho, depois de marchar mais de trezentas milhas através de uma região que, naquela estação, era pouco melhor que um deserto.
A tarde era das mais belas que me lembra ter visto, com o sol a sumir-se em grande esplendor por trás da Serra do Araripe, longa cadeia de montanhas, a cerca de uma légua para Oeste da Vila, e o frescor da região parece tirar aos seus raios o ardor que pouco antes do poente é tão opressivo ao viajante, nas terras baixas.
A beleza da noite, a doçura revigorante da atmosfera, a riqueza da paisagem, tão diferente de quanto, havia pouco, houvera visto, tudo tendia a gerar uma exultação de espírito, que só experimenta o amante da natureza e que, em vão eu desejava fosse duradoura, porque me sentia não só em harmonia comigo mesmo, mas “em paz com tudo em torno".

Nenhum comentário:

Postar um comentário