domingo, 22 de fevereiro de 2009

Carnaval, delírio ou saudade? - Por Claude Bloc

Por que o lirismo é muitas vezes execrado?
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O Carnaval chegou e nem senti... Foi-se o tempo em que eu me arvorava a “brincar” na AABB e no Crato Tênis Clube. A turma do Pimenta formava um bloco animado, e, com fantasias iguais, saía a saltitar pelos salões, em bloco, exibindo sorrisos, suores, alegria. Era uma turminha bem comportada, pais atentos, alma festiva. Bons tempos!

Hoje me encontro poeta de corpo inteiro, alma fragmentada pelos desacertos e aflições existenciais. Vou entrelaçando incansavelmente as palavras à minha ansiedade, à minha ânsia de viver. Concentro-me nos meus temas. Nos meus novos caminhos. Minha essência se embebe de lirismo. Minha prosa se enraíza profundamente na poesia e já não mais consigo fugir desse torvelinho inspirador, dessa roda viva.

Minha fantasia não tem mais as mesmas cores. Nem sei se disponho de sentimentos pares. Nem sei se entendo, nesse entusiasmo carnavalesco que povoa o mundo, o sentido das coisas que me rodeiam, o toque e as nuanças dos objetos cativos. As palavras que gosto de dizer são cotidianas e pertinazes ao meu estro. Dão continuidade aos vazios de minhas líricas vontades, alimentando sentimentos ermos (?)... Laçam-me pelas frestas do tempo, onde busco não ferir a evolução delicada de alguma composição literária e/ou suas constelações temáticas... Só assim, entro em órbita sem abrir mão do silêncio.

Portanto, o Carnaval hoje não mais me encanta. Que me perdoem os aficionados, mas acho uma mesmice sem igual. Sambas, brigas, bebida... droga! Tudo igualzinho a cada ano. As músicas são, na maioria, repetições de outras de anos anteriores. Mesma batida, mesma linha melódica, letras sem graça. Nem a liberdade carnavalesca me seduz, pois já a tenho a cada dia de minha vida e a uso em meu favor e não contra mim. Quero frisar que esta é apenas minha visão pessoal, a expressão do meu enfado, minha exortação à paz e ao silêncio.

Não quero com isto que a alegria se apague dos olhares dos andantes, pulantes, cantantes... A vida cada um a vê como quer ou gosta. Estou apenas anunciando minha expressão de desencanto em relação a essa engrenagem, a este período do ano, a essa euforia passageira e seus processos. Hoje, quero apenas embalar meus silêncios e manter essa minha relação intrínseca com a vida. Quero apenas assentar meu delírio no tempo e sufocar meu grito na saudade.

Por: Claude Bloc

2 comentários:

  1. Bela e boa metamorfose: perdemos uma foliona e ganhamos uma poeta.
    Abraços!

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  2. Carlos Rafael,

    O tempo consome muitos sonhos e desejos nossos. Mas a chama da vida continua acesa com ou sem Carnaval. Eu apenas desviei o curso de minha história e creio que saí ganhando.

    Abraço,

    Claude

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