CONTATOS IMEDIATOS
Hoje, passados tantos anos, ainda existem controvérsias sobre a origem dos estranhos episódios que passaram a acontecer em Matozinho, naquela época. O único consenso neste assunto ,tão pouco palatável na cidade ,é que o desencadeamento dos fenômenos paranormais coincidiu com a chegada de um sujeitinho esquisito, em Matozinho. Dizia vinha das bandas de Quixadá e narrava por todo canto a história da invasão de Ufo´s e da convivência de ETs com a população, em plena luz do dia, na terra da pedra da galinha. Seus relatos juntavam uma grande audiência e nosso viajante não tinha meias palavras para contar , com detalhes, todos os fatos, para uma platéia aturdida e progressivamente temerosa. Reunidos no Bar do Giba , ele informava que lá os discos voadores desciam na cidade em plena luz do dia e os ETs faziam compras nos supermercados e conversavam com a população numa linguagem metálica e pouco compreensível. Vezes por outras levavam , afirmava ele, quixadenses nas suas viagens e muitos já conheciam perfeitamente o planeta Ω425( ômega 425) , na constelação Alfa de Centauro. Não bastasse isto, constatou-se que dezenas de habitantes do sertão central estão chipados , sendo controlados a distância pelos ET´s.
Não se sabe bem que influência tiveram estes relatos no desenvolvimento dos estranhos fenômenos que, a partir daí, começaram a surgir , reiteradamente, em terras matozenses.Pessoas desaparecendo por períodos irregulares de tempo, aparição de discos voadores e contatos imediatos de todos os graus. As histórias se acumularam tanto que, vendo a população em pânico, o edil municipal, Cel. Feliciano Pedrácio, resolveu realizar um grande encontro na cidade, com fins de discutir tão premente assunto. Para tanto, convidou o Prof. Agobaldo Franz, renomado ufologista da capital, homem acostumado, segundo se dizia, a pegar ET´s pelos cornos.
No dia aprazado, chegou o cientista em Matozinho, na sopa das quartas feiras, com aquela cara de fugitivo de hospício : magricela, óculos fundo de garrafa, cabelo desgrenhado, uma grande pasta de couro numa das mãos e um bicho parecido com um teodolito na outra. Soube-se depois se tratar de um telescópio. Pediu ao Cel. Feliciano uns dois dias para pesquisar, em campo, os fenômenos e o 1o. ENMU -- Encontro Matozense de Ufologia—marcou-se para a sexta-feira e sábados seguintes. A princípio imaginaram realizar na Câmara Municipal o ENMU, mas foram tantas as inscrições que resolveram levar para a praça da matriz. Cada um responsabilizou-se pela cadeira e pelo guarda-sol.
Na sexta-feira, enfim, formou-se a mesa dos trabalhos com o prefeito, o professor Agobaldo e o presidente da Câmara. A platéia mal notou que uma das cadeiras na mesa estava estrategicamente vazia. Após os discursos de praxe, cedeu-se a palavra ao nobre cientista. Sem meias palavras ele explicou que o problema mostrava-se simples :Matozinho encontrava-se numa grande rota universal de UFO´s. Isto porque existe um portal intergaláctico que comprime o espaço-tempo e este abre-se sobre a Serra da Jurumenha que circunda esta cidade. Segundo ele, mais de trinta matozenses já tinham sido abduzidos e havia suspeita de mais de cinqüenta chipações em habitantes da cidade. Praticamente quase toda a vila já tinha tido contatos de diversos graus com os extraterrestres. Para provar minhas teorias, ele completou, para o assombro de todos, trouxe aqui para o nosso encontro um ET do planeta Ψ 127 , ele está sentado aqui na nossa mesa de trabalhos.Como ninguém o visse, ele apontou para a cadeira vazia e lascou:
-- Ele está aboletado ali, chama-se Zibim, mas só eu que tenho poderes extrassensoriais posso vê-lo.Todos vocês , no entanto, podem entrevista-lo através de mim. Me perguntem que eu traduzo para ele e vice-versa.
Por mais de duas horas a entrevista rolou solta, até que o professor traduziu a última mensagem do ET :
--- O bicho tá dizendo que tá encafifado, num agüenta mais, já tá todo engembrado com uma dor que começa nas cruz e responde no osso do mucumbu. Ele quer parar. .
