quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009


Não existe sentido. Então, procurar é perda de tempo. Sair é cheirar o cheiro de outro asfalto. Olhar outras fotos. Sonhar com outra lua em cima da serra. Uma europa no papo brabo do vizinho de mesa. Não consigo aprender outra língua. Não consigo nem falar direito a minha. As fábulas... o indigente geme na porta corrediça da super mega loja de eletrodomésticos. Pede silêncio. Diz que quer morrer. A polícia chega. Agora ele consegue.

4 comentários:

  1. Como o Lupeu escreve bem! Um caleidoscópio imprevisível, mas ao contrário do aparelho, Lupeu compõe um retalho com tanta força, que é impossível não compreender o todo pela parte. Lido este texto o estilo se consolida. Começamos com um"flash" que promete algo, saltando do sentido para o cheiro de outros asfaltos, para outras línguas e finalmente a imagem do mendigo na loja de eletrodomêsticos (só nelas, isso é universal, seus aparelhos iluminados, a porta confortável, a segurança das luzes, entre o palácio do consumo e a miséria (des)consumida). Com ela e a polícia que chega, o todo se funde.

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  2. A que podemos comparar um poema?
    A um fio desencapado. Se houver energia, o choque será imediato. Não há o que pensar. Buscar explicações serve apenas para exercício... Mas tem que haver o choque.

    Se o texto não tem aquela energia, pega-se num fio frio, não se sente aquela sensação.

    Seu texto, Lupeu, tem energia. Tá ligado a uma fonte. Dá choque. Não precisa explicação. É pá! na hora. Pronto.

    E tem mais, colocar um mendigo nas linhas de um poema não é pra qualquer um. Exige-se, no mínimo um sentido de compaixão no olhar, coisa que numa escala maior poucos fazem, para não parecer uma poesia engajada. Besteira. O poeta é um homem engajado na vida. Quando a vida destoa, ele grita.

    Só uma provocaçãozinha: quem escreve um texto como esse seu não cuspiria jamais no cadáver de Kakfa.

    Parabéns, cara. Muito bom seu texto.

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  3. The Lupas na área,
    armado e perigoso, no front sempre!
    Bela produção, velho.
    abraços

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  4. zé do vale, grande zé do vale. caleidoscópico é o seu olho. o mendigo... os mendigos né? são uma unanimidade brasileira, mundial, se bobear: intergalácticos. eletro - nada - domésticos, são nossas algemas, nossos óculos escuros. eu? sou só o fotógrafo.

    chagas abertas, coração ferido. mendigos em lojas né? só faltam vir com botão de liga e desliga. é como disse ao zé: sou só um fotógrafo, que usa palavras, e de quando em vez, faço uma foto "visível". quanto a parada do kafka, é o seguinte: o cara que escreveu o texto (gustavo rios), é meu irmão. fiz papel de guerreiro de defesa, embora, sendo bem sincero, não goste realmente do kafka. já tenho muito trabalho tentando entender os beats, guima rosa, manoel de barros e os meus pares. desculpe o mau jeito, normalmente não sou tão escroto. hasta la vista.

    lobisomem, pra mim, o grande escriba vivo das terras kariris. sem babação, na boa. lobisomem é o cara a ser lido. escutado. e querido. (duvido que alguém consiga fazer isso tudo).
    valeu wolf

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