No próximo dia 25 de maio o rapadura cultural completará dez anos de realização em praças publicas e bairros do Crato. Com o objetivo de divulgar e preservar viva a cultura popular caririense o programa é realizado sempre nos últimos sábados de cada mês.
Durante a apresentação, enquanto o publico assiste as atrações artísticas, são servidas comidas típicas da região como, mancunzá, aluá com bolo,raparola e a nossa deliciosa rapadura. O rapadura cultural alem de ser um espaço reservado aos artistas populares locais e regionais como , repentistas, cordelistas, poetas, escritores , cantores... o programa presta homenagem com entrega de medalhas de honra ao mérito a personalidades como o ex-deputado estadual e ex-secretário de saúde do Ceará, Dr. Humberto Macário de Brito á pessoas mais simples da sociedade como Chica da Mãozinha.
O programa não tem roteiro definido, ele é apresentado de improviso e na improvisação está o lado irreverente, conta seu idealizador e apresentador o professor e radialista Jorge Carvalho. O rapadura cultural começou em 1999 nos estúdios da radio comunitária FM São Francisco de Crato, espelhado em um programa semelhante apresentado em Iguatu pelo repentista Chico Alves, revelou Jorge Carvalho.
Temos levado o rapadura cultural para as cidades de Juazeiro onde na praça Padre Cícero um grande publico se fez presente e Iguatu, onde no mês de janeiro passado homenageamos os compositores locais Humberto Teixeira e Eleazar de Carvalho, disse o apresentador.
“Rapadura Cultural” faz homenagens a figuras do cotidiano
ResponderExcluirTexto de ANTÔNIO VICELMO
A história das cidades não é feita somente por heróis com os seus brasões, idolatrados por estudiosos oficiais. A identidade cultural e histórica de cada Município é construída, ao longo dos anos, por pessoas simples, gente do povo, sem “eira na beira”. É a história daqueles que, aparentemente, não têm histórias. São os bêbados, boêmios, doidos que, na sua irreverência, escrevem o cotidiano histórico da cidade. São casos e comportamentos pitorescos, engraçados que fazem parte do folclore.
A cidade é o lugar onde convivem pobres e ricos, velhos com jovens, mendigos e doutores, católicos e protestantes, ateus e macumbeiros, vascaínos e flamenguistas o empresário e o funcionário, o operário e o ladrão, o malandro e o otário. A origem da palavra cidadania vem do latim “civitas”, que quer dizer cidade. A palavra cidadania foi usada na Roma antiga para indicar a situação política de uma pessoa e os direitos que essa pessoa tinha ou podia exercer. Segundo Dalmo Dallari: “A cidadania expressa um conjunto de direitos que dá à pessoa a possibilidade de participar ativamente da vida e do governo de seu povo. Quem não tem cidadania está marginalizado ou excluído da vida social e da tomada de decisões, ficando numa posição de inferioridade dentro do grupo social”. Foi dentro dessa concepção que o professor Jorge Carvalho criou o Programa “Rapadura Cultural”, apresentado uma vez por mês, em praça pública. O programa é um rompimento com o convencional. O locutor leva o microfone para o meio da rua, onde o artista principal é o transeunte que fala, reclama, canta, toca, manda recado e faz propaganda do seu comércio.
Outro fato inusitado é o apoio do programa. Ao invés de tradicionais firmas do comércio, o diretor Jorge Carvalho conta com o apoio de tipos populares que se tornaram conhecidos nas cidades. Pessoas simples, sem nenhuma tradição, que perderam nomes e sobrenomes. Por trás de uma das principais bancas de revistas, localizada na Praça Siqueira Campos, estão destacados os nomes dos seguintes patrocinadores: “Zé do Carrim de Bom-Bom”, “Tonha dos Dindim”, “Zeca Franelinha”, “Judite das Pamonhas”, “Neusa das Tapioca”, “Juca Pidão”, “Lula Pipoqueiro”, “Neusa de Birro”, “Neusa do Muncunzá”, “Joaquim dos Bom-Bom”, “Chaguinha Engraxate”, “Ontõe Carroceiro” e a “Associação dos Lavado de Parabriso Ltda”.
Nascido na Rua da Grota, também conhecida como “Rabo da Gata”, Jorge Carvalho, que pertence a uma família de intelectuais do Crato, diz que traz, no íntimo, uma enorme admiração pelas figuras folclóricas da cidade. Esses tipos populares estão associados, por exemplo, aos times de futebol, cujos nomes nasceram da sabedoria popular como Rebelde, Magarefe, Coração da Grota, Onde Velóis da Batateira, Nacional de Montevidéu do Lameiro, dentre outros que geraram craques e torcedores inesquecíveis, que fizeram a alegria do povo
Jorge Carvalho cita Zé Leiteiro, Pirrol, Peba, Antônio e Luiz Pé de Pato, Sibito, Frutapão e Pangaré. Entre os tipos populares estão Ramiro Feio, Maria Caboré, Chico Viana, Cabo Toureiro, Zabé Virgínia, Canena, Chapeado Noventa, Viturino, Joaquim Patrício, Seu Quinco Rezador, Célio Silva, Moacir e Expedito Dantas, Abidoral.
“Estes sim, são os verdadeiros heróis do povo, nascidos nas pontas de ruas, identificados com a vida da cidade”, diz Jorge Carvalho, acrescentando que estes personagens fizeram e ainda fazem a nossa história nos mais diferentes aspectos, contribuindo na batalha do dia a dia para o progresso cratense.
O professor justifica que, ao resgatar estes nomes, homenageá-los e abrir espaço no programa Rapadura Cultural está corrigindo uma injustiça praticada pelos poderes constituídos da cidade. O programa acaba de instituir a medalha “Chapeado Noventa”, que será entregue a pessoas e instituições que colaboram com a cultura popular.
Joaquim Alves, conhecido por Noventa, era um chapeado “intelectual”. Não se misturava com os colegas. Quando não estava trabalhando, lia desesperadamente todos os livros, revistas e jornais que apareciam. Graças à leitura e o seu jeito matuto de ser, era um emérito contador de “causos” que entraram para o folclore regional.
O Crato é assim: sério, carrancudo, intelectual, alegre moleque, irreverente, amigo e aconchegante. “Nessa terra há lugar para todas as pessoas de boa vontade”. A frase escrita pelo prefeito Alexandre Arraes, no pé da estátua do Cristo Redentor, foi assimilada pelos cratenses. Um exemplo dessa dicotomia de vida é a vendedora de café Uilma Maria da Silva, residente na ladeira do Tamanqueiro. Com dois filhos formados, Uilma divide seu tempo entre a venda de café e chá, empurrando um carrinho nas ruas do Crato, e a sua participação no Grande Coral, da Sociedade de Cultura Artística do Crato.
Uilma faz parte de um sem número de pessoas que, no anonimato, formam a verdadeira identidade da cidade junto com Chico Soares, Pedro Cabeção, Melito, Zé Landim, Tandou, que fizeram e fazem da vida o maior espetáculo da terra, transformando a adversidade numa piada, ou zombando da própria desgraça.
(Antônio Vicelmo)
Um forte abraço ao Prof. Jorge Carvalho.
ResponderExcluirQue a Rapadura Cultural nos adoce a mente e o espírito.
Meu Caro Jorge( ARMANDO ) este é só pra lembrar mais uma vez que esta foto é de Jackson Bantim
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