No sábado, o 1o. ENMU terminou com todo sucesso deste mundo, já com promessa do prefeito de novas edições nos próximos anos. Ele se convencera : finalmente Matozinho encontrara sua vocação como cidade e o turismo prosperaria como nunca, até mesmo com a possibilidade de um turismo intergaláctico, fato que já tinha sido acordado, previamente com Zibim.
Meses depois, Rui Pincel, o incréu da vila, fez aquelas que, talvez tenham sido as considerações de maior embasamento científico sobre o assunto:
--- Ô povo mentiroso esse povo de Matozinho ! Jojó Fubuia , bêbado, viu uma caixa de marimbondo de chapéu e espalhou que era um disco voador e que , inclusive, tinha sido atacado pelos canhões do bicho, já que tava cobertinho de ferroada. Neguim desaparece com rapariga, durante três dias, e depois diz à patroa que foi abduzido.Cabra tá devendo no comércio, anoitece e não amanhece, e ninguém diz que é velhaco não ! Tá viajando, meu filho, lá no tal deste planeta “fi 127” . Ô planetinha fi duma égua ! De noite, é um pula pula de ET ,de muro em muro , que a previsão do prof. Agobaldo tá até subestimada ! Num tem ninguém chipado não, mas acho que chifrado aqui em Matozinho já tem pra mais de cem. Mariquinha, mulher de Valdo, o padeiro, desapareceu por uma semana e diz que foi abduzida. Engraçado é que, no mesmo dia, Pedro das Bananas foi também seqüestrado por ETs. Coincidentemente, eles voltaram no mesmo dia, devem ter pegado o mesmo disco voador ! Agora Mariquinha apareceu com um bucho e jura para o marido que aquilo foi um contato imediato do quarto grau .Vôte! É isso mesmo , meu amigo, ela furunfou com o ET. O marido, meu Deus, anda até feliz, imaginem que até já escolheu o nome do menino:
--- ETeValdo ... !
Hoje, passados tantos anos, ainda existem controvérsias sobre a origem dos estranhos episódios que passaram a acontecer em Matozinho, naquela época. O único consenso neste assunto ,tão pouco palatável na cidade ,é que o desencadeamento dos fenômenos paranormais coincidiu com a chegada de um sujeitinho esquisito, em Matozinho. Dizia vinha das bandas de Quixadá e narrava por todo canto a história da invasão de Ufo´s e da convivência de ETs com a população, em plena luz do dia, na terra da pedra da galinha. Seus relatos juntavam uma grande audiência e nosso viajante não tinha meias palavras para contar , com detalhes, todos os fatos, para uma platéia aturdida e progressivamente temerosa. Reunidos no Bar do Giba , ele informava que lá os discos voadores desciam na cidade em plena luz do dia e os ETs faziam compras nos supermercados e conversavam com a população numa linguagem metálica e pouco compreensível. Vezes por outras levavam , afirmava ele, quixadenses nas suas viagens e muitos já conheciam perfeitamente o planeta Ω425( ômega 425) , na constelação Alfa de Centauro. Não bastasse isto, constatou-se que dezenas de habitantes do sertão central estão chipados , sendo controlados a distância pelos ET´s.
Não se sabe bem que influência tiveram estes relatos no desenvolvimento dos estranhos fenômenos que, a partir daí, começaram a surgir , reiteradamente, em terras matozenses.Pessoas desaparecendo por períodos irregulares de tempo, aparição de discos voadores e contatos imediatos de todos os graus. As histórias se acumularam tanto que, vendo a população em pânico, o edil municipal, Cel. Feliciano Pedrácio, resolveu realizar um grande encontro na cidade, com fins de discutir tão premente assunto. Para tanto, convidou o Prof. Agobaldo Franz, renomado ufologista da capital, homem acostumado, segundo se dizia, a pegar ET´s pelos cornos.
No dia aprazado, chegou o cientista em Matozinho, na sopa das quartas feiras, com aquela cara de fugitivo de hospício : magricela, óculos fundo de garrafa, cabelo desgrenhado, uma grande pasta de couro numa das mãos e um bicho parecido com um teodolito na outra. Soube-se depois se tratar de um telescópio. Pediu ao Cel. Feliciano uns dois dias para pesquisar, em campo, os fenômenos e o 1o. ENMU -- Encontro Matozense de Ufologia—marcou-se para a sexta-feira e sábados seguintes. A princípio imaginaram realizar na Câmara Municipal o ENMU, mas foram tantas as inscrições que resolveram levar para a praça da matriz. Cada um responsabilizou-se pela cadeira e pelo guarda-sol.
