terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Companhia

Minha lagartixa continua imperiosa,
imprevisível, dona do seu próprio rabinho -
Faz o que deseja e vai aonde lhe apraz.

Sinto, entretanto, da sua parte
uma inquietação em aproximar-se
do espaço em que medito e escrevo.

O quarto dos fundos é um baú
de pouca coisa admirável -
tirando todos os objetos
sequer perceberia a poeira.

Mas é lá que minha lagartixa,
por sinal gordinha,
ultimamente gosta de estar.

Agora há pouco
debaixo da cadeira giratória
refletia ela sobre seus dilemas de réptil.

Se não fosse o poeta tão insensível
com seus pesados passos
certamente ela alcançaria o assento.

Sentada, altiva, elegante,
com seus olhinhos para o computador -
não duvido, logo escreveria
a respeito do seu mundo silencioso.

A predileção pela chuva
e o seu misterioso celibato.

Ou talvez a lagartixa
em esforço sobrenatural
quisesse apenas mover as rodinhas
da cadeira giratória e assanhar o espírito:
"Adrenalina, meu poeta, adrenalina!"

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