Na sexta-feira, enfim, formou-se a mesa dos trabalhos com o prefeito, o professor Agobaldo e o presidente da Câmara. A platéia mal notou que uma das cadeiras na mesa estava estrategicamente vazia. Após os discursos de praxe, cedeu-se a palavra ao nobre cientista. Sem meias palavras ele explicou que o problema mostrava-se simples :Matozinho encontrava-se numa grande rota universal de UFO´s. Isto porque existe um portal intergaláctico que comprime o espaço-tempo e este abre-se sobre a Serra da Jurumenha que circunda esta cidade. Segundo ele, mais de trinta matozenses já tinham sido abduzidos e havia suspeita de mais de cinqüenta chipações em habitantes da cidade. Praticamente quase toda a vila já tinha tido contatos de diversos graus com os extraterrestres. Para provar minhas teorias, ele completou, para o assombro de todos, trouxe aqui para o nosso encontro um ET do planeta Ψ 127 , ele está sentado aqui na nossa mesa de trabalhos.Como ninguém o visse, ele apontou para a cadeira vazia e lascou:
-- Ele está aboletado ali, chama-se Zibim, mas só eu que tenho poderes extrassensoriais posso vê-lo.Todos vocês , no entanto, podem entrevista-lo através de mim. Me perguntem que eu traduzo para ele e vice-versa.
Por mais de duas horas a entrevista rolou solta, até que o professor traduziu a última mensagem do ET :
--- O bicho tá dizendo que tá encafifado, num agüenta mais, já tá todo engembrado com uma dor que começa nas cruz e responde no osso do mucumbu. Ele quer parar. .
No sábado, o 1o. ENMU terminou com todo sucesso deste mundo, já com promessa do prefeito de novas edições nos próximos anos. Ele se convencera : finalmente Matozinho encontrara sua vocação como cidade e o turismo prosperaria como nunca, até mesmo com a possibilidade de um turismo intergaláctico, fato que já tinha sido acordado, previamente com Zibim.
Meses depois, Rui Pincel, o incréu da vila, fez aquelas que, talvez tenham sido as considerações de maior embasamento científico sobre o assunto:
--- Ô povo mentiroso esse povo de Matozinho ! Jojó Fubuia , bêbado, viu uma caixa de marimbondo de chapéu e espalhou que era um disco voador e que , inclusive, tinha sido atacado pelos canhões do bicho, já que tava cobertinho de ferroada. Neguim desaparece com rapariga, durante três dias, e depois diz à patroa que foi abduzido.Cabra tá devendo no comércio, anoitece e não amanhece, e ninguém diz que é velhaco não ! Tá viajando, meu filho, lá no tal deste planeta “fi 127” . Ô planetinha fi duma égua ! De noite, é um pula pula de ET ,de muro em muro , que a previsão do prof. Agobaldo tá até subestimada ! Num tem ninguém chipado não, mas acho que chifrado aqui em Matozinho já tem pra mais de cem. Mariquinha, mulher de Valdo, o padeiro, desapareceu por uma semana e diz que foi abduzida. Engraçado é que, no mesmo dia, Pedro das Bananas foi também seqüestrado por ETs. Coincidentemente, eles voltaram no mesmo dia, devem ter pegado o mesmo disco voador ! Agora Mariquinha apareceu com um bucho e jura para o marido que aquilo foi um contato imediato do quarto grau .Vôte! É isso mesmo , meu amigo, ela furunfou com o ET. O marido, meu Deus, anda até feliz, imaginem que até já escolheu o nome do menino:
--- ETeValdo ... !
J. Flávio Vieira
Do Livro : "Matozinho vai à guerra"
Meu camarada, quanto artesanato na tua escrita. Humor refinado e com sotaque. Imagens lúdicas e pitorescas. E uma absurda coerência no diálogo e na transcrição dos sentimentos. É ótimo ler suas estórias. Gargalho baixinho deliciosamente.
ResponderExcluirQuanta saudades sentia eu de Matozinho...
Admiráveis abraços.
Abraço ao garnde Domingos, feliz que tenha gostado do texto. Quando vamos ter seu livro de poesias, professor ?
ResponderExcluirMeu caro JFlávio,
ResponderExcluirbasta algum mecenas olhar com piedosos olhos sobre minha humilde escrita...
Um forte abraço.